Page 74 - ARTE!Brasileiros #46
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ARTISTA ANNA MARIA MAIOLINO






             O ALFABETO DE UMA ALQUIMISTA





             AOS 76 ANOS, ANNA MARIA MAIOLINO QUER RESERVAR UM
             MOMENTO PARA SE DIVERTIR EXPERIMENTANDO


             POR JAMYLE RKAIN




             “SEMPRE ME REFERI À MINHA LINGUAGEM como ‘meu alfabeto’”,
             afirma Anna Maria Maiolino aos 76 anos, durante conversa na Galeria
             Luisa Strina, onde teve exposição em cartaz até o dia 23 de março. A
             artista acaba de inaugurar também mostra no Padiglione d’Arte Con-
             temporanea, em Milão. Em setembro, Anna terá uma grande exposição
             na galeria Whitechapell, em Londres, organizada em parceria com a
             instituição italiana. Recentemente, a artista esteve com uma mostra em
             cartaz no MOCA, o The Museum of Contemporary Art, de Los Angeles.
             É um ano e tanto para a artista, que afirma estar se debruçando sobre o
             livro Meu Alfabeto, da filósofa búlgara Julia Kristeva. O livro havia sido
             indicado por uma amiga no final dos anos 90, mas só agora Anna tem
             conseguido desfrutar das páginas. “Eu gosto muito de ler filosofia, porque
             é uma forma de alimento para o imaginário. No caso, o meu imaginário”,
             Anna declara. Rodeada de linhas e bolinhas, signos  marcantes em sua
             obra, ecoam uma passagem do livro, Kristeva: “Impresso em mim, o
             alfabeto triunfa; tudo ao meu redor é alfabeto”.
             As linhas e bolinhas, sejam elas em nanquim, caneta ou cimento estrutu-
             ral; os ovos da performance Entrevidas ou na faixa de pano que cobre o
             corpo em In ATTO,  são elementos que para ela representam “o primeiro
             sopro da ideia que a conecta com o mundo”, especialmente quando em
             desenho, o que ela chama de “a primeira manifestação da Anna”. É um
             tipo de alfabeto que não necessita do código em palavra, é uma ante-
             -palavra, algo que precede a palavra.
             É sempre importante pontuar as questões migratórias na vida da artista
             e perceber o quanto os elementos de sua obra se fizeram importantes
             para sua comunicação para com o outro, tendo em vista que por algum
             tempo ela sentiu a necessidade de pertencer a um lugar, e a língua faz
             parte disso. Afinal, Anna saiu da Calábria para a Venezuela e depois
             para o Brasil, mas também residiu em outros lugares ao longo dos anos,
             como na Argentina e nos Estados Unidos. Apesar das diferenças nos
             idiomas, a sua linguagem na arte foi e é universal. Sendo assim, o seu
             alfabeto, é universal.
             Em outro momento do livro de Kristeva, a autora reflete: “O alfabeto                              FOTO EDOUARDFRAIPONT
             revivia em mim, para mim, que eu podia ser todas as letras”. Identificando
             sua linguagem como o seu alfabeto, é certo que as letras que compõem o


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