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ENTREVISTA FRANÇOISE VERGÈS



            HORA DA


            IMAGINAÇÃO RADICAL





                                    Françoise Vergès, autora de Descolonizar o museu,
                                    afirma em entrevista que o que está sendo feito
                                    em grandes exposições, como a Bienal de São
                                    Paulo, não é mais suficiente, e é preciso ir além


                                    por fabio cypriano







            com decolonizar o museu – programa de desor- um estando de guerra permanente contra subalternos
            dem absoluta (Ubu, 2023), a ativista e pensadora   e indígenas”. Parece aqui que ela se refere às polêmicas
            francesa Françoise Vergès faz uma precisa análise da   do Masp em torno da mostra Histórias Brasileiras, no
            atual situação dos museus que, se por um lado buscam   ano passado, mas ela diz que não conhecia o caso. De
            novas práticas contrárias ao colonialismo que está no   fato, contudo, não há muitas diferenças entre a arro-
            próprio gene de seu surgimento, seguem usando o   gância dos museus franceses com os quais ela está
            mesmo sistema hierárquico e patriarcal de sempre. “É  acostumada e sobre os quais reflete na publicação e
            preciso ir além”, defende ela em entrevista exclusiva em   aquele da avenida Paulista.
            São Paulo, no início de outubro passado, quando veio   O livro ainda adianta outro assuntos urgentes agora,
            para o lançamento da publicação e diversas conversas   como as más condições de trabalho denunciadas por
            em vários estados do país.                      funcionários da Bienal de São Paulo: “É preciso criar
               Sob o impacto de Coreografias do Impossível, a   um lugar onde as condições de trabalho daqueles/as
            primeira Bienal de São Paulo com uma curadoria majo- que limpam, vigiam, cozinham, pesquisam, administram
            ritariamente negra, além de diversas mostras na cidade   ou produzem sejam plenamente respeitadas; onde as
            que buscam o sentido da reparação, Vergès sentencia:  hierarquias de gênero, classe, raça e religião sejam
           “Não é suficiente.”                               questionadas.”
               Como ela defende no próprio livro, “não basta expor   Leia, a seguir, algumas reflexões de Vergès após ter
            obras ‘decoloniais’ (...), diversificar o que é pendurado   visitado a Bienal de São Paulo e a Ocupação 9 de Julho,
            nas paredes, falar de preservação e conservação em   que recebe a mostra Refundação:








                                                            Livro Decolonizar o museu – Programa de desordem absoluta,
                                                            da autora Françoise Vergès, publicado pela Ubu Editora em 2023

                                                                                                                  FOTO: ANTHONY FRANCIN









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