
*Por Giulia Garcia e Miguel Groisman
Cinco meses após o anúncio do cancelamento, devido à pandemia de Covid-19, da feira presencial que ocorreria na primeira semana de abril, a SP-Arte realiza sua volta ainda em 2020 com uma nova plataforma digital. O SP-Arte Viewing Room acontece entre os dias 24 e 30 de agosto e conta com mais de 130 expositores. “Este novo formato virtual tem funcionado muito bem para nós mesmo com um público ainda tímido em adquirir obras através da internet”, salienta Eduardo Mansini, diretor da Galeria Athena. Ele destaca que nos meses de julho e agosto o mercado voltou à ativa e que, dado o fato de não ter ocorrido a SP-Arte no início do ano, sua expectativa é grande para esta edição.
A adesão da SP-Arte ao virtual integra o paradigma observado ao redor do mundo decorrente das medidas de isolamento implementadas no globo; primeiro surgindo como soluções temporárias, depois como alternativas. Talvez presencial e online possam coexistir num futuro pós-pandêmico, e foi essa a questão posta pela arte!brasileiros a algumas das galerias mais relevantes no cenário nacional. Suas reflexões, abordando limitações e benefícios do formato digital, e até as funções da feira, podem ser conferidas a seguir:
À distância
Para os galeristas entrevistados, as feiras são momentos de criação de vínculos e contatos, necessários ao mercado da arte. Como aponta Márcio Botner, fundador d’A Gentil Carioca, um galerista não é apenas um vendedor de obras de arte, “ele vende história, confiança e troca. Então, transcende a questão de uma simples compra”. Isso deve ser levado às feiras, quaisquer que sejam os formatos. “Como nas feiras presenciais, o mais importante é o desenvolvimento de relações com colecionadores, conhecer novos interessados e divulgar os artistas da galeria. E, na eventualidade de fazer negócios, melhor ainda”, diz Murilo Castro, diretor da galeria homônima.
“Investimos muito, nos meses recentes, em exposições virtuais e plataformas digitais. No entanto, sabemos que a arte é uma experiência que merece ser vivida e isso o online não dá conta por si só”, aponta Alexandre Gabriel, diretor da Fortes D’Aloia e Gabriel. Para os expositores, o ambiente digital apresenta novos desafios em relação à aproximação com os colecionadores, apresentação das obras e envolvimento de novos clientes. “É claro que a questão online cria uma distância muito grande. Você não tem esse momento de encontro, essa oportunidade de um estar contagiando o outro culturalmente, de uma maneira mais sensível”, explica Botner.
“A gente sabe que a arte precisa de um desejo, precisa de um impulso, ninguém morre se não comprar arte”, diz Márcio Botner, fundador da galeria A Gentil Carioca
Novo[s] formato[s]
O diretor d’A Gentil Carioca acredita que para diminuir essa distância seria necessária a criação de uma “experiência” na plataforma virtual. “Sinto muita falta de algo que seja personalizado. Algo que te traga quase que o cheiro da galeria, que te faça sentir parte do evento. Ainda não vejo isso dentro desse formato da SP-Arte”.
Entretanto, Eduardo Masini destaca que o SP-Arte Viewing Room é mais elaborado que outras plataformas trazidas por feiras de porte semelhante. “Ela possui diversos recursos que proporcionam a cada expositor montar o seu perfil e sua página de obras de diferentes maneiras. Assim, faz com que a experiência do público ao visitá-la se torne mais dinâmica e não tão cansativa como nas primeiras feiras online que surgiram no início deste ano”, afirma. Além da SP-Arte, a Athena participou da Not Cancelled, feira online brasileira que ocorreu em julho de 2020. Bem como a Galeria Marilia Razuk, que esteve também na Frieze Nova York.
Razuk, por sua vez, concorda com Botner sobre a necessidade de se criar um espaço de experiência e troca no virtual. Já vê, porém, as funcionalidades do SP-ArteVR cumprindo parte desse papel e sendo um possível atrativo para os colecionadores. Para ela, os ambientes virtuais criados tornam o evento mais interessante para quem o frequenta e devolvem “um pouco daquele glamour que existia nas feiras presenciais” com a programação paralela. Além da exposição, o SP-ArteVR contará com debates online, entrevistas com artistas e curadores, apresentação de trabalhos, entre outras atividades gratuitas promovidas pela feira e pelos expositores.
Razuk supõe que as vantagens da SP-Arte sobre o novo formato se dão pelo momento em que o viewing room acontece. “Ela [Fernanda Feitosa] teve tempo para observar outras feiras e se organizar para o online”. Botner concorda e nota que as feiras estão se adaptando a esse novo formato e tendem a se aperfeiçoar com o passar do tempo. “As primeiras feiras de maior relevância (como Basel e Frieze Nova York) eram gratuitas. Agora, a SP-Arte e a Frieze Londres começam a cobrar um valor das galerias. Isso demonstra um desejo das feiras de conseguirem se adaptar a esse novo momento. Da mesma forma, as galerias, os colecionadores e os artistas também terão que se adaptar”, conta.
Liberdade expositiva
A exibição das obras também é alterada pelo meio virtual. Enquanto em uma feira física cada galeria dá conta de um espaço no pavilhão da Bienal, na versão online as obras estão dispostas nas páginas virtuais de cada expositor e, também, individualmente com maior detalhamento da peça.
Isso trouxe alterações na escolha das obras por parte de algumas galerias. “Para a feira online escolhemos um número maior de obras que normalmente não levaríamos para a feira física por causa das suas dimensões. Possivelmente levaríamos uma quantidade menor de esculturas”, conta Erica Schmatz, da Almeida e Dale. Thais Hilal, da OÁ Galeria, afirma que o evento online deu a oportunidade de apresentar um projeto desenvolvido para a ocasião, um solo do artista Hilal Sami Hilal, que “se fosse presencial não teria espaço físico correspondente ao espaço que trabalhamos, que é a própria galeria”.
