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SEMINÁRIO ARTIGO
Na pág. ao lado, A última trincheira [retrato
de Rugendas], Nicolas Soares, 2020.
Abaixo, Antianatomia, Luciano Feijão, 2020
artistas negras/negros e indígenas, quer corresponder
imagem x imaginário, e ainda determina quais e como
imagens são (re)produzidas e consumidas, além de quais
e como artistas devem produzir. A tomada de posição
que artistas negras/negros e indígenas manobram no
sistema da arte hoje, deve sempre se opor à necessi-
dade institucional de responder a uma iconografia que
ainda exotiza corpos, modos de viver, espiritualidades
e costumes por uma conduta do bom selvagem e do
nós aqui por eles lá.
A alforria da imagem deveria escapar em direção a
uma mobilização iconoclasta . Menos a ilustração de
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cânones em seu caráter estereotipado, e sim, a supres-
são da imagem salvadora que extermina determinados
sujeitos. A Representação já esteve em questão ao
decorrer de uma História da Arte Ocidental, e sua ani-
quilação já foi meta a favor de uma arte pura, técnica
e livre da narrativa iconográfica. O concretismo, como
movimento artístico, reforçou as formas, os planos, as
cores, os materiais, a espacialidade, e, principalmente
a não-subjetividade da arte como arte-mesmo. Nada
dar-se a ver mais. A objetividade do quadrado preto
sobre fundo branco, porém, escondia o requinte da
representação em seu desempenho narrativo. Ainda
era figura, ainda em sentido devocional à imagem.
A reelaboração da narrativa de si parte da concretude
em que sujeitos racializados por este regime das imagens
elaboram sua existência. É CONCRETA a segregação,
como é CONCRETA a não-possibilidade de subjetivação,
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