Page 33 - ARTE!Brasileiros #52
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A RESISTÊNCIA A DISTÂNCIA
No segundo dia do seminário, equipe curatorial
e artistas da 11ª Bienal de Berlim, evento que
ganhou um peso ainda mais contundente com
a pandemia, falaram de seus trabalhos e do desafio
de manter a resiliência apesar do isolamento
por eDuarDo simões
para lisette lagnaDo, uma das quatro curadoras nos países do sul global. Queria chamar a atenção para
da 11 Bienal de Berlim, o novo coronavírus colocou a violência intrínseca para a decisão inicial de fazer a
a
ainda mais em evidência questões que o próprio evento, bienal acontecer em 2020”.
cuja abertura oficial aconteceu em 5 de setembro, com Para a curadora, o “capítulo mais substancial da
três meses de atraso, propusera-se a discutir em 2020. bienal” – cujo epílogo, intitulado The crack begins within
“Falávamos de necropolítica, fanatismo, patriarcado (a ruptura começa por dentro), será exibido até 1 de
o
capitalista, extrativismo e devastação ecológica. A novembro na capital alemã – havia sido aberto em
pandemia só veio aprofundar o fosso que separa os setembro de 2019, com oficinas, pequenas exposições
países do sul global do lugar onde a gente está”, pon- e performances, no bairro berlinense Wedding, num
derou Lisette em sua fala de abertura no vi Seminário espaço que propunha escuta e troca com os moradores
Internacional Virtual ARTE!Brasileiros. do lugar, na maioria imigrantes.
A conversa teve mediação do jornalista Fabio Cypria- “Havia toda uma dinâmica de estarmos juntos e
no, com a participação também do espanhol Agustín de repente fomos interrompidos nesta maneira de
Pérez Rubio (da equipe curatorial da bienal berlinense, ao trabalhar”. Foi necessário, continuou a curadora, criar
lado de Lisette, da chilena María Berríos e da argentina o que ela chama de protocolo ético: “Dizer que não
Renata Cervetto) e de dois dos artistas selecionados cederíamos nenhum centímetro em nossa posição e,
para a exposição, a brasileira Aline Baiana e o guate- nesse sentido, a palavra possível é perigosa porque
malteco Edgar Calel. ela pode parecer oportunista. Rosa Luxemburgo dizia
Ainda na abertura, Lisette manifestou certo incô- que o oportunismo é a arte do possível. E quero insistir
modo com o subtítulo do seminário, A arte do possível. que, ao fazer bienal nessas condições, temos que nos
“Nosso trabalho como produtores e agentes de cultura preocupar com nossos próprios princípios. E não nos
é sempre lidar com o impossível”, disse. “É muito difícil
dobrar àqueles ditados por uma situação de exceção.”
FOTO MATHIAS VOELZKE VÖLZKE colocar o conceito de solidariedade quando uma bienal No seminário virtual, Lisette exemplificou o peso polí-
internacional, europeia, anuncia suas datas de realização, artista ativista
a despeito de os artistas ainda estarem em lockdown
tico da mostra apresentando, inicialmente, a ameri-
cana Marwa Arsanios e sua trilogia Quem tem medo
Ao lado, minerais exportados pelo Brasil integram a obra
da ideologia?. A obra reflete, contou a curadora, um
A cruz do sul, em que Aline Baiana faz crítica ao extrativismo
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