Wlademir Dias-Pino Estruturas, 1966 Madeira, tubos e plástico

 

Gustavo Nóbrega, junto à Galeria Superfície, da qual é fundador, é responsável pela criação, pesquisa e edição do livro Poema-Processo, publicado pela Martins Fontes.

Nóbrega é artista plástico e vem de uma família de galeristas. Isso o levou, desde cedo, a ter um contato estreito com a arte. Seu olhar, porém, esteve sempre voltado para artistas que tivessem um trabalho de cunho mais poético ou outros que usam a palavra na imagem. Ele trabalha nessa vertente ora na pesquisa, ora nas exposições que resolve montar na galeria.  Foi assim com Leonílson, com Mira Schendel, e agora, na mostra que acabou de apresentar e que comentamos na página 64 da edição 44, com Neide Sá.

Esse foco o levou a encampar uma importante pesquisa sobre os artistas que fizeram parte da história da poesia visual no Brasil.

“Um dia eu vi uma matéria numa revista internacional sobre o Poema-Processo. Eu achei fascinante. E pensei: ‘como é que o Brasil não conhece isso?’. Fui atrás e, a partir daí, uma coisa levou a outra. Wlademir Dias-Pino, Neide Sá (Saiba mais sobre a artista clicando aqui). Fui descobrindo o mundo dos artistas que participaram dos diferentes processos e estabeleci várias conversas com eles. Essa foi a maior fonte de pesquisa.”, diz Nóbrega.


ENTRE 1956 E 1967, DA POESIA CONCRETA AO POEMA/PROCESSO, TRABALHO DE WLADEMIR DIAS-PINO, SÓLIDO, 1962. SERIGRAFIA, CORTES E VINCOS SOBRE PAPEL

O livro mapeia a 1a Exposição Nacional de Arte Concreta, inaugurada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956, que contou com a participação de vários pintores, escultores e poetas. Hoje, nomes consagrados como Augusto de Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar, Haroldo de Campos, Ronaldo Azevedo, Waldemar Cordeiro e Wlademir Dias-Pino.

Em 1959, Ferreira Gullar assinava o Manifesto Neo Concreto, junto a Amílcar de Castro, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis. Alguns deles tinham fundado o Grupo Frente no Rio, e outros o Grupo Ruptura em São Paulo.

Pouco tempo depois nasceu, em Natal, o Grupo Dés, cujo manifesto intitulado “Por uma Poesia Revolucionária, Formal e Temática” era assinado por Anchieta Fernandes, Dailor Varela, Fernando Pimenta, Jarbas Martins, João Charlier, Juliano Siqueira, Ribamar Gurgel e Moacy Cirne.

Baseado nas produções criativas desses grupos, os artistas viram a necessidade de diferenciar poesia de poema. “A poesia era tomada como um conceito abstrato, enquanto o poema era enxergado em seu aspecto táctil, material, passível de ser manipulado”, diz Nóbrega na apresentação do livro.  O poema ganhou status de objeto. Produziram-se assim, poemas para serem rasgados, queimados, degustados.

O movimento Poema-Processo, em 1967, surgiu paralelo à Tropicália, numa época onde qualquer ruptura criativa colaborava com a ideia de ruptura com a comunicação institucional da ditadura. Fundado por Wlademir Dias-Pino, Neide Sá, Álvaro de Sá, entre outros, o grupo chegou a ter mais de 70 artistas e poetas brasileiros participantes e até um uruguaio, Clemente Padin, e um argentino, Edgardo Antonio Vigo.

Wlademir Dias-Pino 1967

O grupo trabalhava com a ideia de processo, utilizando a linguagem como veículo. A partir daí, se construíam várias versões que se somavam por sua vez a diferentes estilos, o que permitia uma despersonalização da obra.

O livro, que tem até um texto original do crítico Frederico Morais para o Jornal Diário de Minas, de 1957, quando este tinha apenas 21 anos, intitulado “A poesia nas Artes Visuais”, traz à luz uma das vanguardas históricas brasileiras da arte contemporânea.

(Poema-Processo: uma vanguarda semiológica, 320 páginas, WMF Martins Fontes, R$ 120)

1 comentário

  1. A arte é um poderoso meio comunicação que pode ser usada pelo artista de várias formas. Acho que o maior desafio no séculos XXI, é como usar isso como ferramenta educacional. No YouTube, infelizmente, vejo poucos canais Nacionais, usando estes recursos de mídia. Na minha opinião, faltam ideias, pois os investimentos iniciais são baixos mas com a ideia certa, tem bom retorno à longo prazo. Um exemplo de uma canal nacional que é um dos poucos que atende esta ideia é Nerdologia.

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