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muda-se para a capital paulista e mais tarde assume   Pedrosa comenta que os interessados se inscre-
            a cocuradoria da 27ª Bienal de São Paulo, 2006, com   vem neste segmento para obter o selo de participação
            a crítica Lisette Lagnado. Cinco anos depois torna-se   dentro da Bienal. Das muitas propostas recebidas,
            o curador da Bienal de Istambul, quando pesquisa   ele escolheu 30. Um dos projetos inscritos era de um
            o mundo árabe. Como ele comenta, passa a circular  museu da Palestina nos Estados Unidos, e que não foi
            internacionalmente, escrevendo para revistas como   selecionado. Porém, havia uma outra obra proposta,
            Frieze e Artforum. Em meio a tantos convites, em 2005   também da Palestina, que foi aceita. “O projeto recusado
            assume a curadoria da mostra Insite, em San Diego (eua)   veio à tona na internet falando que tinha havido um
            e no Centro Cultural de Tijuana (Cecut,  México). Em   boicote aos artistas palestinos, mas eles não sabiam
            2014 vem o convite que o animou de fato, ser o diretor  que o outro tinha sido selecionado. Em geral a lista
            artístico do Museu de Arte de São Paulo (Masp).  dos eventos é divulgada um mês antes da Bienal abrir,
               Pedrosa assimila o sistema de arte com um sentido   seria em março, mas desta vez foi publicada em outubro.
            criativo, às vezes usando o “enquadramento” de outras   Há ali um projeto chamado Anchor in the Lanscape,
            exposições, como ele diz.  Agora, na 60ª Bienal de Vene- organizado por Artists and Allies of Hebron. Hebron é
            za ele escolhe o tema Stranieri Ovunque – Foreigners   uma cidade na Cisjordânia, na Palestina”.
            Everywhere (estrangeiros por toda parte), que faz   A edição deste ano está dividida em dois grandes
            alusão ao controvertido Panorama da Arte Brasileira   núcleos, o Nucleo Storico, que evoca em seu título o
            (mam/sp) de 2009. O evento, curado por ele, mostrava   Núcleo Histórico da 24ª Bienal de São Paulo, e o Nucleo
            a influência da produção brasileira em trabalhos de   Contemporaneo. No primeiro, Pedrosa trabalha com
            artistas estrangeiros. O título quase impronunciável,  Sofia Gotti, curadora italiana que vive no Reino Unidos
            Mamõyguara opá mamõ pupé, vem do tupi antigo e   e na Itália. No segundo núcleo, ele conta com Aman-
            quer dizer, justamente, estrangeiros por toda a parte,  da Carneiro, curadora assistente no Masp. “Trabalho
            e que agora reaparece na Bienal de Veneza. O tema foi   também com uma designer brasileira, a Paula Tinoco,
            tomado emprestado da obra do coletivo Claire Fontaine,  do estúdio Campo, e a arquiteta Juliana Ziebell, ambas
            que consiste em neons que exibem o mesmo texto, em   fizeram muitos projetos no Masp”. De Nova York estão na
            diferentes línguas.                              equipe Karen Marta e o Todd Bradway, “que me ajudam
               Uma citação de Gramsci adverte: “O velho mundo  no editorial e que também atuaram nos livros do masp.
            está morrendo, um novo demora a nascer, e neste claro  Há ainda muitos escritores do Sul Global, escrevendo
            escuro surgem os monstros”. Pergunto a Pedrosa se   textos sobre cada um dos artistas da mostra.”Os dois
            as duas guerras midiáticas e genocidas atuais, que  núcleos, o histórico e o contemporâneo, têm como foco
            estarrecem o planeta, serão ref etidas nessa edição.  quatro sujeitos/temas. O primeiro é o do estrangeiro, exi-
            E, também o que se pode esperar dos artistas par-  lado, refugiado, imigrante, diaspórico. “São artistas que
            ticipantes para entendermos melhor o momento em  migraram, viajaram, e que moraram aqui e lá. Sobretudo,
            que vivemos.  A resposta veio instantânea: “Ainda não   artistas o Sul Global que viajaram pelo Norte e vice-versa.
            estou autorizado a falar sobre o que há nesta Bienal”.  Nesse sentido, não são necessariamente artistas que
            No entanto, ele pode comentar o que estava circulando   lidam com questões da imigração e da diáspora como
            na internet sobre a presença de palestinos no evento.  tema, pois às vezes têm até um trabalho mais formal.”
               “A Bienal de Veneza é dividida em três grandes   O segundo sujeitos/temas desdobra a ideia do
            segmentos: o primeiro é o Pavilhão Central onde ocorre   estranho e do estrangeiro para o queer. “Isso vem da
            a International Exhibition, considerada a mostra mais  minha própria vivência. Eu mesmo fui um estrangeiro
            importante, da qual sou o curador. O segundo diz res-  em vários momentos da minha vida, morando fora e
            peito aos países que expõem nos pavilhões nacionais,  viajando, eu me identifico como queer. Assim, haverá
            cujas mostras são organizadas pelos próprios países. O  uma presença grande de artistas queers, trans e não
            terceiro são os eventos colaterais, que acontecem por  binários na exposição.” O terceiro sujeitos/temas é do
            toda Veneza, e eu os seleciono a partir de inscrições  artista outsider, aquele artista que opera em circuitos e
            de todo o mundo.”                                contextos diferentes do moderno, do contemporâneo

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