Page 55 - artebrasileiros-65
P. 55
muda-se para a capital paulista e mais tarde assume Pedrosa comenta que os interessados se inscre-
a cocuradoria da 27ª Bienal de São Paulo, 2006, com vem neste segmento para obter o selo de participação
a crítica Lisette Lagnado. Cinco anos depois torna-se dentro da Bienal. Das muitas propostas recebidas,
o curador da Bienal de Istambul, quando pesquisa ele escolheu 30. Um dos projetos inscritos era de um
o mundo árabe. Como ele comenta, passa a circular museu da Palestina nos Estados Unidos, e que não foi
internacionalmente, escrevendo para revistas como selecionado. Porém, havia uma outra obra proposta,
Frieze e Artforum. Em meio a tantos convites, em 2005 também da Palestina, que foi aceita. “O projeto recusado
assume a curadoria da mostra Insite, em San Diego (eua) veio à tona na internet falando que tinha havido um
e no Centro Cultural de Tijuana (Cecut, México). Em boicote aos artistas palestinos, mas eles não sabiam
2014 vem o convite que o animou de fato, ser o diretor que o outro tinha sido selecionado. Em geral a lista
artístico do Museu de Arte de São Paulo (Masp). dos eventos é divulgada um mês antes da Bienal abrir,
Pedrosa assimila o sistema de arte com um sentido seria em março, mas desta vez foi publicada em outubro.
criativo, às vezes usando o “enquadramento” de outras Há ali um projeto chamado Anchor in the Lanscape,
exposições, como ele diz. Agora, na 60ª Bienal de Vene- organizado por Artists and Allies of Hebron. Hebron é
za ele escolhe o tema Stranieri Ovunque – Foreigners uma cidade na Cisjordânia, na Palestina”.
Everywhere (estrangeiros por toda parte), que faz A edição deste ano está dividida em dois grandes
alusão ao controvertido Panorama da Arte Brasileira núcleos, o Nucleo Storico, que evoca em seu título o
(mam/sp) de 2009. O evento, curado por ele, mostrava Núcleo Histórico da 24ª Bienal de São Paulo, e o Nucleo
a influência da produção brasileira em trabalhos de Contemporaneo. No primeiro, Pedrosa trabalha com
artistas estrangeiros. O título quase impronunciável, Sofia Gotti, curadora italiana que vive no Reino Unidos
Mamõyguara opá mamõ pupé, vem do tupi antigo e e na Itália. No segundo núcleo, ele conta com Aman-
quer dizer, justamente, estrangeiros por toda a parte, da Carneiro, curadora assistente no Masp. “Trabalho
e que agora reaparece na Bienal de Veneza. O tema foi também com uma designer brasileira, a Paula Tinoco,
tomado emprestado da obra do coletivo Claire Fontaine, do estúdio Campo, e a arquiteta Juliana Ziebell, ambas
que consiste em neons que exibem o mesmo texto, em fizeram muitos projetos no Masp”. De Nova York estão na
diferentes línguas. equipe Karen Marta e o Todd Bradway, “que me ajudam
Uma citação de Gramsci adverte: “O velho mundo no editorial e que também atuaram nos livros do masp.
está morrendo, um novo demora a nascer, e neste claro Há ainda muitos escritores do Sul Global, escrevendo
escuro surgem os monstros”. Pergunto a Pedrosa se textos sobre cada um dos artistas da mostra.”Os dois
as duas guerras midiáticas e genocidas atuais, que núcleos, o histórico e o contemporâneo, têm como foco
estarrecem o planeta, serão ref etidas nessa edição. quatro sujeitos/temas. O primeiro é o do estrangeiro, exi-
E, também o que se pode esperar dos artistas par- lado, refugiado, imigrante, diaspórico. “São artistas que
ticipantes para entendermos melhor o momento em migraram, viajaram, e que moraram aqui e lá. Sobretudo,
que vivemos. A resposta veio instantânea: “Ainda não artistas o Sul Global que viajaram pelo Norte e vice-versa.
estou autorizado a falar sobre o que há nesta Bienal”. Nesse sentido, não são necessariamente artistas que
No entanto, ele pode comentar o que estava circulando lidam com questões da imigração e da diáspora como
na internet sobre a presença de palestinos no evento. tema, pois às vezes têm até um trabalho mais formal.”
“A Bienal de Veneza é dividida em três grandes O segundo sujeitos/temas desdobra a ideia do
segmentos: o primeiro é o Pavilhão Central onde ocorre estranho e do estrangeiro para o queer. “Isso vem da
a International Exhibition, considerada a mostra mais minha própria vivência. Eu mesmo fui um estrangeiro
importante, da qual sou o curador. O segundo diz res- em vários momentos da minha vida, morando fora e
peito aos países que expõem nos pavilhões nacionais, viajando, eu me identifico como queer. Assim, haverá
cujas mostras são organizadas pelos próprios países. O uma presença grande de artistas queers, trans e não
terceiro são os eventos colaterais, que acontecem por binários na exposição.” O terceiro sujeitos/temas é do
toda Veneza, e eu os seleciono a partir de inscrições artista outsider, aquele artista que opera em circuitos e
de todo o mundo.” contextos diferentes do moderno, do contemporâneo
55