Page 90 - ARTE!Brasileiros #40
P. 90
CRÍTICA BIENAL DE VENEZA
BIENAL DE VENEZA
PERDE OUSADIA
Com 120 artistas de todos os
continentes, curadora francesa
Christine Macel aposta em
obras com práticas manuais
e performáticas, que
remontam aos anos 70
POR FABIO CYPRIANO
VIVA ARTE VIVA, a mostra central da 57ª edição da Bienal
de Veneza, é uma exposição politicamente correta ao limite.
Ela reúne 120 artistas de todos os continentes, com obras
representativas, desde grandes nomes, como Philippe
Parreno, Olafur Eliasson, Ernesto Neto e Gabriel Orozco,
até apostas jovens como a chinesa Guan Xiao, de 33 anos,
e o marroquino Achraf Toulob, de 30 anos.
Há muitos artistas que nunca participaram da mostra, o que
faz a seleção dar a impressão de correção na historiografia
da arte vista a partir de Veneza, como ao incluir o holandês
Bas Jan Ader (1942 – 1975), o brasileiro Paulo Bruscky e o
chileno Juan Downey.
Contudo, o resultado do conjunto não é potente, possi-
velmente porque a mostra tem uma temperatura mais
museológica, o que pode ter a ver com a curadoria estar a
cargo da francesa Christine Macel, do Centro Pompidou,
em Paris. A edição passada, a cargo de Okwui Enwezor,
tinha uma proposta mais provocativa, por exemplo com
o Manifesto Comunista sendo lido ininterruptamente no
centro da exposição junto de obras que se relacionavam
com leituras críticas da sociedade contemporânea.
O que motivaria essa atual frieza justamente durante os
meses mais quentes da icônica cidade italiana? Por um lado,
é patente que a mostra se constrói com poucos trabalhos FOTO: ANDREA MEROLA
comissionados, portanto ela parte de uma perspectiva mais
histórica – mesmo que alguns trabalhos sejam recentes.
90
Book_ARTE 40_Bilingue.indb 90 9/21/2017 3:57:40 PM