Page 35 - ARTE!Brasileiros #52
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Acima, a performance decolonizadora de Edgar Calel, que veste pele de onça em ritual ancestral no prédio da Bienal (SP)
dos ícones da arquitetura modernista brasileira, o pré- Deus e o Diabo
dio da Bienal, em São Paulo. Com a pele de uma onça, “Esta é uma bienal de capital sensível, de capital de
seu espírito animal segundo a tradição guatemalteca, relações”, ressaltou Agustín Pérez Rubio, ao começar
ou um suéter azul, que está exposto na daadgalerie, e sua participação. “E também o que talvez a pandemia
em que costurou os nomes de idiomas indígenas de tenha nos feito valorizá-la mais, uma ideia de cura, de
seu país, o artista fala de resistência anticolonial por curador, não somente de se sanar nada, mas acompa-
meio da reconexão com a ancestralidade. nhar, cuidar”, disse.
“Fazer esta caminhada naquele edifício de concreto, Agustín recorreu à imagem de Edgar vestido com a
sendo um indígena de ascendência maia, é uma afir- pele de onça, no prédio da Bienal, para falar de outro
mação sobre a destruição dos limites, das fronteiras recorte da mostra berlinense: o fanatismo e o deus do
CORTESIA DO ARTISTA Somos todos um. Isso, para mim, é algo fundamental, guatemalteco, uma ideia de igreja da arte contem-
impostas entre países como Brasil, Paraguai, Bolívia etc. capitalismo, da internet e, no caso da obra do artista
que devemos contribuir para este outro mundo possí- porânea, incorporada pela construção modernista.
Segundo ele, é importante abrir frestas em instituições
vel”, argumentou.
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