Page 85 - ARTE!Brasileiros #40
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que se enriquece com a introdução da costura, doença e adaptação a uma nova realidade que
bordados, botões e pedras semipreciosas. Esse paulatinamente é assimilada pelo real, tornando a
universo é familiar para Leonilson, filho de um obra mais forte na repactuação com o biográfico.
comerciante de tecidos e de uma dona de casa Suas manifestações tornam-se mais complexas e
que ele via bordar. A palavra, tecida em panos aparecem manchas de sangue, desenhos de pro-
coloridos, surge naturalmente inspirada na frá- cedimentos médicos em uma espécie de erupção
gil condição humana, dor, verdade, solidão, a de um novo sentimento cósmico.
incomunicabilidade. No ano de sua morte, são realizadas duas exposi-
São deste período sua participação na Bienal de ções simultâneas, uma na galeria São Paulo e outra
São Paulo, de 1985, e na emblemática exposição na Thomas Cohn Arte Contemporânea. Ainda em
de 1989, Anotações de Viagem, na Galeria Luisa 1993, o artista projeta seu último trabalho: Insta-
Strina, em São Paulo, em que ele coloca em xeque lação sobre Duas Figuras, na Capela do Morumbi,
a relação entre a arte, a imagem e o conceito.
que ele não conseguiu ver montado. Com tecidos
FOTOS MARCOS “COIL” LOPES Neste momento, reforça a presença de formas brancos e leves, Leonilson marcou sua despedida
com uma instalação que poderia ser um tributo
orgânicas que emergem em seus desenhos e pin-
a si mesmo e a todos paraísos artificiais que ele
turas, muito próximas à cartografia do corpo.
experimentou.
O terceiro volume (1990-1993) é marcado pela
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