Page 36 - ARTE!Brasileiros #45
P. 36

SEMINÁRIO V SEMINÁRIO INTERNACIONAL ARTE!BRASILEIROS ARTE ALÉM DA ARTE






             MEMÓRIA E GEOPOLÍTICA NA ARTE





             ARTISTA CHILENA VOLUSPA JARPA QUE PARTICIPA DE V SEMINÁRIO INTERNACIONAL SERÁ A REPRESENTANTE
             OFICIAL DO PAVILHÃO DO CHILE NA PRÓXIMA BIENAL DE VENEZA COM CURADORIA DE AGUSTÍN PÉREZ RUBIO


             POR PATRICIA ROUSSEAUX








             NO DIA 6 DE SETEMBRO, ARTE!Brasileiros realizará seu   ao presente é uma indagação sobre o passado, e que a
             V Seminário Internacional, no Auditório de Ibirapuera, na   chave para a compreensão é o exercício de uma espé-
             ocasião da abertura da 33a. Bienal de São Paulo. Nesta   cie de “arqueologia” a partir das interrogações que o
             edição, será debatido o lugar da ARTE além da ARTE,   presente projeta no passado. Essa tem sido uma meto-
             desde diferentes perspectivas. Vamos abordar questões   dologia que inspira especialistas de diferentes áreas
             estéticas e éticas do papel da arte no Século XXI.  do pensamento.
             A artista chilena Voluspa Jarpa participará da mesa   Desde os anos 1960, a América Latina foi assolada por
             Geopolítica e Arte e apresentará seu trabalho junto a   ditaduras cuja violência se diferenciou de outros movi-
             sociólogos e curadores.                           mentos políticos ou golpes de estado de camarilhas.
             Uma das vertentes que tem envolvido o trabalho de   Na Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e Brasil houve
             inúmeros artistas é a recuperação da memória e a   milhares de presos políticos, desaparecidos e assas-
             pesquisa de arquivos que possam trazer à luz através   sinatos.  Tratou-se de implantar um sistema caracte-
             das suas obras. Documentos nem sempre são acessí-  rizado pela orgânica e sistemática destruição do livre
             veis e, nos últimos anos, graças à democratização da   pensamento, um modelo que parecia ter ruído há muito
             informação historiadores e pesquisadores, tornaram   tempo. A comunicação sobre os fatos era censurada e
             possível perceber como a história, muitas vezes, tem   poucos percebiam o que ocorria em volta. Cinquenta
             narrativas falhas.                                anos depois desse sinistro cenário, nos restam depoi-
             Documentos e arquivos são temáticas de espaços por   mentos e documentos.
             todo o mundo. Em Istambul, na Turquia, por exemplo, a   A artista chilena Voluspa Jarpa, nascida em 1971 em
             instituição cultural Salt Galata foi criada em 2011, com   Rancagua, Chile, desenvolve há anos uma pesquisa
             o objetivo de pesquisar e arquivar documentos sobre   baseada no tratamento e uso de arquivos como fonte
             a cultura, história, política e a arquitetura do império   estética. Na mostra, En Nuestra Pequeña Región de
             otomano e da Turquia. Parte fundamental do trabalho é   por Acá, no MALBA – Museu de Arte Latinoamericano
             focado no levantamento de documentos e depoimentos   de Buenos Aires, realizada em 2016, ela reuniu vários
             sobre o extermínio dos armênios em 1915. O material   trabalhos criados a partir de documentos do Serviço
             serve de base para exposições, debates e programas   de Inteligência dos EUA, no período entre 1948 e 1994,
             de comunicação. No Líbano, o Atlas Group, fundado em   centrados na figura de 47 líderes latino-americanos
             1999 pelo artista Walid Raad, busca localizar, preservar,   que ocuparam lugares determinantes em seus países e
             estudar e produzir material audiovisual, literatura e   que foram assassinados ou desapareceram em circuns-
             outros artefatos vinculados à história do país.   tâncias não esclarecidas. Na opinião de Pérez Rubio,
             De certa forma, grupos como esse seguem o que filó-  diretor artístico do museu até julho deste ano, “na obra
             sofos e historiadores como Foucault e Agamben defen-  de Jarpa o ato de investigação e o ato artístico são um
             dem: o contemporâneo não existe. Que o acesso real   só. A história fala através das peças.”


            36




         ARTEBrasileiros_44.indb   36                                                                            30/08/18   07:23
   31   32   33   34   35   36   37   38   39   40   41