Page 41 - ARTE!Brasileiros #45
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ela via o bairro nos anos que ali está: “Nós, em tem preto mesmo? E não é que não tenha no
nossa bolha da classe média, somos um bando centro, é que eles são invisibilizados”.
de ignorantes”, afirma. “As pessoas na periferia Hoje, o maior sonho de quem gere o JAMAC,
são muito informadas, muito articuladas. É dife- é ter um espaço fixo no qual possa ter a segu-
rente do que a gente pensava, principalmente nos rança que irá ficar: “Queremos comprar uma
anos 80 e 90. Tanto que eu vim pra cá em 2003, sede”, diz Conca. O que mais preocupa é saber
com a ilusão de que viria trazer a informação e se irão dar conta de conseguir um prédio para
a cultura”, completa. abrigarem todas as atividades que oferecem,
Se antes a artista tinha um olhar um tanto colo- tendo em vista que o atual é alugado, mas está
nizador para o Jardim Miriam, hoje ela consegue sendo reivindicado pelo proprietário. “Não dá
enxergar que o espaço também a formou: “Ape- pra nós sonharmos muito, mas o que eu quero
sar da minha compaixão, eu ainda sim era muito é que todo mundo tenha um JAMAC na esquina
branca”. Seu deslocamento de um dos bairros de sua casa”, admite. Para finalizar, ela cita José
mais elitistas da capital para um dos bairros mais Martí: “Um povo sem a cultura nunca será um
afastados fez com que ela enxergasse muito do povo livre”. É por isso que acredita que a cultura
que era maquiado no lugar de onde veio: “Quando é tão diminuída, para que os poderosos neguem
vim parar aqui, pensei: não é que em São Paulo a liberdade às pessoas.
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