Foto horizontal, colorida. Obra de Luisa Lerman escolhida para a BIENALSUR
"Vista desde la desembocadura del arroyo Ugarteche mirando hacia el sur", da argentina Luisa Lerman, é uma das obras que integram a mostra coletiva Laboratorio Ampibio del Plata. Foto: Divulgação

Em sua terceira edição, a BIENALSUR (Bienal Internacional de Arte Contemporânea do Sul) amplia ainda mais seu raio de alcance, estendendo suas ações para diferentes partes do globo e tentando consolidar-se como um evento alternativo às bienais tradicionais de arte. Os números indicam que a ideia de realizar um evento descentralizado, dinâmico e colaborativo vem surtindo resultados. Em sua estreia, em 2017, envolveu 16 países, 34 cidades e mais de 80 sedes (como são chamadas as instituições que abrigam as mostras). Quatro anos depois, esses números tiveram um aumento significativo: agora são 23 países, 47 cidades e 120 sedes espalhadas pelo mundo. Com grande concentração na América Latina (em especial na Argentina, que sedia o projeto) e Europa, o evento também tem desdobramentos em lugares menos prováveis como a Arábia Saudita e Japão.

Idealizado por Aníbal Jozami e Diana Wechsler, da Universidad Nacional de Três de Fevereiro (Untref), de Buenos Aires, o projeto procurou desde o início subverter algumas premissas do circuito das artes, descentralizando decisões, abrindo convocatórias abertas aos artistas, estabelecendo parcerias com pesquisadores e instituições internacionais e procurando estabelecer uma plataforma que se estenda pelo tempo e pelo espaço. A primeira mostra foi inaugurada em julho em Salta (Argentina) e já deu a tônica que marca essa edição do evento, com uma forte presença de questões ligadas ao meio ambiente e aos direitos da terra. A escuta e os ventos. Relatos e inscrições do Grande Chaco trouxe trabalhos de artesãs, ativistas dos povos originários e artistas convidadas, como a argentina Andrea Fernández (que também é a curadora da exposição) e a alemã Inka Gressel, falando de tradição e resistência.

“Desde a primeira edição a questão de migrações, fronteiras, trânsitos e identidades vem sendo um leitmotiv e continua aparecendo de maneira muito forte, na quantidade de propostas que aparecem”, explica Diana Wechsler, diretora artística do evento. Essa ideia de temas predominantes decorre da própria lógica estrutural do evento, que se guia pelas inscrições abertas (nesta edição foram submetidas mais de 5,5 mil projetos) para identificar as principais questões mobilizadoras no plano da arte. Outro tema forte neste momento, que está norteando as exposições organizadas na Arábia Saudita, são os modos de habitar. A mostra coletiva Ecos. Um mundo entre o analógico e o virtual, aberta em outubro em Riad, reúne 24 artistas de distintas nacionalidades – 70% deles mulheres – que lidam com essa questão do espaço de moradia e existência, uma vivência cotidiana que flui entre o analógico e o digital, o real e o virtual. São trabalhos nos quais, segundo Diana, “espaço e tempo aparecem por momentos alinhados e por outro dissociados”. Essa discussão ganha maior fôlego quando pensada no contexto da pandemia, em que esses dois aspectos apareceram fortemente dissociados e foram objeto de muitas reflexões poéticas, além de ter uma profunda conexão com o caráter um tanto atemporal e nômade do próprio projeto da BIENALSUR.

Aliás, a BIENALSUR é um dos poucos eventos internacionais que não alterou seu calendário em função do Covid-19, como fizeram as bienais de Veneza e São Paulo. Sua natural dispersão geográfica e a presença cada vez mais intensa das redes de internet em sua lógica estrutural – com um destaque bastante importante dado à comunicação virtual, por meio sobretudo do site estão entre as razões para a manutenção do calendário. “Nos pareceu que a lógica de rede, a lógica de trabalhar de maneira simultânea, polifônica, descentralizada nos ia permitir seguir adiante e creio que isso ficou demonstrado pelo fato de que desde 8 de julho, quando lançamos a primeira exposição, até hoje, BIENALSUR veio crescendo, somando sedes, somando projetos, articulando-se entre si e gerando uma comunidade de arte que contribui hoje com o desenvolvimento de uma cultura crítica no tempo contemporâneo”, diz Diana.

Foto horizontal, colorida. OL PAINTING, de Sujim Lim, exposta na BIENALSUR
“Oil Painting”, de Sujin Lim. Foto: Cortesia artista

Naturalmente, esse esgarçamento acaba por provocar uma sensação de desorientação, que pode ser captada por exemplo nos comentários e pedidos de explicação que se acumulam nas redes sociais do evento. Mas, por outro lado, traz, segundo Diana, uma flexibilidade um tanto libertadora, dando uma maleabilidade e uma grande capacidade de adaptação. “A BIENALSUR é um projeto associativo, que se adapta, que é flexível e que trabalha com as lógicas de cada lugar. Não é um projeto prepotente ou imperativo que vai a cada lugar colonizando, mas o contrário: chega a cada lugar com a humildade do estrangeiro, se senta para conversar sobre a possibilidade de trabalhar juntos e a partir de compartilhar uma agenda de interesses e de questões a levar a cabo juntos”, pondera a diretora artística e idealizadora do evento. “Estamos atentos não só aos processos que de maneira singular fazem cada um dos artistas, mas entendemos que esses processos de alguma maneira são processos da sociedade, são processos coletivos, são processos que se fazem também na pluralidade e na diversidade”, complementa.


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