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BIENAL DAS AMAZÔNIAS MUSEU EMÍLIO GOELDI






                                  Instituição paraense guarda uma das maiores
                                  e mais antigas coleções de arqueologia
                                  amazônica do Brasil e do planeta

                                  por patricia rousseaux



            MUNDO (QUASE)


            MÁGICO













            na ocasião da visita à Bienal das Amazônias, no   para ser ocupada, um lugar para ser colonizado. Sob
            mês de novembro de 2023, em Belém de Pará, tivemos   o argumento de que aqui a floresta não daria conta de
            a oportunidade de adentrar-nos num mundo quase   sustentar, do ponto de vista de proteína de alimenta-
            mágico, construído pelo trabalho de equipes dedicadas   ção, grandes civilizações como as dos incas, ou as da
            à pesquisa e conservação de uma parte substancial da  América Central, por exemplo. Do ponto de vista da
            história do Brasil, não apenas sustentada em documen- antropologia e da arqueologia, as comunidades, os
            tação, como por centenas de vestígios coletados por  povos indígenas dos anos 1940, 1950 e 1960, quando
            especialistas arqueólogos – escavadores, que revelaram   começaram a ser melhor documentados, estavam num
            uma riqueza milenar.                            dos momentos mais críticos da história, com muitas
               O Museu Paraense Emílio Goeldi é uma instituição de   epidemias, violência colonial e pós-colonial. Nesse
            pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia,  momento as comunidades estavam minguando.
            Inovações e Comunicações do Brasil. Está localizado   O certo é que a floresta, tal como a conhecemos, a
            na cidade de Belém, Estado do Pará, região amazônica.  biodiversidade é fruto das ocupações humanas, fruto
            Desde sua fundação, em 1866, suas atividades concen- da sociobiodiversidade, das interações entre essas
            tram-se no estudo científico dos sistemas naturais e   comunidades, esses povos e a floresta. As terras pretas,
            socioculturais da Amazônia, bem como na divulgação   a Terra Preta de Índio é um solo extremamente fértil,
            de conhecimentos e acervos relacionados à região.  procurado até hoje em dia para agricultura, para roça.
              A instituição guarda uma das maiores e mais anti-  São resultados de produção intencional. E isso foi
            gas coleções de arqueologia amazônica do Brasil e do   um processo de gerações e gerações. São 13 mil anos
            mundo e já emprestou várias peças fundamentais para   de história de povos e floresta e rio. A gente tem na
            museus internacionais, como o Museu Britânico de  Amazônia as cerâmicas mais antigas das Américas,
            Arqueologia ou o Museu Etnográfico de Berlim.    que estão na região de Santarém, que são cerâmi-
              Ao nos receber, a Dra. Helena Pinto Lima – arqueó- cas de capelinha, no Sambaqui, inclusive. Estudamos
            loga, pesquisadora titular do museu, onde atua também   hoje uma história de inovação cultural, de tecnologias,
            como curadora da coleção arqueológica e professora   criação de tecnologia, de manejo de floresta, manejo
            do programa de pós-graduação em Diversidade Socio- de engenharia de terra, construção de textos etc. As
            cultural – contextualiza para nós os desafios e objetivos   evidências de diferentes partes da Amazônia revelam
            do Emílio Goeldi:                               tecnologias sofisticadas de transformação da natureza.   FOTO: PATRICIA ROUSSEAUX
              “Em meados dos anos 1950, 1960, construiu-se a   Com nossas pesquisas hoje, temos o trabalho, a tarefa
            ideia de que a Amazônia é vazia, uma floresta pronta   de desmontar, de recriar e recontar essa história.”

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