SP-Arte Feiras
"Partículas de Amor", de Luiz Zerbini (2020). O artista é representado pela Fortes D'aloia & Gabriel. Foto: Pat Kilgore. Cortesia Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo/Rio de Janeiro.

*Por Giulia Garcia e Miguel Groisman

 

Cinco meses após o anúncio do cancelamento, devido à pandemia de Covid-19, da feira presencial que ocorreria na primeira semana de abril, a SP-Arte realiza sua volta ainda em 2020 com uma nova plataforma digital. O SP-Arte Viewing Room acontece entre os dias 24 e 30 de agosto e conta com mais de 130 expositores. “Este novo formato virtual tem funcionado muito bem para nós mesmo com um público ainda tímido em adquirir obras através da internet”, salienta Eduardo Mansini, diretor da Galeria Athena. Ele destaca que nos meses de julho e agosto o mercado voltou à ativa e que, dado o fato de não ter ocorrido a SP-Arte no início do ano, sua expectativa é grande para esta edição.

A adesão da SP-Arte ao virtual integra o paradigma observado ao redor do mundo decorrente das medidas de isolamento implementadas no globo; primeiro surgindo como soluções temporárias, depois como alternativas. Talvez presencial e online possam coexistir num futuro pós-pandêmico, e foi essa a questão posta pela arte!brasileiros a algumas das galerias mais relevantes no cenário nacional. Suas reflexões, abordando limitações e benefícios do formato digital, e até as funções da feira, podem ser conferidas a seguir:

À distância 

Para os galeristas entrevistados, as feiras são momentos de criação de vínculos e contatos, necessários ao mercado da arte. Como aponta Márcio Botner, fundador d’A Gentil Carioca, um galerista não é apenas um vendedor de obras de arte, “ele vende história, confiança e troca. Então, transcende a questão de uma simples compra”. Isso deve ser levado às feiras, quaisquer que sejam os formatos. “Como nas feiras presenciais, o mais importante é o desenvolvimento de relações com colecionadores, conhecer novos interessados e divulgar os artistas da galeria. E, na eventualidade de fazer negócios, melhor ainda”, diz Murilo Castro, diretor da galeria homônima. 

“Investimos muito, nos meses recentes, em exposições virtuais e plataformas digitais. No entanto, sabemos que a arte é uma experiência que merece ser vivida e isso o online não dá conta por si só”, aponta Alexandre Gabriel, diretor da Fortes D’Aloia e Gabriel. Para os expositores, o ambiente digital apresenta novos desafios em relação à aproximação com os colecionadores, apresentação das obras e envolvimento de novos clientes. “É claro que a questão online cria uma distância muito grande. Você não tem esse momento de encontro, essa oportunidade de um estar contagiando o outro culturalmente, de uma maneira mais sensível”, explica Botner.

“A gente sabe que a arte precisa de um desejo, precisa de um impulso, ninguém morre se não comprar arte”, diz Márcio Botner, fundador da galeria A Gentil Carioca


Novo[s] formato[s]

O diretor d’A Gentil Carioca acredita que para diminuir essa distância seria necessária a criação de uma “experiência” na plataforma virtual. “Sinto muita falta de algo que seja personalizado. Algo que te traga quase que o cheiro da galeria, que te faça sentir parte do evento. Ainda não vejo isso dentro desse formato da SP-Arte”. 

Entretanto, Eduardo Masini destaca que o SP-Arte Viewing Room é mais elaborado que outras plataformas trazidas por feiras de porte semelhante. “Ela possui diversos recursos que proporcionam a cada expositor montar o seu perfil e sua página de obras de diferentes maneiras. Assim, faz com que a experiência do público ao visitá-la se torne mais dinâmica e não tão cansativa como nas primeiras feiras online que surgiram no início deste ano”, afirma. Além da SP-Arte, a Athena participou da Not Cancelled, feira online brasileira que ocorreu em julho de 2020. Bem como a Galeria Marilia Razuk, que esteve também na Frieze Nova York. 

