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ANDRÉ KOMATSU, REALIDADE PERECÍVEL #14, 2018, 3 X 630 X 420 CM, TELA DE FIBRA DE VIDRO, MADEIRA, TINTA ESMALTE A BASE D’ÁGUA E VERNIZ ACRÍLICO SOBRE CONCRETO
gastar dinheiro...”. Até começar a realmente tirar palavra de ordem”, independente da linha editorial:
um sustento de suas criações, Komatsu trabalhou O Mundo, A República, O Manifesto. Komatsu cobre
como motorista particular, professor e barman. o jornal com placas de chumbo, deixando apenas o
A servidão voluntária, as relações do trabalho, nome visível: “Eu isolo a informação, fazendo uma
a sistematização das ações, a objetificação do relação com o reflexo de hoje, onde a informação
sujeito são alguns dos pontos que André trabalha está ali mas é velada, que são as verdades que
como artista, se colocando como um pensador que acabam direcionando o público”.
investiga a ética, a política e a sociedade. Muitas As discussões que o artista busca trazer estão
vezes, ele utiliza reflexões sobre a arquitetura e a muito ligadas à sua base teórica. As leituras são
construção civil para falar sobre isso, por exemplo frequente e indispensáveis pra ele: “Os livros que
em obras como a da série Realidade Perecível, acabo lendo são muito ligados à Filosofia. Não
na qual ele apresenta textos escritos sobre telas tem nada a ver com arte. Raramente leio coisas
finas feitas com concreto, que simulam um tipo de sobre arte”, ele explica que receia que as leituras
cortina. Tão frágeis que vão se desfazendo com o sobre arte reduzam tudo a um microcosmo: “Eu
tempo e com o manuseio, desintegrando palavras tento entender uma outra coisa. E utilizo a arte
termos como “o progresso”, “o novo mundo” e até para isso”. Para isso, ele se debruça sobre autores
mesmo a frase “hoje como ontem”, retirada de um como Michel Foucault e Vilém Flusser.
jornal nazista. O estrutural e o esfarelamento da Os questionamentos de André se somam em uma
estrutura aparecem como analogias, já que ele representação da realidade, buscando acompa-
admite: “Eu acredito que as coisas só mudem com nhar as questões do contemporâneo e olhando
a quebra das estruturas”. também para o passado. De referências aos can-
Outra série ligada às palavras, mais especifica- dangos que construíram Brasília às que envol-
mente à comunicação, mostrada recentemente vem a recente crise hídrica em São Paulo, André
na exposição individual Estrela Escura, na Galeria se envolve com uma espécie de preservação da
Vermelho, Acordo Social mostra jornais coletados História, afinal: “Quando você apaga a História,
de vários países cujos “nomes estabelecem uma você apaga o entendimento sobre a realidade”.
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