The School of Mutants,
The School of Mutants, "All Fragments of the Word Will Come Back Here to Mend Each Other", exposta na Akademie der Künste em Pariser Platz como parte da 12ª Bienal de Berlim. Foto: dotgain.info

Cerca de 70 artistas e coletivos de diferentes países compõem o programa de exposições da 12ª Bienal de Berlim, que abre as portas para o público neste sábado, 11 de junho. Apresentando projetos artísticos e programas de mediação em diversos locais da capital alemã, o evento busca contribuir com novas perspectivas para o discurso cultural contemporâneo. Neste ano, a curadoria de Kader Attia – feita em colaboração com a equipe artística – enfoca os impactos da herança colonial e imperialista e as possibilidades de resistência e reparação a partir da decolonialidade.

O curador Kader Attia junto à equipe artística da da 12ª Bienal de Berlim; da esq. para a dir., Ana Teixeira Pinto, Noam Segal, Kader Attia, Đỗ Tường Linh, Rasha Salti, Marie Helene Pereira. Foto: Silke Briel

“A sociedade distópica que herdamos produz caos, mas nega a responsabilidade por isso. Na verdade, o mundo atual é da forma que é porque carrega todas as feridas acumuladas ao longo da história da modernidade ocidental. Não reparadas, elas continuam a assombrar sociedades”, afirma Kader Attia em seu texto curatorial.

Frente a isso, a Bienal de Berlim apresenta artistas de todo o mundo que se envolveram com os legados da modernidade e seu resultante estado de emergência planetário para desenvolver seus trabalhos, e traz documentos históricos, incluindo publicações políticas e ativistas do Archiv der Avantgarden – Egidio Marzona. As contribuições revelam conexões entre colonialismo, fascismo e imperialismo, propondo estratégias para o futuro e levantando uma série de questões que orientam o evento: “Como pode ser moldada uma ecologia decolonial? Quais papéis os movimentos feministas não ocidentais assumem na reapropriação de narrativas históricas? Como o debate da restituição pode ser reinventado para além da devolução de bens saqueados? Pode o campo da emoção ser recuperado através da arte?”, explicita o texto oficial da mostra.

Como pensar a reparação no capitalismo?

O relatório de 2018 de Bénédicte Savoy e Felwine Sarr sobre a restituição do patrimônio cultural africano desencadeou uma conversa ampla sobre o colonialismo na Europa. Instituições começaram a se envolver com sua herança colonial e rever os objetos saqueados presentes em suas coleções; os governos se comprometeram com a restituição. “Estes são os primeiros passos para a reapropriação do patrimônio cultural e a descolonização. Mas como essa disposição de enfrentar o passado colonial pode ser usada para intervir em um presente que está firmemente nas garras do que Cedric J. Robinson chamou de capitalismo racial – descrevendo o capitalismo como um sistema baseado na exploração de um Outro racialmente construído?”, compartilha a equipe da bienal..

A fim de se aprofundar nessa discussão, as visitas guiadas, oficinas, performances, exibições de filmes e conferências que acontecem paralelamente à mostra tomam o debate convocam estudiosos, ativistas e artistas para explorar como o colonialismo e o imperialismo continuam a operar no presente. Nessas atividades, os participantes abordam o impacto da expansão imperial da Europa nos ecossistemas da Terra, discutem lutas e estratégias contemporâneas em torno dos feminismos do Sul Global e analisam como o racismo é apoiado pelas tecnologias culturais. Veja a programação completa no site da bienal alemã (clique aqui).

A escolha dos espaços expositivos para as mostras também buscou ecoar essas reflexões. A arte!brasileiros preparou uma lista com informações importantes das seis instituições que sediam a bienal alemã. Confira:

KW Institute for Contemporary Art

Foi neste espaço que, em 1998, a Bienal de Berlim foi inaugurada. Desde então, a instituição – que visa abordar as questões prementes dos nossos tempos através da produção, exibição e mediação da arte contemporânea – tem sediado a exposição principal da mostra.