Para Alexandre Gabriel, “as feiras online têm suas vantagens, como apresentar obras que estão fisicamente em diferentes lugares do mundo, sem precisar transportá-las. Ou até mesmo mostrar obras que não são possíveis de serem instaladas em um estande no pavilhão da Bienal, como a escultura do Ernesto Neto”. A estratégia de Márcio Botner, porém, foi na direção oposta. A Gentil Carioca leva à SP-Arte obras menores de seus melhores artistas. “Os colecionadores terão uma oportunidade de ver pequenas grandes jóias de cada um dos artistas da Gentil.”
Futuro híbrido
Na fala dos galeristas fica mais claro a visão de um futuro híbrido, fundindo aos formatos tradicionais a interação do mundo virtual. Não se trata de algo totalmente novo, embora ainda não tivesse sido adotado com tal escala: “Essas eram mudanças já anunciadas. Só que foi dado um enfoque muito maior pra esse tipo de ação, porque ela acabou sendo a principal nesse momento. Acredito que no futuro uniremos as duas formas, porque o presencial é muito importante, mas o virtual te leva aonde o presencial não consegue”, diz Marilia Razuk. E ela complementa: “Não podemos estar em todos os lugares do mundo para estar em todas as feiras. Então a forma virtual possibilita entrar em contato com o que está acontecendo sem ter que se deslocar”.
Indo ao encontro dessa fala, Marcos Amaro – um dos diretores da Galeria Kogan Amaro e presidente da FAMA – acredita que esse é um “processo irreversível”. Isso não significa, porém, o fim das edições presenciais, tendo em vista que há entre os galeristas “o desejo de voltar a circular, poder se encontrar, ir às instituições culturais”, como nota o diretor d’A Gentil Carioca.
“Quando tivermos as [feiras] presenciais, vai ser uma espécie de concorrência. Não vai ser muito fácil, mas ela pode ser um segundo módulo do evento presencial. As feiras podem ter os dois formatos, diz Marilia Razuk
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Depois de atrair quase 1 milhão de visitantes com a exposição “Dos Brasis – arte e pensamento negro” – considerada uma das maiores mostras dedicadas exclusivamente à produção negra nacional -, o Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, abrirá, neste sábado (24/5), um novo projeto expositivo que promete grande repercussão. Trata-se de “Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência“, que reunirá obras e performances de artistas indígenas aldeados de diferentes partes do país.
A mostra será aberta em etapas – ou em “fogueiras”, terminologia utilizada pela curadoria do projeto. Ela é assinada pela antropóloga e ativista indígena Sandra Benites e pelo curador-chefe do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, com a assistência de Rodrigo Duarte, artista visual e ativista socioambiental. O termo fogueiras (TATA YPY, a origem do fogo, em guarani) faz referência às práticas culturais ancestrais de reunião ao redor do fogo. Para a mostra, a palavra se refere aos encontros e debates que abrem cada etapa da exposição.
“É nas fogueiras que há compartilhamento e diálogo aquecido pela força e afeto. É o lugar de encontro de uma comunidade, um lugar de debate, tomadas de decisões, recontar nossas histórias e acordar memórias”, explicam os curadores.
Andrey Guaianá e debate com lideranças indígenas
A primeira fogueira, neste sábado (24/5), será marcada pela inauguração da obra comissionada de Andrey Guaianá Zignnatto, na Galeria Brasil, e por uma conversa entre público, artistas e lideranças indígenas no Salão das Convenções. Participarão Lutana Kokama, Vanda Witoto, Iracema Gãh Té Kaingang e Alice Kerexu Takua, além da curadora Sandra Benites. A atividade, que acontece das 14h às 17h, tem entrada franca. Também haverá transmissão ao vivo através de um link que será disponibilizado em www.sescrio.org.br.
Nascido em Jundiaí (SP), descendente de povos Tupinaky’ia e Gûarini, Andrey é reconhecido por trabalhos que fazem referência ao universo do labor. Neto de pedreiro, do qual foi ajudante quando criança, Andrey utiliza em suas obras materiais como sacos de cimento, tijolos, juntas de argamassa e fragmentos e sobras de intervenções urbanas. Sua intenção é provocar uma reflexão sobre a relação instável e dinâmica que o ser humano estabelece com o meio que o cerca.
Diversidade de povos
A fogueira seguinte será no dia 7 de junho, com o desenvolvimento das obras comissionadas, ou seja, desenvolvidas exclusivamente para a mostra. O público poderá acompanhar o processo de criação dos trabalhos, que envolverá instalações, pinturas e ilustrações. As peças serão criadas por artistas e coletivos de Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dos povos Desana, Baniwa, Anambé, Guarani Nhandeva, Xavante, Guarani, Mbya e Karapotó.
A composição do projeto prossegue no dia 10 de julho, coincidindo com o Festival Sesc de Inverno, quando serão apresentadas obras audiovisuais, incluindo mapping, e inaugurada a obra da artista Tamikuã Txihi no entorno do lago Quitandinha. Para o dia 9 de agosto está prevista a última fogueira, que completa a exposição, com obras que remetem à arte e à memória. A mostra se estenderá até fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência
De 24 de maio a 24 de fevereiro
Terça a domingo e feriados, das 10h às 16h30
Período
24 de maio de 2025 10:00 - 24 de fevereiro de 2026 16:30(GMT-03:00)
Local
Centro Cultural Sesc Quitandinha
Avenida Joaquim Rolla, 2, Petrópolis, Rio de Janeiro - RJ
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Como se constrói uma exposição de arte? Qual o papel de um curador de uma coleção? Na 69ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, somos convidados a conhecer a trajetória
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Como se constrói uma exposição de arte? Qual o papel de um curador de uma coleção? Na 69ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, somos convidados a conhecer a trajetória de um dos mais importantes pesquisadores das artes no Brasil, o curador, gestor cultural, crítico de arte e artista Paulo Herkenhoff.
