Page 44 - ARTE!Brasileiros #45
P. 44
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL
HISTÓRIA DA ARTE REVISITADA
MUSEU DE ARTE MODERNA DE BUENOS AIRES – MAMBA APROXIMA ARTISTAS LATINO-AMERICANOS
DA PRODUÇÃO EUROPEIA E NORTE-AMERICANA COM VISIBILIDADE JÁ CONSOLIDADA
POR FABIO CYPRIANO EM BUENOS AIRES
A INCLUSÃO DE NARRATIVAS fora do eixo cen- passado, “História de dois mundos” segue até 14
tral Estados Unidos e Europa tem sido constante de outubro na capital argentina e reúne cerca de
política em importantes instituições de arte como 500 obras de cem artistas, em sua maioria latino-
o Museu de Arte Moderna, em Nova York, a Tate -americanos, não só a partir do acervos das duas
Modern, em Londres, o Centro Pompidou, na em exposições que organizam a mostra mas também
Paris, e o Reina Sofia, em Madri. de várias instituições, inclusive brasileiras, como
Há quase duas décadas pelo menos, esses museus a Pinacoteca do Estado.
vêm incorporando obras latino-americanas,
um dos locais não-hegemônicos que mais vem AMPLIAÇÃO
ganhando espaço, e deram visibilidade a produ- A mostra binacional ainda representa um marco na
ções importantes de artistas como Hélio Oiticica, história do museu: a ocupação completa do edifí-
Lygia Clark, Lygia Pape e Cildo Meireles, para citar cio sede, no bairro de San Telmo, onde o Mamba
apenas alguns brasileiros, recuperando assim uma funciona desde 1986, mas que utilizava cerca de
lacuna em seus acervos e programas. metade de sua capacidade. Agora, a instituição
A Alemanha demorou a ter tal iniciativa, mas tem 4 mil metros quadrados de área expositiva,
desde 2014 a Fundação Nacional de Cultura (Kul- toda ela utilizada para “História de dois mundos”.
turstiftung des Bundes) criou o programa Global Uma das primeiras imagens da mostra é uma foto
Museum, que vem revisando as perspectivas das de Albert Georg Riethausen, onde se vê um grupo
coleções de seus museus nacionais. de artistas na corda-bamba, em 1949, em meio a
“História de dois mundos – arte experimental latino- uma cidade alemã completamente destruída pela
-americana em diálogo com a coleção MMK, 1949 Segunda Guerra Mundial. Na sequencia, são apre-
- 1989”, inaugurada em julho passado no Museu de sentados diversos trabalhos que representam a
Arte Moderna de Buenos Aires (Mamba), representa antítese desse espaço de ruínas, a América Latina
um dos desdobramentos do projeto Global Museum. como um local de utopias, desde os fotógrafos
“A mostra foi uma sugestão de Hortência Völckers, Thomaz Farkas e Marcel Gautherot , com imagens
da Fundação Nacional de Cultura, para ser realizada da construção e inauguração de Brasília, em 1960
tanto no Museu de Arte Moderna de Frankfurt (MMK), e 1961, a projetos do arquiteto argentino Amancio
na Alemanha, quanto aqui na Argentina”, disse à Williams, como um aeroporto a ser construído
ARTE!Brasileiros a diretora do Mamba e curadora da sobre o Rio da Prata, de 1945.
exposição Victoria Noorthoorn, que dividiu a tarefa Essa inversão do que se tornou o estereótipo atual
com Javier Villa e Klaus Görner, pelo museu alemão. da nova ordem mundial – a Alemanha como prin-
Segundo Völckers, que é argentina radicada na cipal potencia europeia e a América Latina como
Alemanha, além do MMK dois outros museus ale- terra arrasada do sistema neoliberal – aponta de
mães realizam mostras com estratégias semelhan- fato como é possível através da arte se repensar
tes, entre eles a Hamburger Bahnhoff, em Berlim. estruturas aparentemente definitivas.
Inaugurada em Frankfurt, em novembro do ano De fato, a mostra reúne artistas com obras
44
ARTEBrasileiros_44.indb 44 30/08/18 07:23