Onde: Auguststraße 69, 10117 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 19h

Akademie der Künste

Pela primeira vez, a Bienal de Berlim ocupa as duas sedes da Akademie der Künste, na Pariser Platz e em Hanseatenweg. Fundada em 1696, a instituição passou por uma cisão após a Segunda Guerra Mundial, ao que se estabeleceu uma unidade no Oriente e outra no Ocidente, que voltaram a atuar conjuntamente após a queda do Muro de Berlim. Na 12ª edição da mostra alemã, cada espaço recebe uma exposição coletiva.

Sede de Hanseatenweg
Onde: Hanseatenweg 10, 10557 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 19h

Sede de Pariser Platz
Onde: Pariser Platz 4, 10117 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 19h

Dekoloniale Memory Culture in the City

A individual do artista Nil Yalter ocupa a sede do projeto piloto Dekoloniale Memory Culture in the City, que busca identificar efeitos pós-coloniais presentes na metrópole. O espaço está localizado entre os antigos prédios da Chancelaria do Reich e do Ministério das Relações Exteriores, onde enviados das potências europeias, dos Estados Unidos e do Império Otomano se reuniram para a Conferência de Berlim (1884) e firmaram acordo sobre as regras para a partilha colonial da África, criando as condições necessárias para a sua exploração.

Onde: Wilhelmstraße 92, 10117 – Berlim, Alemanha
Quando: Pode ser visitado a qualquer momento (vitrine da fachada)
Entrada franca

Quartel General Stasi. Campus da Democracia

A antiga sede do Ministério da Segurança do Estado (Stasi) de Berlim foi o espaço onde funcionários do estado organizaram a vigilância e perseguição de cidadãos da República Democrática Alemã e conduziram as operações de espionagem estrangeira – ambas para sustentar o governo do Partido Comunista da Alemanha Oriental. Em janeiro de 1990, os manifestantes invadiram o espaço ocasionando no fim da Stasi e na destruição de seus arquivos. Hoje, este antigo bastião da polícia secreta é um centro educacional sobre ditadura, resistência e democracia e recebe uma das exposições coletivas da bienal.

Onde: Ruschestraße 103, Haus 7 and 22, 10365 – Berlim, Alemanha
Quando: Quarta a segunda, das 11h às 18h
Entrada franca

Hamburger Bahnhof – Museum für Gegenwart

Atualmente, a instituição abriga uma das maiores e mais significativas coleções de arte contemporânea do mundo. Os cerca 10 mil metros quadrados de edifício contam com trabalhos da Galeria Nacional e de outras importantes coleções internacionais, além de receberem exposições temáticas eventuais, como é o caso da coletiva da bienal.

Onde: Invalidenstraße 50–51, 10557 – Berlim, Alemanha
Quando: terça, quarta e sexta, das 10h às 18h; quinta, das 10h às 20h; sábado e domingo, das 11h às 18h

Podendo ser adiquiridos online ou presencialmente (no KW Institute for Contemporary Art, na Akademie der Künste – Pariser Platz, ou no Hamburger Bahnhof – Museum für Gegenwart – Berlin), os ingressos permitem entrada individual nos diferentes espaços expositivos e são válidos durante toda a duração da bienal.

Individual: 18 €
Grupos de 10 ou mais pessoas: 16 € por pessoa
Ingresso com valor reduzido*: 9 €
Ingresso com valor reduzido* (grupos): 7 € por pessoa
Entrada gratuita para menores de 18 anos, pessoas com berlinpass, membros de Freunde of KW e Berlin Biennale, e no primeiro domingo de todo mês.

*Valor reduzido é válido para estudantes, pessoas em serviço voluntário federal, membros BBK, pessoas desempregadas e pessoas com deficiência (especificações sobre PcDs no site do evento) mediante apresentação de identificação válida.

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