A mostra – com curadoria de Leno Veras e da equipe do Itaú Cultural – apresenta documentos, fotografias, livros, obras de arte e diversos de seus cadernos de anotação para se debruçar sobre três aspectos fundamentais do trabalho de Paulo: o colecionismo, a curadoria de exposições e a edição de publicações de arte.
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, nosso homenageado tem um trabalho marcado pela investigação profunda da história da arte, da cultura e de seus protagonistas; pela tessitura de redes de saber e pelas ações estruturantes em museus e organizações nas quais atua, sempre preocupado com o fortalecimento das bases que sustentam as instituições culturais, garantindo sua perenidade e permanência. Como gestor e crítico, se engaja na construção de coleções e análises críticas que olhem e representem, de fato, a multiplicidade que constitui o país, e a transmissão de seus saberes inerentes.
Na juventude, ainda em Cachoeiro de Itapemirim, Paulo Herkenhoff cresceu imerso em uma escola criada e gerida por sua família. Foi nela onde começou a trabalhar na biblioteca aos 10 anos, ministrou aulas aos 14 e montou sua primeira curadoria, uma mostra dedicada ao estado da Paraíba, aos 6 anos. Frequentou a Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim, fundada por Isabel Braga em 1950 e, na década de 1970, foi aluno do artista Ivan Serpa. Foi inclusive enquanto aluno de Serpa que Paulo começou a carreira artística. Sua receptividade foi imediata, sendo premiado no Salão Universitário da PUC-Rio, no Salão de Verão, na exposição Valores Novos e na VII Jovem Arte Contemporânea. Nessa mesma década participou da Bienal de Veneza e da Bienal de Paris.
Seu sonho, desde a juventude, era trabalhar com diplomacia, que o leva a cursar Direito, carreira que deixaria de lado anos mais tarde para se dedicar à cultura e à arte. Foi Curador-chefe do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), Diretor Cultural do Museu de Arte do Rio (MAR), também com passagens pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), pelo Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA) e muitas outras organizações dentro e fora do Brasil. Foi responsável por curadorias que ficaram para a história da arte brasileira, como a 24ª Bienal Internacional de São Paulo, conhecida como a “Bienal da Antropofagia”; o Pavilhão brasileiro da 47ª Bienal de Veneza (Itália), o Salão Arte Pará, em dezenas de edições; o Tempo, no MoMA (Nova Iorque); Vontade Construtiva na Coleção Fadel, no MAM-RJ; entre outras. No Itaú Cultural, foi curador das mostras Investigações: o trabalho do artista (2000), Trajetória da Luz na Arte Brasileira (2001), Caos e Efeito (2011), Modos de Ver o Brasil: 30 anos do Itaú Cultural (2017) e Sandra Cinto: das Ideias na Cabeça aos Olhos no Céu (2020).
Além da exposição, a Ocupação Paulo Herkenhoff conta com um site e uma publicação – disponíveis na data de abertura – que expandem e aprofundam os conteúdos trabalhados na mostra, com textos do próprio homenageado, além de depoimentos de parceiros e pesquisadores sobre o legado de sua atuação para a arte brasileira.
Serviço
Exposição | Ocupação Paulo Herkenhoff
De 30 de agosto a 23 de novembro de 2025
Terça a sábado, das 11h às 20h, domingos e feriados, das 11h às 19h
Período
30 de agosto de 2025 11:00 - 23 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Sâo Paulo - SP
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O Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição A terra, o fogo, a água e os ventos – Por
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O Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant. Concebida como um museu em movimento e dedicada à obra e ao pensamento do poeta, filósofo e ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928–2011), a exposição integra a Temporada França-Brasil 2025 como um de seus principais destaques.
Com seu título inspirado na antologia poética La Terre, le feu, l’eau et les vents (2010), organizada pelo escritor martinicano, a mostra ensaia o que seria um “Museu da Errância”. Errância é uma vivência da Relação: recusa filiações únicas e propõe o museu como arquipélago – espaço de rupturas, apagamentos e reinvenções sem síntese forçada. Contra genealogias rígidas, propõe-se uma memória em trânsito, feita de alianças provisórias, traduções e tremores – um processo institucional movido pelo encontro entre tempos, territórios e linguagens. Ainda que Glissant tenha deixado fragmentos de sua visão para um museu do século 21, não chegou a concretizá-lo.
A exposição imagina como poderia ser esse Museu da Errância em múltiplas camadas e conexões inesperadas entre obras, documentos e paisagens. As duas ideias-chave da organização da montagem da exposição são a palavra da paisagem e a paisagem da palavra, concebidas a partir da concepção de Glissant de “parole du paysage”. Para o poeta, a paisagem não é apenas cenário externo, mas força ativa que molda memórias, gestos e linguagens.
Além disso, estão presentes em frases, manuscritos e entrevistas do autor outras ideias como Todo-mundo, crioulização, arquipélago, tremor, opacidade, palavra da paisagem e aqui-lá. Trata-se de um arco de assuntos interligados com profunda relevância no mundo contemporâneo, que mais uma vez se vê permeado por discursos e medidas de intolerância perante o diverso e incapaz de criar canais de escuta dos elementos naturais e das paisagens ameaçados de destruição.
É nesse horizonte que se apresenta, pela primeira vez no Brasil, parte da coleção pessoal reunida por Glissant e atualmente preservada no Mémorial ACTe, em Guadalupe. O conjunto inclui pinturas, esculturas e gravuras de artistas com quem o pensador conviveu e sobre os quais escreveu, como Wifredo Lam, Roberto Matta, Agustín Cárdenas, Antonio Seguí, Enrique Zañartu, José Gamarra, Victor Brauner e Victor Anicet, entre outros. São artistas de crescente reconhecimento internacional, que viveram trajetórias de diáspora e imigração, e produziram em trânsito entre línguas, linguagens, paisagens e histórias múltiplas.
