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Uyra, artista simula a extinção dos rios pela crise climática por meio de vidros espelhados
que quando estourou aqui a ditadura em Belém nós Na Amazônia o imaginário é um fato social, algo
estávamos realizando o primeiro Congresso Latino- compartilhado nas ruas e na convivência das pessoas.
-americano de Reforma Universitária. Tinha gente de
Cuba, do Chile, gente da Argentina. – Isso tende a ser divulgado apenas como
uma questão indígena...
– Vamos voltar a essa forte presença da Sim, mas é ribeirinha, indígena e rural, mas de maior
infância... intensidade a ribeirinha. Até porque costuma se fazer
Sim, toda essa origem ribeirinha serviu para mim referência aqui a essa cultura, digamos assim, nascida
como uma forma de incorporar aquele tipo de com- na Amazônia, como sendo folclore, inclusive no mau
portamento do homem face à realidade. Primeiro, sentido. Folclore no sentido de diminuição de impor-
o respeito e o diálogo com a natureza. Depois, a tância cultural, científica. E isso é uma falácia. Nós não
vivência de uma forma de sabedoria, de experiências temos folclore no Brasil. O que foi catalogado como
dos canoeiros, dos plantadores e das pessoas que folclore brasileiro é o folclore trazido pelo colonizador,
enfim, conviviam com o rio de uma forma quase que foi incorporado e, digamos, se superpôs à cultura
existencial. Hoje menos, mas na Amazônia profunda, que já havia aqui. À cultura indígena, sobretudo. Foi
na Amazônia mais distante de Belém e Santarém, mais uma forma de dominação cultural e religiosa.
ainda preside muito uma relação com o imaginário Mas o folclore, na verdade, no sentido meio cientí-
através da mitologia, através das lendas e através fico e linguístico da palavra, nós não temos, o que
de uma forma de compreensão do mundo mesmo. nós temos é cultura popular. Pena que, quando se
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