Page 14 - ARTE!Brasileiros #56
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BIENAIS BIENAL DE SÃO PAULO
jovem artista brasileiro, teve seu trabalho inter- único país latino-americano a conseguir essa façanha
ditado pela polícia por usar a bandeira nacional. foi a Argentina em 1977, com o Grupo de los Trece,
O pop brasileiro também mostrou sua dimensão liderado por Jorge Glusberg, idealizador do cayC
com obras críticas ao sistema, como as de Claudio (Centro de Arte y Comunicación), de Buenos Aires.
Tozzi, Antonio Henrique Amaral, Rubens Gerchman
e Nelson Leirner. Citando Michel Foucault, “o poder reDemoCratização
é produtor antes de repressor; produz maneiras de Na década de 1980, com o início da abertura política,
viver e produz realidades”. os países que assinaram o boicote retornam à Bienal.
Dois anos depois a Bienal sofre um boicote interna- As galerias se multiplicam e o trânsito da comunidade
cional decorrente da intervenção militar na exposição artística internacional se intensifica, não mais apenas
do Museu de Arte Moderna do Rio, que exibia as obras centrado no período do evento, mas durante todo o
que iriam para a 6ª Bienal de Paris; algumas foram ano. Walter Zanini assume a edição de 1981 dando
consideradas ofensivas ao regime. Mario Pedrosa ênfase ao experimental e cria zonas de interrogações,
é exilado no Chile em 1971 e provoca uma carta de sem se preocupar com as certezas. Tal como Harald
repúdio assinada por dezenas de personalidades, Szeemann - curador da Documenta de Kassel em
como Octavio Paz e Pablo Picasso. Contrariando as 1972, que muda toda a estrutura da mostra alemã e
expectativas, o crítico Mário Schenberg, militante da a coloca no topo das grandes exposições interna-
esquerda, não boicotou a Bienal. Para ele, permanecer cionais -, Zanini também muda o conceito da Bienal
era uma forma de resistência, de garantir o lugar de de São Paulo, trocando a montagem por países pela
protesto. Convicto de sua posição, organiza uma sala analogia de linguagem. O curador levou o evento para
com jovens artistas, entre eles José Roberto Aguilar, uma relação direta com o novo, expôs a arte postal,
Carmela Gross, Ione Saldanha, Claudio Tozzi e João o vídeo texto, mostrou a antiarte do grupo Fluxus,
Câmara. A Bienal amargava um momento triste ao abriu para as performances da dupla inglesa Gilbert
ver esgarçado o maior projeto de arte que o país já & George e proporcionou uma profunda análise sobre
teve. E por que o Brasil jamais recebeu o Grande a Arte Incomum com a participação de psicanalistas
Prêmio (Itamaraty) da Bienal de São Paulo? Nunca e estudiosos sobre a produção dos portadores de
houve explicação convincente. O que se sabe é que o doenças mentais.
Vista da 23ª Bienal de
São Paulo, 1996
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