Page 88 - ARTE!Brasileiros #56
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PRÊMIO PIPA



                      Caçadores de Ficções Coloniais,
                              Denilson Baniwa, 2021



















            ameniza um pouco a competitividade que
            assola a sociedade capitalista e neolibe-
            ral como um todo e o meio artístico em
            específico”, compartilha Ilê Sartuzi sobre
            o prêmio geral. O artista porém, acredita
            que a categoria ligada ao voto popu-
            lar caminha na direção oposta. “Se por
            um lado poderia, idealmente, selecionar
            uma produção completamente diferente
            do aval do conselho de premiação, por
            outro, reitera a selvageria competitiva
            somado à promoção da autoimagem
            e a propaganda gratuita e massiva do
            prêmio.” Para Denilson Baniwa, a escolha
            por mais de um vencedor também soa
            necessária neste momento do Brasil.
           “Me sinto desconfortável em estar em
            uma disputa de território num lugar que
            já é super violento e desleal como a arte.
            Então, acho legal uma escolha na qual
            cabem mais corpos, e que ainda assim
            tem uma visão do júri.”


            os venCeDores Do prÊmio 2021                    Denilson é considerado um dos expoentes da arte
            Esse crivo do júri tem um peso especial para o amazo- indígena contemporânea. Em seus trabalhos, envolve
            nense que há dois anos vencia o pipa Online e agora é   questões ambientais e de luta dos povos originários, ao
            um dos selecionados ao prêmio geral. Se a vitória em   que explora uma poética indígena ancestral e futurista.
            2019 permitiu que mais pessoas entrassem em con- Nos últimos anos, percebe uma alteração no cenário
            tato com a obra de Denilson Baniwa e que ele tivesse   artístico e em sua relação com o mesmo. “Acho que [em
            outro olhar para seu trabalho - levando-o mais a sério e   2019] eu estava bem mais exposto a quebrar a fecha-
            gerando uma evolução dos pontos de vista conceitual e   dura da porta a chutes para mostrar meu trabalho e ver
            formal -, o anúncio deste ano traz outros ecos pessoais   meus amigos e parentes indígenas junto. O Denilson de
            e profissionais. “Um grupo de pessoas especializadas   agora encontrou uma chave que abre algumas portas e
            em artes disse que meu trabalho tem uma coisa boa, e   consegue trazer bem mais gente.” Em suas pesquisas
            isso era algo que eu me cobrava bastante: o que será   mais recentes, tem se debruçado sobre os desloca-
            que os críticos e curadores pensam do meu trabalho?”.  mentos forçados que amputam a memória de várias
            Artista-jaguar e antropófago, como define a si mesmo,  pessoas indígenas no Brasil, tratando dos processo

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