Soldados caminham por monumento coberto por sacos de areia em Odessa, na Ucrânia, em meio à invasão da Rússia. Foto: Alexandros Avramidis/Reuters
Soldados caminham por monumento coberto por sacos de areia em Odessa, na Ucrânia, em meio à invasão da Rússia. Foto: Alexandros Avramidis/Reuters

“Claramente, o povo da Ucrânia é a prioridade; protegê-los tanto quanto possível é o mais crítico. Mas esta é uma nação com um passado recente que viu figuras culturais e obras de arte destruídas por administrações soviéticas anteriores. O medo é que os russos queiram repetir isso”, afirmou Olesia Ostrovska-Liuta, diretora do Mystetskyi Arsenal, em Kiev, capital da Ucrânia. Em editorial publicado pelo portal artnet, Ostrovska-Liuta conta estar preocupada com os colegas passando a noite nas estações de trem subterrâneas e com as baixas civis que já estão ocorrendo. Mas preservar as pinturas que fazem parte do patrimônio de seu país também pesa em sua mente. “Obras de Kazimir Malevich, Vasyl Yermylov, Alexander Bogomazov e Anatol Petrytsky e Viktor Zaretsky, para citar apenas alguns”, escreveu ela.

Já para Oleksandra Kovalchuk, diretora do Odesa Fine Art Museum, há medo de falar publicamente sobre o que está acontecendo, para evitar invasores ou saqueadores russos: “Em quase todos os museus, os trabalhadores estão dormindo in situ para poder tomar algumas decisões de última hora [se for preciso]. Infelizmente, não posso dizer mais”.

Obra de Maria Prymachenko, de 1978.
Obra de Maria Prymachenko, de 1978.

Para o setor cultural a preocupação escala com relatos que em Ivankiv, a noroeste de Kiev, um museu local e suas obras de arte teriam sido incendiadas pelas forças russas. Foi relatado que dentro do museu havia 25 pinturas da artista folclórica Maria Prymachenko, estimada por Picasso e Chagall. Algumas das obras, no entanto, teriam sido salvas por um residente local que correu para o prédio em chamas para resgatar o máximo que pôde. Acredita-se que ele resgatou cerca de 10 grandes obras de arte das chamas, embora ainda não esteja claro quais.

A Ucrânia é o lar de sete patrimônios mundiais da UNESCO, incluindo a Catedral de Santa Sofia, em Kiev, com suas cúpulas douradas e impressionantes afrescos bizantinos da Virgem Maria. Outro é o centro histórico de Lviv que, junto com o Museu Nacional Andrey Sheptytsky, abriga a coleção mais completa do país de arte sacra medieval e raros manuscritos religiosos. A urgência em salvar seus livros, pinturas e outros artefatos (entre eles uma bíblia de mil anos decorada com fios de ouro) deixou pouco tempo para esperar por materiais de embalagem especializados. Em vez disso, os voluntários se contentam com caixas de qualquer madeira disponível, às vezes até caixas de papelão originalmente destinadas ao transporte de bananas para supermercados.

Catedral de Santa Sofia, em Kyiv, na Ucrânia. Foto: Wikimedia Commons.
Catedral de Santa Sofia, em Kyiv, na Ucrânia. Foto: Wikimedia Commons.

O canal de notícias CNN reportou que a Catedral Armênia de Lviv removeu uma escultura de madeira medieval, representando a crucificação de Jesus Cristo, para armazenamento seguro. Tendo sobrevivido à Segunda Guerra Mundial, os vitrais gigantes da Catedral Latina de Lviv foram agora tapados com placas de aço e muitas das estátuas de referência da cidade estão agora envoltas em plástico bolha.

Embora as obras de arte postas em risco devam ser evacuadas, é provavelmente tarde demais para que a maioria delas seja transferida agora para partes mais seguras do país ou para o exterior. Com isso, os ucranianos estão enfrentando um conjunto de questões logísticas difíceis – já muito familiares aos diretores de instituições culturais em lugares como Iraque, Síria e Afeganistão.

 

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