Nuno Ramos, "Waiting for my wings", 2022, no projeto "The Square", realizado na Casa de Vidro. Crédito: Cortesia/Fortes D'Aloia & Gabriel
Nuno Ramos, “Waiting for my wings”, 2022, no projeto “The Square”, realizado na Casa de Vidro. Crédito: Cortesia/Fortes D’Aloia & Gabriel

Até este sábado (3/6), a Casa de Vidro recebe a terceira edição do The Square, projeto artístico da marca italiana Bottega Veneta, que passou por Dubai e Tóquio. A iniciativa – cujo objetivo é fazer uma ativação cultural em cada destino, com artistas locais – é comandada por Matthieu Blazy, diretor criativo da marca, e teve curadoria de Mari Stockler. Vale ressaltar que, em São Paulo, o The Square ganhou uma singularidade: ao invés de ser montado numa estrutura cenográfica, como nas edições anteriores, a antiga morada de Lina Bo Bardi (1914-1992), no Morumbi, foi escolhida pelo próprio Blazy, conhecedor e admirador do trabalho arquiteta, para abrigar o projeto, que tem trabalhos de quase 50 artistas.

O convite a Mari Stockler para assumir a curadoria foi feito em fevereiro deste ano. O primeiro desafio, conta Mari, foi entender como seria montar a exposição num espaço de grandes dimensões como a Casa de Vidro. A curadora decidiu, então, criar quatro percursos nas áreas interna e externa da morada, levantando questões sobre tempo, geometria e espiritualidade, raízes tropicais (com alusões ao movimento neoconcreto, à importância de Salvador na trajetória de Lina e às origens da Tropicália), e, por fim, um percurso sobre o surgimento da Bossa Nova.

A divisão em percursos tinha um propósito bem prático: Mari queria evitar que cada ambiente tivesse um acúmulo de visitantes, o que eventualmente prejudicaria o entendimento de sua proposta curatorial e a observação das obras. As visitas também são agendadas, de modo que não haja um excedente de público num mesmo momento.

Para a seleção de artistas, a curadora achou importante mesclar nomes consagrados com artistas em início de carreira, autodidatas ou com experiência acadêmica, num elenco que também refletia a diversidade da produção de diferentes lugares do Brasil, não apenas do eixo Rio-São Paulo. Entre os convidados estão Ibã Sales, Vivian Caccuri, Luiz Zerbini, Carlito Carvalhosa, Rosana Paulino, Cristiano Lenhardt e Leda Catunda. A mostra tem também criações de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Augusto de Campos, Mestre Guarany e Surubim Feliciano da Paixão, entre outros.

“A Lina era decolonial muito antes da museologia e dos curadores chegarem a esse lugar de reflexão. Ela via inteligência em objetos populares e, naquele espaço, colocava, ao lado de um móvel do século 18, uma jarra de metal feita de lata de óleo”, diz Mari à arte!brasileiros, ressaltando que seu olhar foi formado a partir da produção e do pensamento de Lina Bo Bardi, revelados em mostras da arquiteta dos anos 1980, como Caipiras, Capiaus: Pau-a-pique, montada no Sesc Pompeia, um de seus projetos arquitetônicos mais emblemáticos.

No dia da inauguração, em uma referência aos saraus que Lina abrigava em sua morada, o projeto teve bate-papos com alguns dos artistas convidados, como Lenora de Barros e Arnaldo Antunes, e mediadores, como Keyna Eleison, uma das curadoras da primeira Bienal das Amazônias, além de um breve show de Alaíde Costa, acompanhada do violonista João Camarero. Os encontros foram gravados e, em breve, estarão disponíveis online, num hotsite do projeto.

Para preparar-se para The Square, a curadora conta que leu livros diversos acerca da casa e de Lina, evitando biografias, “um partido que tomei porque elas desmistificam muito” os personagens abordados. Leu, ao invés, títulos como Lina Bo Bardi – Obra construída, de autoria de Olivia de Oliveira e com foco nos projetos da arquiteta que foram executados; um livro sobre a Casa de Vidro produzido pelo próprio Instituto Bardi, diversas teses acadêmicas e ainda artigos de Ecléa Bosi, Marcelo Ferraz e Frederico Morais, entre outros.

Outro aspecto ímpar da edição brasileira de The Square foi a publicação de uma caixa com quatro livros que detalham o projeto. A edição foi feita em apenas três semanas, segundo a curadora. “Eu não queria que o projeto tivesse cara de exposição, com plaquinhas identificando cada obra e respectivo artista. Queria que houvesse fluidez entre o que já era da casa e o que eu iria trazer para dentro dela”, conta. A ideia inicial era criar apenas uma brochura para nomear as obras e seus criadores. Mas a marca acabou abraçando a ideia de uma publicação mais ambiciosa, que também reúne fotos das obras em exibição, mapas dos percursos, artigos e, claro, conta a história de Lina e de sua Casa de Vidro.

SERVIÇO
The Square São Paulo
Até este sábado, 3/6
Curadoria: Mari Stockler – R. Gen. Almério de Moura, 200 – Morumbi, São Paulo (SP)
Visitação: nesta sexta (2/6) e amanhã, das 10h às 16h
Entrada gratuita; agendamento neste site

 


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