Page 18 - ARTE!Brasileiros #56
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CRÍTICA 34ª BIENAL DE SÃO PAULO
“BIENAL DA ESPERANÇA”
ROMANTIZA CATÁSTROFES
Faz escuro mas eu canto, no Parque Ibirapuera,
traz conjuntos significativos e estetizantes
de artistas brasileiros, mas deixa para o passado
atividades de transgressão
por fabio CYpriano
Faz escuro mas eu canto, a 34ª meritocracia: “Porque soube bordados chega a ser perverso.
Bienal de São Paulo é, sem dúvida, transformar-se”. Ora, e todos Nessa altura, é incontornável
uma “Bienal da Esperança”, como os demais tesouros que viraram a questão de o que levou o time
prometeu a direção da instituição. pó porque não eram rochas? de curadores, composto por
Muitas são as obras que buscam Assim, o que se percebe logo Jacopo Crivelli Visconti (geral),
apontar para um caráter de de início é que se trata de uma Paulo Miyada (adjunto) e os
superação, de transformação mostra sobre uma capacidade convidados Carla Zaccagnini,
pelo sofrimento, como em um de resistência baseada mais em Francesco Stocchi e Ruth Estévez
dos primeiros conjuntos da mostra, ações individualistas do que a selecionarem exemplos de ações
um display que exibe uma rocha coletivas, em atos isolados de resistência em tempos
queimada junto com todo o edifício do que comunitários. longínquos, quando se está diante
do Museu Nacional, em 2018, Outros exemplos na mesma da maior crise sanitária dos
e que, por conta do calor, passou linha são os instigantes retratos últimos 100 anos, que abalou
de ametista, uma variedade de de Frederick Douglass (1818-1895), a atividade artística de forma
quartzo de cor violeta, para citrino, abolicionista negro catastrófica, combinada à crise
de cor amarelada. “Continua estadunidense, e principalmente política sem precedentes no Brasil,
sendo a mesma rocha porque do “Almirante Negro”, líder da que praticamente inviabilizou as
soube transformar-se”, Revolta da Chibata, João Candido leis de apoio à cultura. Vive-se
explica didaticamente (1880-1969). Preso em 1910, na a política da terra arrasada
o texto próximo à vitrine. masmorra da Ilha das Cobras, no cultural, mas a bienal canta.
Essa visão de uma resistência, Rio de Janeiro, ele participa da Praticamente não há referência
que já está afinal no péssimo título “Bienal da Esperança” com dois ao presente, sendo que, prevista FOTOS: LEVI FANAN/ BIENAL DE SÃO PAULO | HELIO CAMPOS MELLO
da Bienal, um trecho do poema de bordados lá realizados, enquanto para ser realizada no ano passado,
Thiago de Mello, de 1965, quando 16 companheiros de cela a exposição agora em cartaz
se associar o negro a algo negativo morreram asfixiados. Solto ignora as urgências de quem
não era uma liberdade poética em dois anos depois, foi expulso resiste de fato. Talvez esteja na
questão como se atenta hoje, acaba da Marinha e teve uma vida própria boa vontade em querer
reforçando ao final uma visão de de privações. Romantizar esses dar algum tipo de esperança que
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