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BIENAL DAS AMAZÔNIAS ENTREVISTA
me esconder em algum lugar que não pudesse ser geração bem anterior à minha, a Teresa Aragão,
visto, indo de casa em casa. Fiquei uma temporada que era mulher dele, ligada à questão de teatro,
escondido numa numa pensão da zona de mere- uma produtora muito ativa. Todos nós continuamos
trício aqui de Belém porque, digamos assim, não sendo e perseguidos em função disso. Para poder
seria procurado lá. E depois eu fui para essas ilhas. participar dessa coordenação eu precisava estar
Fiquei um tempo lá, até que eu não suportei aquele estudando na Faculdade Nacional de Direito.
isolamento, aquela angústia, ouvindo as notícias de Quando eu voltei para Belém para continuar no
rádio que vinham de Belém, do Brasil. Decidi voltar quinto ano de Direito, para poder me formar, estou
porque eu estava no quinto ano de Direito e iria colar falando de 1964, eu já trouxe a minha transferência
grau e eu não queria perder o curso. assinada pelo ministro de Educação da época.
Então eu voltei. Enfim, para simplificar, voltei para Estou colocando essas duas situações para que FOTOS: NAILANA THIELY/ACERVO BIENAL DAS AMAZÔNIAS | PATRICIA ROUSSEAUX
Belém. Fui preso. E depois fui para o Rio. Lá foi barra você perceba, primeiro, minha vinculação com a cultu-
pesada, porque participava da União Nacional dos ra ribeirinha, e, depois, a minha vinculação, através da
Estudantes e eu tinha uma presença muito, muito pró- vida acadêmica como estudante, com os movimentos
xima no cpc, no Centro Popular de Cultura, onde íamos de renovação do Brasil nessa época, que me deixa-
criar um programa nacional de valorização da escuta, ram sempre esse desejo, essa inquietação por uma
da cultura, das artes, das diferentes regiões do Brasil. sociedade igualitária, uma sociedade democrática,
Éramos uma comissão de cinco coordenadores. uma sociedade que tivesse uma universidade que
Entre outros, Ferreira Gullar, que era poeta de uma fosse aberta cada vez mais para as pessoas. Tanto
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