Razuk, por sua vez, concorda com Botner sobre a necessidade de se criar um espaço de experiência e troca no virtual. Já vê, porém, as funcionalidades do SP-ArteVR cumprindo parte desse papel e sendo um possível atrativo para os colecionadores. Para ela, os ambientes virtuais criados tornam o evento mais interessante para quem o frequenta e devolvem “um pouco daquele glamour que existia nas feiras presenciais” com a programação paralela. Além da exposição, o SP-ArteVR contará com debates online, entrevistas com artistas e curadores, apresentação de trabalhos, entre outras atividades gratuitas promovidas pela feira e pelos expositores.

Razuk supõe que as vantagens da SP-Arte sobre o novo formato se dão pelo momento em que o viewing room acontece. “Ela [Fernanda Feitosa] teve tempo para observar outras feiras e se organizar para o online”. Botner concorda e nota que as feiras estão se adaptando a esse novo formato e tendem a se aperfeiçoar com o passar do tempo. “As primeiras feiras de maior relevância (como Basel e Frieze Nova York) eram gratuitas. Agora, a SP-Arte e a Frieze Londres começam a cobrar um valor das galerias. Isso demonstra um desejo das feiras de conseguirem se adaptar a esse novo momento. Da mesma forma, as galerias, os colecionadores e os artistas também terão que se adaptar”, conta. 

Liberdade expositiva

A exibição das obras também é alterada pelo meio virtual. Enquanto em uma feira física cada galeria dá conta de um espaço no pavilhão da Bienal, na versão online as obras estão dispostas nas páginas virtuais de cada expositor e, também, individualmente com maior detalhamento da peça. 

Isso trouxe alterações na escolha das obras por parte de algumas galerias. “Para a feira online escolhemos um número maior de obras que normalmente não levaríamos para a feira física por causa das suas dimensões. Possivelmente levaríamos uma quantidade menor de esculturas”, conta Erica Schmatz, da Almeida e Dale. Thais Hilal, da OÁ Galeria, afirma que o evento online deu a oportunidade de apresentar um projeto desenvolvido para a ocasião, um solo do artista Hilal Sami Hilal, que “se fosse presencial não teria espaço físico correspondente ao espaço que trabalhamos, que é a própria galeria”.

Para Alexandre Gabriel, “as feiras online têm suas vantagens, como apresentar obras que estão fisicamente em diferentes lugares do mundo, sem precisar transportá-las. Ou até mesmo mostrar obras que não são possíveis de serem instaladas em um estande no pavilhão da Bienal, como a escultura do Ernesto Neto”. A estratégia de Márcio Botner, porém, foi na direção oposta. A Gentil Carioca leva à SP-Arte obras menores de seus melhores artistas. “Os colecionadores terão uma oportunidade de ver pequenas grandes jóias de cada um dos artistas da Gentil.”

Futuro híbrido

Na fala dos galeristas fica mais claro a visão de um futuro híbrido, fundindo aos formatos tradicionais a interação do mundo virtual. Não se trata de algo totalmente novo, embora ainda não tivesse sido adotado com tal escala: “Essas eram mudanças já anunciadas. Só que foi dado um enfoque muito maior pra esse tipo de ação, porque ela acabou sendo a principal nesse momento. Acredito que no futuro uniremos as duas formas, porque o presencial é muito importante, mas o virtual te leva aonde o presencial não consegue”, diz Marilia Razuk. E ela complementa: “Não podemos estar em todos os lugares do mundo para estar em todas as feiras. Então a forma virtual possibilita entrar em contato com o que está acontecendo sem ter que se deslocar”.

Indo ao encontro dessa fala, Marcos Amaro – um dos diretores da Galeria Kogan Amaro e presidente da FAMA – acredita que esse é um “processo irreversível”. Isso não significa, porém, o fim das edições presenciais, tendo em vista que há entre os galeristas “o desejo de voltar a circular, poder se encontrar, ir às instituições culturais”, como nota o diretor d’A Gentil Carioca.

“Quando tivermos as [feiras] presenciais, vai ser uma espécie de concorrência. Não vai ser muito fácil, mas ela pode ser um segundo módulo do evento presencial. As feiras podem ter os dois formatos, diz Marilia Razuk


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