Page 22 - ARTE!Brasileiros #54
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O VIRTUAL NA PANDEMIA INTRODUÇÃO
LIVES, UM TORMENTO
NECESSÁRIO
Em tempos de intensa atuação virtual de instituições
e profissionais da arte, selecionamos algumas
iniciativas que se destacaram neste contexto
DesDe o iníCio Da panDemia e da necessidade de exposições montadas especialmente para o universo
isolamento social, o mundo como um todo se viu obri- virtual, e as feiras precisaram se readaptar ao meio digital.
gado a criar estratégias de comunicação no universo Como era de se esperar, não demorou para surgi-
virtual, online, lançando mão de variadas ferramentas. rem críticas justamente ao modo como foi feita esta
Plataformas de reuniões, contas de Instagram, sites, migração para o virtual, especialmente ao excesso de
Facebook e newsletters implodiram as redes, tornando lives de todos os tipos. Já em abril do ano passado, a
até mais lentos os canais de rede. A maioria dos setores artista e pesquisadora Giselle Beiguelman escreveu
não estava preparada para esta reviravolta, e muito em artigo na Folha de S.Paulo: “O coronavírus res-
menos seus investimentos em equipamentos ou pro- suscitou a internet dos anos 1990. Entre videocha-
fissionais da área. madas, lives e visitas virtuais, descobrimos o que já
Na cultura, começaram a ser produzidas transmis- sabíamos - viver no universo paralelo é muito chato.
sões ao vivo de shows e espetáculos, além de debates, (…) E descobrimos outra coisa - museus, galerias de
palestras e cursos. Um dos formatos a que se recorreu de arte e instituições culturais estão na idade da pedra
forma massiva foram justamente essas lives, encontros da internet. Atropelados pela pandemia e sem con-
ao vivo transmitidos pelo Instagram ou Youtube, com teúdo artístico e cultural criado para a web, aderiram
especialistas ou comentaristas de diversas áreas. Em aos únicos campos da vida online que conhecem, as
uma noite qualquer, um usuário do Instagram entra- redes sociais, ecommerce e saídas de emergência
ria em sua conta e encontraria dezenas de ofertas de apontadas para o Google Arts & Culture”.
transmissões ocorrendo simultaneamente, tornando Ainda assim, gravações em vídeo ou entrevistas de
difícil inclusive selecionar o que valeria ou não à pena boa qualidade também se sobressaíram com o passar do
ser assistido. Para cada apresentação interessante - por tempo e atraíram milhares de visualizações e interações.
mais subjetiva que seja essa avaliação - pareciam pipo- Em entrevistas realizadas pela arte!brasileiros ao longo
car milhares de outras mal planejadas, com conteúdos do ano, diversos gestores, apesar de concordarem que
aleatórios ou mesmo com falhas técnicas (de áudio, o virtual jamais substituirá a experiência presencial,
imagem ou conexão). O importante era não ficar parado. destacaram como ponto positivo a possibilidade de
No campo das artes visuais, mais especificamente, dialogar ao vivo com pessoas de todos os cantos do
museus, instituições culturais, galerias, curadores e mundo, o que não ocorria em uma palestra na sala de
artistas promoveram centenas de apresentações, deba- um museu ou galeria. Diretores e galeristas se disse-
tes e os chamados webnários sobre os mais diversos ram também satisfeitos com a velocidade com que
temas. Além disso, intensificaram as postagens em conseguiram melhorar sua atuação virtual.
suas redes sociais, com vídeos, imagens e textos, em Dentre algumas destas lives e apresentações, nos-
um esforço para não se afastar totalmente do público sos colaboradores escolheram aqui iniciativas que
no momento em que todos - ao menos boa parte do trouxeram valor agregado e, no meio de uma situação
público de artes visuais - estavam fechados em suas tão dramática, conseguiram encontrar soluções dife-
casas. Houve também a alternativa dos viewing rooms, renciadas. Leia nas próximas páginas.
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