Page 17 - ARTE!Brasileiros #43
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BIENAIS SÃO PAULO
O MUNDO INTIMISTA DE
MARIA LAET NA BIENAL
A ARTISTA CARIOCA REFLETE SOBRE A NATUREZA DO TEMPO COM SILÊNCIOS PONTUAIS E BREVES PAUSAS
O SILÊNCIO ALINHAVA. A calma faz sua escuta entre as frestas da justaposição de realidades distintas e cama-
do asfalto e aplaina os veios com o líquido viscoso que deixa a das desconexas surge em Leito (2013), em que
marca de um grafismo denso, mas delicado. Maria Laet e seu a superfície da calçada ou da rua é camuflada e
trabalho têm a rara identidade entre autor e obra. Ambos atuam transforma-se em um “mapa” ao receber o leite
em silêncio e com um tempo dilatado. Ela está entre os artistas em suas rachaduras, constituindo-se em um canal
convidados da 33ª Bienal de São Paulo com um vídeo ainda não fluído. Na contramaré da espetacularização, Maria
revelado, mas que pode tangenciar a reflexão do presente e sua trabalha na quietude e as transformações formais
fugaz duração, tomando o silêncio como objeto de reflexão. aparecem naturalmente e adquirem uma qualidade
Seu trabalho é pendular no sistema de arte, intimista, pensado, existencial acumulativa, por meio de um ciclo sutil.
sem pressa. De qualquer ângulo que se olhe, ele transmite O corpo é uma fonte de mensagem em si mesmo e
leveza e se revela como um invento do olhar recuperando destaca um de seus trabalhos singulares. A apro-
apagamentos da cidade. A ideia de que o presente se compõe priação do poema concreto Galáxias, de Haroldo de
MARIA LAET, TERRA, 2015