À coleção de obras somam-se documentos, cadernos, vídeos e fragmentos de textos e entrevistas de Glissant, igualmente inéditos. A mostra apresenta também trechos da extensa entrevista concedida em 2008 a Patrick Chamoiseau, escritor martinicano e parceiro intelectual de Glissant, da qual resultou o monumental Abécédaire.
Este extenso e rico acervo é apresentado em diálogo com trabalhos de mais de 30 artistas contemporâneos das Américas, Caribe, África, Europa e Ásia, que convocam o público a experimentar, de forma sensorial, o entrelaçamento entre paisagem, linguagem e memória.
A exposição é parte da pesquisa de longo prazo do Instituto Tomie Ohtake em torno da produção de memória, a exposição dá sequência a iniciativas recentes como a mostra Ensaios para o Museu das Origens (2023) e o seminário Ensaios para o Museu das Origens – Políticas da memória (2024), que reuniu representantes de museus, arquivos e comunidades em um intenso debate sobre preservação e cidadania.
Serviço
Exposição | A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant
De 03 de setembro a 25 de janeiro
Terça a domingo, das 11h às 19h – última entrada às 18h
Período
3 de setembro de 2025 11:00 - 25 de janeiro de 2026 19:00(GMT-03:00)
Local
Instituto Tomie Ohtake
Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo – SP
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Ailton Krenak consolidou-se, ao longo dos anos, como um dos principais porta-vozes da causa indígena no Brasil e no exterior. Sua trajetória impulsionou um movimento coletivo para repensar
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Ailton Krenak consolidou-se, ao longo dos anos, como um dos principais porta-vozes da causa indígena no Brasil e no exterior. Sua trajetória impulsionou um movimento coletivo para repensar o mundo, trazendo para o centro do debate temas como humanidade, natureza, espiritualidade e futuro.
Um marco histórico aconteceu em 1987, quando ele pintou o rosto com jenipapo durante um discurso na Assembleia Constituinte, gesto que se tornou símbolo de resistência, um aviso de que os povos indígenas existem, resistem e têm muito a dizer.
A Ocupação Ailton Krenak, realizada pelo Itaú Cultural (IC), celebra esse percurso. Nascido em 1953, no Vale do Rio Doce (MG), ele é autor de obras fundamentais que se tornaram referência em tempos de crise, como Ideias para adiar o fim do mundo, A vida não é útil e Futuro ancestral. Além da produção literária, Ailton foi responsável por importantes iniciativas, como a criação do Programa de Índio, do Jornal Indígena e do Núcleo de Cultura Indígena (NCI), que ampliaram e fortaleceram a voz dos povos originários.
A mostra ocupa o piso térreo do IC e apresenta depoimentos, manuscritos e registros de uma vida dedicada a pensar caminhos fora da lógica do consumo e da destruição. O projeto inclui, ainda, uma publicação impressa (disponível on-line) e um site com conteúdos exclusivos (itaucultural.org.br/ocupacao).
Além da dimensão de homenagem, esta Ocupação – palavra que na língua Krenak se traduz como Men am-ním – é um convite a desacelerar, conceber outros horizontes e descolonizar o olhar.
Serviço
Exposição | Ocupação Ailton Krenak
De 04 de setembro a 23 de novembro
Terça a sábado, das 11h às 20h, domingos e feriados, das 11h às 19h
Período
4 de setembro de 2025 11:00 - 23 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Sâo Paulo - SP
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O Sesc Casa Verde inaugura os murais monumentais da artista Giulia Bianchi, criados especialmente para o espaço da Comedoria dentro do projeto “Mão, Terra, Fogo”. As quatro obras,
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O Sesc Casa Verde inaugura os murais monumentais da artista Giulia Bianchi, criados especialmente para o espaço da Comedoria dentro do projeto “Mão, Terra, Fogo”. As quatro obras, cada uma com 5 x 12 metros, totalizam 240 m² de pintura em tinta acrílica PVA — o equivalente à fachada de um edifício de 16 andares. Em dimensões grandiosas, os murais retratam alimentos emblemáticos da cultura brasileira: carne, alhos, peixes e bananas.
Intituladas Dança, Âmbar, Limiar e Terra, as pinturas se inserem no conceito de alimentação desenvolvido pelo Sesc, que entende a comida como expressão viva de identidades, territórios e modos de vida. Mais do que representações figurativas, os murais exploram os aspectos sensoriais e sinestésicos da pintura, evocando sabores, aromas e texturas que transcendem a imagem. A proposta conecta arte e alimentação em diálogo com questões atuais como sustentabilidade, biodiversidade e preservação de saberes tradicionais.
A pesquisa de Bianchi, marcada pelo contato com comunidades agrícolas do Vale do Ribeira e experiências internacionais, reflete em composições oceânicas que parecem expandir-se além das paredes, tensionando a fronteira entre o visível e o imaterial. As obras permanecem em exibição pública no Sesc Casa Verde até 19 de dezembro, reforçando o papel do espaço como ponto de encontro entre cultura, alimento e comunidade.
Serviço
Exposição | Mão, Terra, Fogo
De 20 de setembro a 19 de dezembro
Terça a sexta-feira, 10h às 18h30; sábados, domingos e feriados, 10h às 17h30
Período
20 de setembro de 2025 10:00 - 19 de dezembro de 2025 18:30(GMT-03:00)
Local
Sesc Casa Verde
Avenida Casa Verde, 327, Casa Verde, São Paulo - SP
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Intitulado Mil graus, o 38º Panorama da Arte Brasileira elabora criticamente a realidade atual do país sob a noção de calor-limite — uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se
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Intitulado Mil graus, o 38º Panorama da Arte Brasileira elabora criticamente a realidade atual do país sob a noção de calor-limite — uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se transforma. O projeto busca traçar um horizonte multidimensional da produção artística contemporânea brasileira, estabelecendo pontos de contato e contraste entre diversas pesquisas e práticas que, em comum, compartilham uma alta intensidade energética. Ao reunir artistas e outros agentes que abordam questões ecológicas, históricas, sociopolíticas, tecnológicas e espirituais, a exposição serve também como um ativador da memória e do debate público. Como conjunto, as obras driblam os limites da linguagem e seus sentidos preestabelecidos, revelando signos universais por meio de gestos e sotaques regionais. A ideia de uma temperatura oposta ao zero absoluto — ou seja, um quente absoluto — aponta os interesses destePanoramapor experiências radicais, condições extremas — climáticas ou metafísicas —, e estados transitórios — da matéria e da alma — que nos põem diante da transmutação como destino inevitável.
