Page 11 - ARTE!Brasileiros #56
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Em 1954 São Paulo se preparava para a festa de seu está até hoje. O prazer de estar nas multidões, segundo
o quarto centenário quando Ciccillo surpreende a todos Walter Benjamin, “é uma expressão misteriosa do prazer
ao trazer para a segunda edição a Guernica e mais 65 sensual da multiplicação do número. O numeroso está
obras de Picasso, com curadoria do artista espanhol em tudo”. Os jornais noticiavam que o evento atraia
realizada diretamente de Paris. Os locais determinados centenas de pessoas para admirar o prédio transpa-
para mostrar arte, a partir de então se expandem com a rente com as belas curvas arquitetônicas de Niemeyer
mobilidade da vida. Na segunda edição, a Bienal ganhou e obras de arte ininteligíveis. Uma delas era a pintura de
lugar definitivo no complexo do Parque do Ibirapuera, Jackson Pollock que chegou à Bienal um ano após sua
projetado por Oscar Niemeyer. Além da retrospectiva morte. Os trabalhos de Tapiès e Josef Albers provocam
de Picasso, exibiu o futurismo italiano, o cubismo, os intercâmbio silencioso com as obras de Frans Krajcberg,
geométricos argentinos e as salas de Mondrian, Paul Lygia Clark e Hélio Oiticica. Essa edição foi marcada
Klee e Edvard Munch. Uma aula sobre a excepcionali- pelo corte de 84% dos artistas inscritos e causou a fúria
dade da arte do século 20. de muitos deles, como Flávio de Carvalho - uma das
A criação da Bienal estava relacionada às mudan- figuras mais polêmicas da arte brasileira, personalidade
ças político-econômicas da cidade de São Paulo e às dionisíaca e nietzschiana - que se dirigindo a Ciccillo
estratégias culturais da elite local para transformá-la denunciou: ”Você influencia o júri e ele elege quem o
em pista de pouso das vanguardas internacionais. A mam quer. O que acabam de fazer foi um crime contra
arte começa a mudar rapidamente e, com o tempo, a arte brasileira. Antes, malandro era só o júri, agora é
elas se agigantam e ganham peso. Já em sua 4ª edição, o museu também”.
de 1957, a Bienal teve que ser transferida para o antigo O ano de 1961 constitui-se num marco na história da
pavilhão das Indústrias, também no Ibirapuera, onde Fundação Bienal, que se desvincula do Museu de Arte
GUERNICA, DE PICASSO
Guernica, de Pablo Picasso, foi exposta da 2ª Bienal de São Paulo, em 1954, com mais 65 obras do artista. Hoje ela se encontra no
Museu Reina Sofia, protegida por vidro a prova de bala, detector de metais. No Ibirapuera chegou num dia de chuva, em cima de
um caminhão de madeira, dentro de um tubo de metal com uma lona por cima
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