Page 90 - ARTE!Brasileiros #56
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PRÊMIO PIPA














































            Quarto de Cura, instalação de Castiel Vitorino Brasileiro na mostra da 3ª edição de Frestas - Trienal de Artes




            sustentado nos dias de hoje, explica em vídeo gravado   artística específica, em seus últimos trabalhos opta por
            para o pipa. Se, em sua visão, o cristianismo atua como   experiências instalativas. “A minha produção artística
            braço missionário de implantação das dinâmicas colo- tem precisado ser uma experiência de incorporação,
            niais, em sua prática pessoal e artística Ventura profetiza   onde compreendo o meu corpo negro, testiculado e
            a abundante vida negra, indígena e travesti, buscando   feminino como um local de memória e utilizo dessa
            estratégias de cura. O faz através de colagens, música,  organicidade para produzir aquilo que venho chamando
            instalações, performances e textos. “Sempre tento tra- de liberdades perecíveis - que são experiências tanto
            zer uma mensagem de vida para corpos e sujeitos que   no meu território existencial, em forma de cura, mas
            têm isso negado - seja pelo governo, seja pelo sistema,  também experiências de reterritorialização dessas

            seja pelas implicações desse colonialismo”, completa.  geografias que eu coabito”, declara.
               Castiel Vitorino Brasileiro também busca a libertação   É abordando a ausência do corpo ou a sua imagem
            dos gestos coloniais, ao mostrar que algumas mitolo- idealizada - muitas vezes fragmentado ou construído
            gias construídas para pessoas racializadas e travestis   a partir de diferentes partes - que Ilê Sartuzi constrói
            não passam de falácias. “O que faço são convites e   suas obras, frequentemente permeadas pelo uso de
            lembretes de que nós podemos viver outra história que   tecnologias não convencionais. A imagem idealizada vem
            não essa racial e de gênero”, explica em vídeo gravado   principalmente da presença significativa de manequins
            ao pipa. Artista visual, escritora e psicóloga, Castiel   em sua produção, muitas vezes montados de formas
            constrói suas produções a partir dos diálogos entre   improváveis. “Esse corpo montável e reproduzível inde-
            saberes da arte, macumbaria, psicologia, feitiçaria,  finidamente dá lugar – material e conceitualmente – à
            curandeirismo e “o que julgar ser necessário para pro- uma construção em partes modulares. Sendo essa uma
            duzir sobrevivência”. Não se definindo em uma técnica   condição da fabricação em massa desses corpos, me

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