A série Panorama da Arte Brasileira, iniciada em 1969, é um marco na história das exposições. O primeiro Panorama da Arte Brasileira coincide com a instalação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) em sua sede, na marquise do Parque Ibirapuera. Com o começo da reforma da marquise, em 2024, o MAM saiu temporariamente de sua sede e deve retornar no início de 2025. O calendário e todas as atividades do MAM foram mantidos graças ao apoio e acolhimento de instituições parceiras que possuem laços históricos com o museu, como a Fundação Bienal de São Paulo, que recebeu parte de sua equipe, e o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) que, além de ceder espaço para os colaboradores, abriga o 38º Panorama da Arte Brasileira.
Desenvolvido pelos curadores Germano Dushá, Thiago de Paula Souza e Ariana Nuala, o projeto do 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus parte de uma expressão coloquial que possui múltiplos significados, mas sempre com o sentido de elevada intensidade. A mostra aponta para condições marcadas pelo calor, pelo derretimento e por mudanças drásticas em qualquer matéria existente. Na presente edição, o mundo contemporâneo é observado a partir de condições extremas, tanto no sentido de questões históricas e sociopolíticas, como em relação a discussões ecológicas e tecnológicas.
O MAM tem estabelecido parcerias com as instituições do eixo cultural do Parque Ibirapuera. Realizar o 38º Panorama da Arte Brasileira no MAC USP, além de uma aproximação histórica entre as duas instituições, é um momento de integração e soma de esforços em benefício da arte e seus públicos. O MAM agradece a receptividade do MAC USP.
Serviço
Exposição | Mil graus
De 5 de outubro a 26 de janeiro de 2026
Terça a sexta, das 9h30 às 21h30, sábado e domingo, das 10h às 18h
Período
5 de outubro de 2025 09:30 - 26 de janeiro de 2026 21:30(GMT-03:00)
Local
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP)
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Vila Mariana, São Paulo – SP
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Retratando a cidade maravilhosa através da força da arte nordestina, o Museu Chácara do Céu – localizado no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro – abre as portas para
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Retratando a cidade maravilhosa através da força da arte nordestina, o Museu Chácara do Céu – localizado no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro – abre as portas para a exposição inédita ‘O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras’.
Com entrada gratuita, a programação celebra a trajetória do artista plástico Ciro Fernandes e a sua paixão pelo Rio de Janeiro, por meio de 76 obras autorais que transitam entre a técnica milenar da xilogravura e demais estilos, como pinturas, calcogravuras, litogravuras e nanquim.
Pensada para todos — amantes da arte, turistas e moradores que buscam um programa cultural enriquecedor, a exposição apresenta obras que dialogam com as narrativas populares da região e revelam a versatilidade do xilogravador, pintor, ilustrador, escritor e luthier, Ciro Fernandes, em diferentes linguagens visuais.
A vernissage, que acontecerá das 12h às 16h30, no dia 18 de outubro, contará com uma recepção especial para jornalistas, amigos, admiradores e personalidades conhecidas da cena artística, com direito à coquetel e entrevistas exclusivas com Ciro Fernandes.
Ainda durante a cerimônia de abertura, os convidados poderão desfrutar de uma apresentação inédita de música brasileira, trazendo a sonoridade carioca em diálogo com a experiência visual da exposição. Na ocasião, o violonista e compositor Jean Charnaux assina um show especial com direito a uma vista deslumbrante do Rio de Janeiro.
Distribuindo as obras em diferentes núcleos temáticos, a mostra inicia com ‘O Rio de Ciro: um Caso de Amor’, que retrata a chegada do artista ao Rio de Janeiro e sua paixão pela cidade, com obras que capturam o ciclo urbano e cotidiano dos cariocas. O próximo núcleo da mostra, ‘Lapa e Seus Mistérios’, revela a atmosfera boêmia e cultural do bairro, destacando figuras icônicas como Madame Satã e eternizando a diversidade e a essência das ruas.
A exposição segue conectando o público às raízes nordestinas por meio dos núcleos ‘A Tradição Cordelista Chega à Cidade Maravilhosa’, que narra a forma como o artista retomou a xilogravura nos cordéis urbanos da capital; e ‘A Natureza Exuberante de Ciro’ (Sala Imersiva), que transporta os visitantes para dentro de uma sala de vidro com obras do artista em formato de ‘lambe-lambes’ e adesivos, permitindo que as obras dialoguem com a vista panorâmica do Rio de Janeiro.
Integrando diferentes formatos, a exposição não se restringe apenas a xilogravura, podendo também ser apreciadas as pinturas em tinta acrílica sobre tela; calcogravuras e litogravuras; ilustrações; artes em nanquim; além de capas de cordéis, LPs, matérias de jornal e livros de grandes escritores ilustrados pelo artista.
Os participantes ainda poderão se inspirar e imergir no cenário criativo de Ciro Fernandes, a partir da exibição de suas ferramentas de trabalho, como a prensa, materiais de entalhe e as matrizes de madeira das obras. Tais instrumentos auxiliaram a ditar as dimensões variadas das obras, sendo a menor com proporções de 28 x 32cm e a maior com 90 x 220cm.
