Page 92 - ARTE!Brasileiros #56
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REPORTAGEM MEMES E ARTE
Perfis anônimos de memes no Instagram -
como @freeze_magazine, @jerrygogosian
e @newmemeseum - arriscam críticas sagazes
ao mundo da arte, suas peculiaridades e o
flerte com modelos de negócios insustentáveis
por miguel groisman
BASTARDOS INGLÓRIOS
Desvinculando-se de sua
origem, e de volta ao “futuro”, o
meme como compreendemos
começa a aparecer na década de
2000 e alastra-se com o comparti-
lhamento via redes sociais. Longe
de estarem restritos à cultura pop,
os memes foram enraizados para
outros campos, como a política, e
vão sendo operados aos poucos
pela publicidade.
Sem aprisioná-los em uma
definição categórica, Beiguelman
aponta para a sua composição
frequente: “Apresentam um for-
mato em que o texto não funciona
como complemento explicativo
da imagem nem a imagem ilustra
o texto, mas os dois elementos
encadeiam-se para produzir um
terceiro sentido”. No Instagram,
em específico, acrescenta-se ain-
da um terceiro elemento visual
“Star Trek Memes Untamed”, @freeze_magazine: “Vou escrever sobre memes”/”Mas
você não vai simplesmente jogar o nome do Richard Dawkins, certo?”/”Não, né?” localizado num certo “entre” - nem
completamente dentro ou fora da
postagem - que é a localização da
foto. “De baixa resolução, bastardos IMAGENS: CORTESIA @FREEZE_MAGAZINE | CORTESIA DOS CRIADORES DO @NEWMEMESEUM
em ocupar os memes é preciso, a pesquisadora e sem assinatura, são imagens pobres, no sentido dado
Giselle Beiguelman retoma a origem da palavra, tra- pela artista e ensaísta alemã Hito Steyerl à expressão,
çando-a para um tempo anterior à internet. O nome que podem atuar como um contraponto aos sistemas
que utilizamos hoje foi cunhado pelo biólogo inglês de representação dominantes”, ela adiciona. O perfil
Richard Dawkins, em 1976, no livro O gene egoísta. Na brasileiro New Memeseum vai ao encontro disso quando
teoria de Dawkins, como resume Beiguelman, “o meme indica que os memes possivelmente ajudam a formular
é uma unidade replicadora que se alastra por imitação, narrativas diferentes das hegemônicas. “Quem sabe,
sempre sujeito à mutação e à mistura, e que funciona matizá-las... mostrar seus desdobramentos, contra-
como resistência crítica”. dições e oposições”. Para eles - cujas identidades são
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