Page 31 - ARTE!Brasileiros #52
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não brancas e migrantes”, explica Beatriz. Ao que Diane violência não molde as nossas existências”.
complementa: “De fato, as práticas artísticas e suas Para manter essa ideia, buscaram “experimentos
expressões são ferramentas para atravessar esses curatoriais em diálogo com artistas que tem a vida e a
colapsos naturais que a gente vem vivendo”. prática diretamente conectadas com a violência colo-
Para Thiago, a compreensão desse cenário era nial, sem contribuir para a assimilação dessa práticas”,
imprescindível, como forma de construir uma prática explica o curador.
curatorial que “busca a colaboração como uma maneira
ética de imaginar o mundo de outro modo; de perguntar QuanDo o rio toma Forma De serpente
como a arte contemporânea pode nos ajudar a desen- Em sua fala, Thiago explicou que, neste segundo
volver um horizonte um pouco menos brutal em que a semestre de 2020, o trio desenvolve um programa de
estudos, a partir de encontros
com um grupo de 15 artistas.
Composto de atividades forma-
tivas, tem o objetivo de fomentar
práticas educativas radicais e, ao
mesmo tempo, incentivar políti-
cas de redistribuição e acesso à
arte. Além desse programa, estão
previstas ações online gratuitas e
abertas ao público, como cursos,
seminários, palestras, lançamen-
tos editoriais, mostras de filmes e
vídeos e um programa de forma-
ção de professores.
O resultado da Frestas é dife-
rente daquilo que se pensava no
início, pois a edição foi elabora-
da em um mundo pré-pandêmi-
co. Porém, a situação pareceu
intensificar a mensagem que a
curadoria pretendia transmitir.
“A pandemia não só revela a obs-
cenidade das estruturas raciais
e classistas do país, mas tam-
bém a obscenidade no sentido
do que o sistema da arte sempre
tentou esconder”, explica Diane.
Para ela, a situação global não
impediu, mas em certos pon-
tos até reforçou uma questão
importante desse pensamento:
O que é ser um corpo dissidente
e racializado dentro do circui-
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL to da arte contemporânea, que
sempre invisibilizou e subalter-
nizou os nossos conhecimen-
tos? E é essa questão que O rio
é a serpente pretende refletir.
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