Dentro da exposição, os visitantes poderão contemplar obras como Cardeal (Xilogravura – Ano 2022 – 96 x 33 cm); Massacre da Candelária (Tinta acrílica sobre tela – Ano 1990 – 80 x 120 cm); São Jorge Ogum (Xilogravura – Ano – 65 x 160 cm); Além de Amanhecer (Xilogravura – Ano 2022 – 28 x 38 cm), Lapa (Xilogravura – Ano 1979 – 65 x 96 cm), e Madame Satã (Xilogravura – Ano 1979 – 64 x 47 cm).
Como medida de democratização do acesso à cultura, a exposição contará com quatro oficinas programadas para crianças de escolas públicas da região de Santa Teresa. Usando gravuras de material reciclado (Tetrapack), os workshops trazem atividades lúdicas e culturais para as crianças, abordando a natureza do Rio de Janeiro e buscando a representação dos pássaros da cidade, à espelho do que inspira Ciro Fernandes.
Acessibilidade e inclusão na exposição nacional ‘O Rio de Ciro’
Ampliando o acesso à arte, a exibição da mostra contará com ferramentas que trazem mais acessibilidade às obras para os visitantes. As matrizes presentes possuem parte tátil que possibilitam o toque; o espaço é preenchido por placas em braille para os textos de parede, audiodescrição e legendas estendidas das principais obras. Ainda, o evento oferecerá também visitas guiadas com monitores especializados em dias específicos.
A exibição possui curadoria de Mariana Lannes, diretora de produção cultural e idealizadora de projetos artísticos, com atuação nacional em música, artes visuais, cultura popular e impacto social; além de Alessandro Zoe, que é fundador do escritório de gestão artística CRIVO, somando mais de 8 anos de experiência à frente de produções culturais em teatro, música e artes visuais.
Ciro Fernandes, no auge dos 83 anos, é um dos maiores nomes da cena artística brasileira, sendo considerado um patrimônio vivo da xilogravura no país. Com uma trajetória marcada por seus traços expressivos, por sua originalidade e pelo compromisso com a preservação das tradições nordestinas, Ciro continua a inspirar novas gerações para ampliar as fronteiras da arte popular.
O projeto é contemplado pelo edital Pró-Carioca, programa de fomento à cultura carioca, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura.
Serviço
Exposição | No Canto Escuro da Praia do Lázaro
De 18 de outubro à 30 de janeiro
Diariamente, das 10h às 16h30, exceto às terças-feiras
Período
18 de outubro de 2025 10:00 - 30 de janeiro de 2026 16:30(GMT-03:00)
Local
Museu Chácara do Céu
Rua Murtinho Nobre, 93 - Santa Teresa, Rio de Janeiro - RJ
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A Galeria Kovak & Vieira, localizada nos Jardins, em São Paulo, inaugura as exposições individuais “Instantes Suspensos”, de Alexandre Skaff, e
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A Galeria Kovak & Vieira, localizada nos Jardins, em São Paulo, inaugura as exposições individuais “Instantes Suspensos”, de Alexandre Skaff, e “Caminho”, de Rafael Calazans, conhecido como Highraff. Com curadoria de Luiza Testa, ambas permanecem abertas ao público, com entrada gratuita, até 22 de novembro de 2025.
Embora distintas em técnica e linguagem, as duas mostras se aproximam poeticamente ao abordar percepções, memórias e sentimentos que atravessam o tempo e a experiência de cada artista — criando pontos de encontro entre passado, presente e subjetividade.
Alexandre Skaff — A poética do instante
Em “Instantes Suspensos”, Alexandre Skaff apresenta 12 pinturas em óleo sobre tela que capturam fragmentos do cotidiano e transformam o comum em poético. A partir de seu arquivo pessoal de fotografias, o artista busca deter o instante efêmero — um gesto de resistência à aceleração do tempo contemporâneo.
Formado em arquitetura, Skaff transporta para a pintura seu olhar atento à luz, à composição e ao espaço, construindo camadas que evocam simultaneamente a materialidade da vida e a delicadeza da memória.
Como observa a curadora Luiza Testa, “camadas da memória se sobrepõem, criando uma sensação de nostalgia atual. Somos desafiados a distinguir o que é o passado revisto sob o olhar maduro da vida e o que ressoa de nossa própria história.”
Highraff — Do urbano ao simbólico
Em “Caminho”, Highraff apresenta 15 obras inéditas que marcam um ponto de inflexão em sua trajetória. Reconhecido por sua atuação no universo da street art, o artista leva ao ateliê uma estética que une design gráfico, abstração geométrica, arte cinética e simbologia.
Segundo Luiza Testa, “Caminho marca uma curva em sua trajetória: é o momento em que ele passa das ruas para o ateliê; isso vem acompanhado da consolidação da matemática e da geometria, que tomam um lugar antes dominado pela intuição.”
A série reflete uma busca espiritual e simbólica, na qual as formas geométricas ganham nova densidade e significado — revelando o equilíbrio entre racionalidade e emoção que atravessa a pesquisa do artista.
Serviço
Exposições | Instantes Suspensos e Caminho
De 22 de outubro a 22 de novembro
Segunda à sexta-feira das 11h30 às 19h e aos sábados das 11h30 às 16h30, domingos apenas com agendamentos
Período
22 de outubro de 2025 11:30 - 22 de novembro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Kovak & Vieira
Rua Conêgo Eugênio Leite, 150 – Jardins - São Paulo - SP
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Desejo negativo é uma exposição coletiva na Martins&Montero, que investiga a teoria queer para traçar uma crítica às lógicas da reprodutibilidade – entendida aqui não apenas como processo biológico de
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Desejo negativo é uma exposição coletiva na Martins&Montero, que investiga a teoria queer para traçar uma crítica às lógicas da reprodutibilidade – entendida aqui não apenas como processo biológico de repetição, mas como princípio normativo que sustenta o mundo hegemônico, colonial, estabelecido.
