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BIENAIS SÃO PAULO
ARTISTAS-CURADORES
WURA-NATASHA OGUNJI MORA NOS ESTADOS UNIDOS E NIGÉRIA,
VAI “CURAR” O PROJETO SEMPRE, NUNCA
POR LEONOR AMARANTE
COM WURA-NATASHA OGUNJI, não há de uma crítica cultural. Impressionada pela maneira como os
distância entre projeto e ação, tampouco entre pen- nigerianos negociam usando pouca ou nenhuma palavra e como
sar e se deslocar, mesmo que seja entre continentes. simples gestos incitam ações, ela tenta demonstrar em sua obra
Morando em Austin e Lagos, a afro-americana é o que não é dito. Esses trabalhos com cenas complexas e oníricas
uma das artistas mais ativas de sua geração. Atua executados em papel, parecidos com pano, revelam desenhos
simultaneamente em várias frentes artísticas e em delicados que parecem etéreos.
dois países: Estados Unidos e Nigéria. Ela faz parte Artista múltipla e circunstancial, Wura-Natasha inventa vários
do movimento da primeira geração de artistas visuais sujeitos que se justapõem no mesmo cenário. Seus trabalhos têm
da diáspora africana. uma relação com o real, mas estão ligadas ao desejo que habita
Performer, desenhista e vídeo artista, aos 48 anos, o mundo das experiências. A magnitude de suas performances
vai atuar como artista curadora no projeto Sempre, se expressa pela fisicalidade, resistência, gestos do corpo e a
Nunca na 33ª Bienal de São Paulo que abrange relação com o espaço geográfico, assim como a memória e a
exclusivamente obras comissionadas. São seis artis- história. O movimento do corpo tem o poder de evocar os sentidos
tas convidadas por ela: a sul africana Lhola Amira, com uma finalidade que os transcende. Wura-Natasha em algu-
a francesa Mame-Diarra Niang, a norte-americana mas atuações destaca a relação entre o corpo e o poder social,
Nicole Vlado, a nigeriana Ruby Onyinyechi Amanze investigando como as mulheres, em particular, ocupam o espaço
e a libanesa Youmna Chlala que se juntam a ela por meio de ações épicas ou comuns. Seus trabalhos incluem
em um processo curatorial colaborativo e horizon- desenhos, vídeos e apresentações públicas e as pesquisas mais
tal. A produção dessas artistas “concilia aspectos pertinentes discutem a presença de mulheres no espaço público
íntimos, como o corpo, a memória e gestos épicos, em Lagos. Uma de suas performances mais conhecidas, Sweep,
como a arquitetura, a história e a nação”, explica foi originalmente realizada durante sua primeira visita à Nigéria.
Wura-Natasha. Esse trabalho já foi realizado em vários países, aprofundando
“Nossos projetos individuais abarcam práticas e seu pensamento sobre a presença de mulheres dentro dessas
linguagens distintas, que convergem em ideias e sociedades e explorando a noção de identidade, pátria e diáspora.
questões cruciais para a experimentação, a liberdade Nessa busca de presença contínua, Waru-Natasha se atém aos
e o processo criativo”, conta. O trabalho dessas artis- direitos das mulheres por vivenciá-los em duas sociedades dife-
tas é afetado por suas histórias individuais e pelas rentes. Uma de suas exposições foi acompanhada de um folder
complexas relações que mantêm com sua origem. lembrando Angela Davis, em 1985, quando afirma: “Existem
“Suas obras quebram as narrativas hegemônicas”, paralelos marcantes entre a violência sexual contra mulheres e
comenta a artista curadora. a violência colonial contra pessoas e nações”.
Ao lançar mão de todos os suportes disponíveis, A forte presença de Wura-Natasha na Bienal de São Paulo, com
Waru-Natasha faz, criticamente, o uso do bordado, certeza será inspiradora, em um momento sombrio em que a
atividade quase exclusivamente feminina, para criar impunidade para os assassinos de Marielle, também uma afro
comentários sobre a sociedade contemporânea nige- descendente atuante, continua sem prazo para uma solução,
riana e destaca o papel das mulheres formadoras conforme tem demonstrado a justiça brasileira.
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