Page 23 - ARTE!Brasileiros #54
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O VIRTUAL NA PANDEMIA ALFREDO JAAR
A importância
do contexto
Em live no Festival ZUM, no final do
ano passado, o artista chileno Alfredo
Jaar tratou da política da imagem Alfredo Jaar (abaixo na
imagem) conversou com
por Fabio Cypriano
Thyago Nogueira na live
DesDe que vi a perFormanCe De alFreDo Jaar O segundo trecho é a constatação de que “o mundo
na Trienal de San Juan, em 2015, e no ano seguinte no da arte é o único que tem ainda um espaço de liberdade”,
Seminário Internacional da arte!brasileiros, em São algo muito semelhante ao que defendeu Grada Kilomba
Paulo, sempre busco acompanhar as sensacionais falas há dois anos, na Pinacoteca do Estado, quando contou
do artista chileno. Em 2020, como as lives substituíram porque preferiu deixar a carreira acadêmica para seguir
boa parte dos eventos presenciais, Jaar participou do a produção artística. De fato, não por acaso, artistas vêm
Festival ZUM, por ocasião do lançamento da 19ª edição, sendo perseguidos de forma veemente pelos governos
em uma fala notável. Alguns destes eventos continuaram de extrema direita, como o que se instalou por aqui.
disponíveis online. Finalmente, o terceiro trecho, diretamente voltado ao
Destaco três trechos de sua fala de uma hora e tema de sua mesa, se divide em duas partes. A primeira
meia que considero muito significativos no contexto quando ele trata da banalização das cenas violentas,
atual da arte. O primeiro é quando Jaar revela como seja nas redes, seja nos veículos de comunicação: “A
se dá sua metodologia de criação, o que inclui a leitura imagem de dor se perde porque é descontextualizada
diária de jornais de diversos países, já que ele se exilou em um mar de consumo”. E isso se completa com: “E a
no Estados Unidos nos anos 1970 e lá reside até hoje: falta de contexto se junta à falta de uma alfabetização
“Eu só posso me dedicar a falar do mundo se conseguir visual”. Aí para mim se sintetiza um dos dramas cruciais
compreendê-lo”. do momento atual, isto é, a necessidade urgente de
Pode parecer uma frase óbvia, mas são poucos os fazer com que fatos ou imagens sejam vistos de forma
artistas que dão conta de transformar questões diárias ampla, em toda complexidade que estão imbricados e
do cotidiano, seja individual seja coletivo, em trabalhos não apenas na superfície.
artísticos potentes como os que ele apresenta ao longo
da fala, naquilo que Hal Foster chama de “brilho utópico A política da imagem – Alfredo Jaar – Festival ZUM
da ficção”, parafraseando Ben Lerner. 2020 https://youtu.be/NYAFmt1ehpU
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