Com curadoria da artista Jota Mombaça, a mostra propõe um exercício de recusa e invenção que lança, sobre o presente, um “raio negativo” – expressão que evoca não só o desejo pela destruição do mundo tal qual o conhecemos, mas também o desejo de interromper a recorrência das formas impostas de existir. A exposição reúne artistas que cultivam, em suas práticas, esse gesto de desfazimento: não como negação estéril, mas como abertura para imaginar o que emergiria depois.
O ponto de partida é a obra do artista Hudinilson Jr., figura incontornável da arte brasileira que trabalhou com o corpo, a cópia e o cotidiano como territórios de experimentação. Sua relação com o xerox e a xerografia forma uma poética da reprodução desviada que distorce, desmonta, reencena a sua própria imagem.
A curadoria se aproximou de Hudinilson Jr. também por meio de uma visita a seu apartamento-ateliê, ainda impregnado por sua presença. A exposição propõe uma espécie de reimaginação sensível desse espaço íntimo: acúmulos, assimetrias, camadas de vida que se sobrepõem à investigação com os limites do corpo e do espaço.
Ao lado de Hudinilson Jr., a exposição reúne duas artistas de gerações distintas da sua, cujos trabalhos se entrelaçam na mesma inquietação com o mundo e sua reprodução compulsória. Bruna Kury, artista carioca, transita por colaborações e coletividades, como o coletivo Coiote. Sua obra tensiona os regimes de autoria e de poder, criando alianças com corpos em dissidência. Zines, frases contestatórias e gestos táticos compõem um repertório de insurgência que faz da reprodutibilidade um campo de disputa estética e política. Tetê, artista paraense, opera entre a poesia visual e a fotografia. Seus poemas- diagramas e publicações – tanto impressas quanto digitais – constroem mapas afetivos que desmontam a linearidade do sentido. Sua pesquisa atravessa a linguagem, a imagem e o desejo de reescrever o mundo desde a sua fratura.
Entre esses três artistas pulsa um movimento antissocial, no sentido mais profundo da palavra: o de recusar o pacto com uma sociedade que exclui, normatiza e corrige. Há, nas obras dos três artistas, o desejo de que o mundo “se desfaça” – ou ao menos, que deixe de se repetir como está. Um desejo negativo e vital: não pelo fim em si, mas pelo fim como abertura para outra coisa.
Paradoxalmente – ou justamente por isso – suas práticas recorrem à cópia, ao digital, à colagem, à fotografia. A técnica da reprodutibilidade, neste contexto, não reafirma a si mesma, mas é tomada como fissura, como espaço de reconfiguração, ressignificando essa ideia que é tão técnica quanto política. São obras não negam a repetição, mas a sabotam por dentro, reinventando seus contornos e possibilidades.
A curadoria de Jota Mombaça imagina-se como um ensaio visual sobre os limites do presente e as possibilidades de sua dissolução. Com uma trajetória que entrelaça performance, poesia e teoria crítica, Mombaça constrói, nesta exposição, um espaço de fricção entre o fim e o porvir. Não se trata apenas de imaginar o colapso do mundo tal como ele foi estruturado, mas de convocar imagens, gestos e práticas que antecipem o que pode emergir quando o mundo acabar. Nesse intervalo entre ruína e reinvenção, Desejo negativo especula que o mundo pode não continuar do mesmo jeito — e que isso seja uma boa chance.
Serviço
Exposição | Desejo negativo
De 30 de outubro a 30 de dezembro
Terça a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 16h
Período
30 de outubro de 2025 10:00 - 30 de dezembro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Martins & Montero
R. Jamaica, 50 - Jardim America, São Paulo - SP
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Reconhecida como uma das designers mais influentes de sua geração, com projetos gráficos consistentes de artistas destacados na atualidade, como Giselle Beiguelman, Ana Frango Elétrico, Dora Morelenbaum, Céu,
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Reconhecida como uma das designers mais influentes de sua geração, com projetos gráficos consistentes de artistas destacados na atualidade, como Giselle Beiguelman, Ana Frango Elétrico, Dora Morelenbaum, Céu, Theo Croker e Gregório Duvivier, entre outros, Maria Cau Levy traz para o Lapa Lapa, a exposição inédita 1+1, desenvolvida ao longo de dez anos entre o ensino, o desenho e a prática artística. A curadoria é da arquiteta e pesquisadora Gabriela de Matos.
Essa será a primeira vez que Maria Cau Levy, professora da Faculdade de Arquitetura da Escola da Cidade, em São Paulo, traz uma exposição individual ao Brasil. Em 2024, ela realizou uma mostra individual em Tóquio, no Japão. 1+1, mostra focada na sua pesquisa sobre estamparia e padrões geométricos, reúne 13 obras que sintetizam esse percurso.
Formada em arquitetura, Cau explora no campo bidimensional a repetição, o movimento, o jogo entre diferentes escalas e a bioarte, desdobrando a noção de projeto para o território do sensível. A artista mestra pela FAU-USP, com pesquisa dedicada ao construtivismo russo, traz esse cruzamento de campos do conhecimento.
“O design de padrão é uma paixão de longa data. Me impressiona esse tipo de desenho que, efetivamente, configura um projeto sempre inconcluso: inacabado, pois nunca o apreendemos em sua totalidade. Talvez pelo fato de que sua principal característica seja a de extrapolar a imagem estática, constituindo uma imagem-viagem que nos propicia o contínuo mergulho num horizonte extenso”, comenta a artista.
Em 1+1, o público poderá prestigiar as séries Papers 1–4 e Abstratos, desenvolvidas entre 2017 e 2024, expostas originalmente na exposição Circulatory Pattern que ocorreu em Tóquio, no ano passado com texto do arquiteto e pesquisador Ciro Miguel. A mostra inclui também uma vídeo-arte desenvolvida a partir de imagens obtidas com um microscópio de alta resolução, que revela a estrutura celular da madeira pinus. A obra foi realizada sob supervisão da bioartista americana Suzanne Anker. Além disso, o público poderá conferir o registro audiovisual de uma performance concebida em colaboração com os artistas Kiko Dinucci e Gustavo Infante
“A expressão ‘construção no plano infinito’ é aquela que, para mim, melhor alude ao design de padrão: um autêntico projeto concebido para um plano potencialmente sem fim. Uma construção em estado bruto, um embrião de algo que pode vir a ser”, complementa Cau sobre as obras selecionadas para a mostra.
