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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO








            A FORÇA DA




            EMPATIA








                            Imagens feitas por Madalena Schwartz da cena
                            trans paulistana dos anos 1970 revela cumplicidade
                            da fotógrafa com pessoas à frente de sua câmera


                            por Fabio Cypriano



           “eu sempre tive Família,                               noite, Schwartz (1921–1993)
            eu cresci protegida pelas                             era uma senhora marcada
            minhas avós”, contou no                               por um perfil recatado.
            programa Roda Vida a                                     Nascida na Hungria,
            vereadora trans por São                               migrou aos 12 anos para a
            Paulo, Erika Hilton, em feve-                         Argentina. Nos anos 1960,
            reiro passado. “Nunca tive                            com o marido e dois filhos,
            problemas com minha iden-                             foi viver em São Paulo, onde
            tidade, em ser uma criança                            a família administrava uma
            viada”, enfatizou em sua fala                         lavanderia no centro da
            cheia de críticas certeiras                           cidade. Quase aos 50 anos,
            à chamada “ideologia de                               quando seu filho ganhou
            gênero”. Essa noção de                                uma câmera fotográfica, ela
            família ampliada e acolhe-                            passou a frequentar o Foto
            dora foi tematizada pela                              Cine Clube Bandeirante, o
            fotógrafa Madalena Sch-  Madalena Schwartz, c. 1969   que permitiu desenvolver
            wartz, em uma série que                               uma nova carreira, tornan-
            adianta as imagens transgressoras de Nan   do-se “a grande dama do retrato em nosso
            Goldin dos anos 1980, que a tornaram um   país”, como definiu Pedro Karp Vasquez, cita-
            ícone do submundo trans.                ção que se lê em uma das paredes da mostra.      ACERVO PEDRO LUIS SZIGETI | ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES – COLEÇÃO MADALENA SCHWARTZ
              Juntar essas três mulheres em um parágrafo   Um depoimento em vídeo de Madalena, logo
            não seria tão óbvio antes da mostra Madale- no início da exposição, confirma como amigos e
            na Schwartz: as Metamorfoses – Travestis e   familiares costumam descrevê-la: uma senhora
            transformistas na SP dos anos 1970, em cartaz   tímida e elegante, sempre com roupas clássicas.
            até junho no Instituto Moreira Salles, mas é   Sua discrição, no entanto, não foi empecilho
            impossível não perceber como todas defendem   para seu reconhecimento. Fotografou para
            uma humanização do universo trans. A surpresa   revistas importantes no mundo todo e, em 1974,
            aqui é que enquanto Goldin, bissexual assu- fez sua primeira individual no Masp, o Museu
            mida, se tornou mundialmente conhecida ao   de Arte de São Paulo, a convite de seu então
            retratar basicamente seu círculo de amizades na   diretor, o italiano Pietro Maria Bardi.

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