Page 19 - ARTE!Brasileiros #43
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que costumam atrair jovens, artistas ou não. Ao reunir narrativas díspares, propõe união dos artis-
Jennifer faz uma negociação contínua entre ideias tas e se coloca contra as noções de individualismo e
esotéricas e a materialidade dos objetos, trabalhando separação defendidas pela modernidade ocidental, que
muitas vezes com artefatos e símbolos culturais. “Gosto enfatiza a autonomia do artista e a suposta falta de
de trabalhar com materiais que sempre tenham uma propósito das obras de arte. Ao contrário, ela prioriza,
presença e que também contenham um significado especialmente, a experiência coletiva e a superação ou
cultural”. Seu pensamento se move entre as filosofias destruição das fronteiras.
orientais e a cultura ocidental e, ao se deslocar de Suas instalações estão mergulhadas em espiritualidade
uma margem a outra, nesse navegar contínuo, muitas esotérica, celebrando todas as conotações que vêm do
vezes, mergulha em textos literários com influência artesanal, criando objetos talismânicos que sugerem a
da teosofista Helena Blavatsky e os artistas Wassily presença humana ao seu redor. Suas peças de parede
Kandinsky e Hilma af Klint. de cerâmica, algumas com nomes como Tao Magic,
Jennifer Tee não é somente uma intérprete, ela pes- têm formas e superfícies que lembram algo entre o
quisa o artesanato, escultura, performance e colagem, astrológico e o geológico.
para chegar a conceitos de patrimônio cultural. Seu Em sua exposição no Camden Arts Centre, Let it Down,
universo se divide em uma parte mais pessoal em que título retirado de um livro de Shakespeare, ela criou
se dedica às pétalas de tulipas e às instalações de uma performance com dançarinos contemporâneos
palco que examinam uma fusão de conceitos sobre- que atuam sobre as esculturas executadas em cristal,
naturais orientais e ocidentais, incluindo ocultismo colocadas no chão. “ Usei peças sobre o piso como
e taoísmo. “Eu descobri que se eu fizesse colagem plataformas para explorar a alma no limbo e para ter
com essas pétalas, elas pareceriam uma tecelagem. coreografias e então os objetos no espaço se tornem
Cheguei a um padrão que pode ser reconhecido em ativados”, explica Jennifer Tee. A artista usa o cristal
outras culturas, há similaridades”. porque é uma superfície que pode se multiplicar.
JENNIFER TEE, PERFORMANCE LET IT COME DOWN, 2017. EM PARCERIA COM A COREÓGRAFA MIRI LEE