A curadoria é de Gabriela de Matos, arquiteta e pesquisadora, diretora criativa do Estúdio Superdimensão, que investiga as relações entre arquitetura, memória e diáspora africana na cultura do Brasil, articulando pesquisa, crítica, ensino e prática. É também diretora artística e executiva do Instituto Cambará, organização dedicada ao fomento da arquitetura afro-brasileira, e doutoranda na TU Eindhoven (Holanda), onde desenvolve estudos sobre teoria, crítica e curadoria em arte contemporânea e arquitetura. Gabriela foi curadora do Pavilhão Brasileiro na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2023, com o projeto Terra, laureado com o inédito Leão de Ouro.
Serviço
Exposição | 1+1
De 01 a 09 de novembro
Terça a sábado, das 14h às 19h
Período
1 de novembro de 2025 14:00 - 9 de novembro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
lapa Lapa
Rua Afonso Sardinha 326. Lapa - SP
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá de Min, Heitor dos Prazeres, Juarez Paraíso, Lita Cerqueira, Maria Apparecida Urbano, Rafa Bqueer e Rosa Magalhães.
A mostra no edifício Pina Contemporânea expõe 200 obras dentre adereços, projetos de decoração e documentação histórica em fotografia e vídeo, além de comissionamentos de projetos inéditos dos artistas Adonai, Ana Lira e Ray Vianna.
Dividida em quatro temas – Fantasia, Trabalho, Poder e Cidade, “Trabalho de Carnaval” apresenta a maior festa popular do país como uma cadeia produtiva que envolve o trabalho das muitas mãos desde antes mesmo da festa acontecer, ao mesmo tempo em que alude à precariedade e invisibilidade desses profissionais.
NÚCLEOS TEMÁTICOS
O núcleo Fantasia faz referência a dois elementos característicos do carnaval: o ato de se fantasiar e a força da imaginação. Projetos e croquis integram a parte central da Grande Galeria, como os estudos de J. Cunha para o carnaval de Salvador e Joana Lira para as decorações de rua do Recife.
Discussões sobre as condições de trabalho da festa são apresentadas no núcleo Trabalho, no qual são apresentadas obras que trazem à tona a representatividade dos trabalhadores.
A relação entre carnaval e espaço urbano ou rural aparece no núcleo Cidade por meio de representações de blocos, cordões, afoxés e outras formas de cortejos. O núcleo reúne obras como as fotografias realizadas por Diego Nigro no bloco de carnaval Galo da Madrugada (2025).
Por fim, o núcleo Poder celebra os encontros de trabalhadores dos canaviais em Pernambuco transformando-se em reis e rainhas do maracatu, assim como mulheres negras e grupos periféricos marginalizados se tornando, por alguns dias, as figuras de comando durante a festa na Bahia: Deusas de Ébano, Reis Momos, Rainhas do Carnaval.
Serviço
Exposição | Trabalho de Carnaval
De 8 de novembro de 2025 a 12 de abril de 2026
Quarta a segunda, das 10h às 18h
Período
8 de novembro de 2025 10:00 - 12 de abril de 2026 18:00(GMT-03:00)
Local
Pinacoteca Contemporânea
Av. Tiradentes, 273, Luz, São Paulo - SP
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A Galeria Estação apresenta a exposição “Eu sou o Silva”, dedicada à obra de José Antônio da Silva, um dos grandes nomes
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A Galeria Estação apresenta a exposição “Eu sou o Silva”, dedicada à obra de José Antônio da Silva, um dos grandes nomes da arte brasileira do século XX. A mostra celebra o sucesso internacional do artista e marca a itinerância da exposição “Pintar o Brasil”, que iniciou no Musée de Grenoble, na França, abrindo o Ano Cultural Brasil–França 2025, e passou pela Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Agora, parte dessa celebração chega ao Museu de Arte Contemporânea da USP, acompanhada por uma nova seleção de obras do acervo da Galeria Estação e de colecionadores particulares.
Com curadoria de Paulo Pasta, a exposição revisita o legado de Silva, cuja pintura segue viva e atual, constantemente reinterpretada por novas gerações. Sua obra transcende o rótulo de “primitiva” e reafirma o artista como um criador de linguagem própria — alguém que reinventou a pintura brasileira ao unir forma e conteúdo, realidade e imaginação, vida e arte. Sua trajetória reflete uma busca incessante pela expressão autêntica da paisagem, da cultura e do povo do interior do Brasil.
Silva sempre se reconheceu como um intérprete da natureza e da vida rural, transformando cenas do cotidiano em imagens poéticas e simbólicas. Em sua pintura, o real e o fantástico convivem, revelando uma percepção singular da transformação da paisagem e das tensões entre progresso e tradição. Essa atual leitura de sua obra também ressoa com as preocupações contemporâneas sobre meio ambiente e identidade cultural.
Mais do que uma retrospectiva, “Eu sou o Silva” é uma afirmação da força e da atualidade de sua pintura. A exposição convida o público a redescobrir um artista que aprendeu com a própria experiência e que soube transformar o popular em sofisticação estética. Reunindo obras raramente vistas em São Paulo, a mostra reafirma José Antônio da Silva como um dos grandes intérpretes visuais do Brasil.
Serviço
Exposição | Eu sou o Silva
De 13 de novembro a 23 de dezembro
Segunda à sexta das 11h00 às 19h00, sábado das 11h às 15h00
Período
13 de novembro de 2025 11:00 - 23 de dezembro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Estação
Rua Ferreira de Araújo, 625 - São Paulo - SP








