Exibição de obras do 20° Sesc_Videobrasil: à esquerda, 'Contornos', de Ximena Garrido-Lecca, e, ao fundo, 'Há terra!', de Ana Vaz. FOTO:: Everton Ballardin

Ao abrir a convocatória para a próxima edição do Sesc_VideoBrasil, as entidades parceiras trouxeram uma novidade: decidiram substituir o título “festival” por “bienal”. A mudança tem como objetivo colocar-se de forma mais explícita no contexto global da arte. Até o dia 10 de agosto, serão recebidas, portanto, as inscrições para a 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_VideoBrasil.

Para Solange O. Farkas, fundadora da Associação Cultural Videobrasil e curadora do projeto, que este ano também tem no painel curatorial Gabriel Bogossian, Luísa Duarte e Miguel López, as atualizações – como a mudança do nome – já são comuns na história do Sesc_VideoBrasil. “Eu chamo de fases. Já passamos por várias delas, fomos de um festival nacional apenas de vídeo para um festival internacional focado nos países do Sul geopolítico. Depois tornou-se um festival mais híbrido, não apenas de uma linguagem como o vídeo, mas pensando em mais linguagens”, explica Solange. Desta forma, as alterações tornaram-se coisas comuns em seu julgamento.

A mudança no nome não modifica bruscamente o projeto. Afinal, ele já tinha todas as características de uma Bienal: acontece de dois em dois anos, volta-se para a arte contemporânea e tem um recorte para uma área do planeta (o Sul). Solange acredita que é esse recorte geopolítico que enfatiza o papel particular do Sesc_VideoBrasil como uma Bienal: “Não é apenas mais uma Bienal, é uma Bienal que tenta suprir uma lacuna importante. Uma Bienal que dá voz a essa produção desse lugar do mundo que ainda tem dificuldade de acesso e visibilidade”.

Proposta

Usando uma estratégia comum a bienais, o projeto adota a iniciativa de partir de um conceito. “A partir de agora, usamos de uma proposta curatorial para selecionar os artistas”, conta a curadora. Para ela, essa talvez seja a grande mudança que o peso do novo título carrega. O open call ainda será considerado para a escolha dos artistas que participarão, mas agora há a sugestão de um ponto de partida para o pensamento e construção da obra.

Nesta edição 21 do Sesc_VideoBrasil, que terá as peças selecionadas expostas no Sesc 24 de Maio entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, a proposta das instituições aos artistas consiste na ideia de Comunidades imaginadas. Pega de empréstimo de um estudo de Benedict Anderson, a noção de comunidades imaginadas surge para o projeto pegando como exemplo o estudo das comunidades indígenas.

Inclusive, foi aberta a participação para artistas oriundos dessas diferentes comunidades étnicas. “Sabemos que existe uma produção superimportante de artistas que fazem parte de grupos étnicos e que acabam operando apenas dentro de seus universos. O universo das artes não olha tanto para esse lugar. Ainda há certo preconceito contra isso”, conta Solange. Há a perspectiva de inclusão ao voltar esse olhar para a produção desses grupos.

A noção de comunidades imaginadas busca discutir a questão do nacionalismo e de como esses grupos o conduzem na arte. Um episódio ocorrido na Organização Mundial do Comércio, no qual um comunicado criticava a tendência a rejeitar aquilo que se é estrangeiro foi uma das coisas que fomentaram a escolha do tema: “Ficamos olhando por todos os lados, percebendo os espectros políticos disso, como a chave para a compreensão de disputas”.

A escolha também relaciona-se com a pesquisa que o curador Gabriel Bogossian desenvolveu ao se debruçar sobre o trabalho de Pasolini. “A ideia concebida por ele de um terceiro mundo transnacional, que começava nas periferias de Roma e se estendia a países fora dessa categoria, é importante nesse processo”, comenta Farkas. E completa: “Queremos trabalhar com essas comunidades que estão às margens do conceito de Estado ou de nação, ou nas suas brechas, nas suas bordas. Podemos falar de comunidades de artistas, de comunidades indígenas. Estamos falando de comunidades nos sentido de grupos que estão à margem do conceito clássico de comunidade. Às vezes até mesmo banido deste conceito”.

A curadora acredita que o tema é muito atual, do agora. “Eu acho que é necessário pensar e discutir essas questões, falando de certa forma também de comunidades fictícias ou utópicas. Em geral, de comunidades clandestinas, que geram políticas minoritárias”, diz. A intenção também é fazer pensar e refletir sobre formas deturpadas de nacionalismo pregadas por alguns políticos ao redor do globo hoje: “São pontos que, no campo da arte, temos esse poder e essa responsabilidade de através de uma produção do sensível, que é a arte, fazer pensar sobre essas questões que nos afetam muito hoje em dia. Não apenas nos países do Sul, mas principalmente nesse lugar do mundo onde a Bienal Sesc_VideoBrasil opera”, finaliza.

 


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