Page 19 - ARTE!Brasileiros #60
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Jaime Lauriano, Independência e Morte, 2022, exposta no 37° Panorama da Arte Brasileira do MAM São Paulo





            o racismo estrutural e as práticas que ele entroniza, do   Na opinião do artista, porém, isso envolveria uma
            que falamos quando falamos de arte afro-brasileira?”. No   reformulação do próprio ambiente cultural e artísti-
 FOTOS: COIL LOPES | ESTÚDIO EM OBRA / CORTESIA DO MAM SP E DOS ARTISTAS
            mesmo texto, ele sugere que falemos “da necessidade de   co.  “É preciso criar um léxico qualquer e uma ética
            construção de um novo desenho de história, inclusive de   também para lidar com essa realidade incontornável,
            arte, que na sua constituição se alicerce no antirracismo   dessa emergência de uma produção intelectual e
            e imponha um debate sobre a branquitude”.        simbólica periférica”. Faz a proposta ao lembrar da
               No Vii Seminário Internacional, Silva reafirmou: “A  constante criminalização dos movimentos popula-
            ideia que nós temos de democracia não pode prescindir  res: “É preciso admitir que o nosso capitalismo é
            de cultura e não pode prescindir de reparação. Em espe- um capitalismo de senzala, que ainda não qualifica
            cial em um país que como o nosso tem uma história de   os seus consumidores, que não quer que as popu-
            violência e de exclusão”, pontuou Silva. Nesse sentido,  lações periféricas frequentem os shoppings, é um
            o curador extrapola a ideia discursiva para destacar a   capitalismo que interdita o rolezinho, que criminaliza
            importância de ações práticas e de um direcionamento   os movimentos populares.”
            das políticas de nosso país: “A defesa da nossa incipiente   Para o curador, no entanto, longe de favorecer a
            democracia passa obrigatoriamente pela defesa das   reparação, o momento sociopolítico atual traz preocu-
            instituições de cultura, ensino e arte”. Na sequência,  pação, a exemplo das frequentes trocas no Ministério
            retomou Mário de Andrade: “A cultura é mais importante   da Educação nos últimos quatro anos: “Vivemos um
            que o pão, porque sem a cultura sequer fazemos o pão”.  ataque tremendo”.

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