“Nem doença, nem faca, nem bala … Entre quarta e sexta-feira nenhum de nós morre”, confiam alguns dos devotos acompanhados pelo fotógrafo belenense Guy Veloso na Semana Santa. Esses, em específico, são vindos de Oriximiná, cidade no coração da Amazônia. Ao longo de 17 anos, Veloso registrou 203 grupos como esse, também chamados de confrarias, em 13 estados, nas cinco regiões do país. Parte de sua vasta pesquisa, composta por dados e fotos, é lançada agora em formato de livro, intitulado Penitentes – dos ritos de sangue à fascinação do fim do mundo, sendo esse o primeiro volume brasileiro de fotografias que aborda o tema dos penitentes com abrangência nacional. A publicação foi contemplada pelo Rumos Itaú Cultural de 2017-2018 e está disponível online. A curadoria do fotolivro é de Rosely Nakagawa, com epílogo escrito por ela, pelo filósofo Guilherme Ghisoni Da Silva, e pelo próprio Guy Veloso.
Quem são os penitentes
Os penitentes são grupos espontâneos, místicos, muitas vezes secretos, que saem noite adentro rezando pelos “espíritos sofredores”. Sua origem data do período medieval na Itália, quando os homens faziam um voto para expurgar os pecados individuais e coletivos. Para isso eles se açoitavam, recebendo o nome de “flagelantes”. No século 13, o voto propagou-se pelo Velho Mundo, particularmente durante a peste negra, perpassando séculos e encontrando campo fértil na Península Ibérica. Interpretando o texto “A Vontade de Saber”, de Michel Foucault, Rosely Nakagawa aponta que “muito além da confissão, o penitente deve ‘produzir a verdade’ concretamente, deixando marcas, provas deste flagelo”.
Hoje, a flagelação acontece apenas em 4% das congregações, em casos raros e dramáticos nas sociedades estritamente masculinas da Bahia, Ceará e Sergipe, praticantes do autoflagelo em formato semelhante ao de séculos atrás na Europa. São chamados aqui de Rito de Sangue, uma forma dos devotos de imitarem a Jesus. O voto é acompanhado de certas cobranças que precisam ser respeitadas rigorosamente, caso contrário, danos podem ser provocados à saúde pelos espíritos, crêem. Entre as obrigações estão abstinência de álcool, dança, jogatina e sexo; a este último, acreditam que o desrespeito possa levar ao sangramento excessivo durante a penitência e possivelmente à morte. O voto perdura um período de sete anos e a cerimônia do Rito de Sangue termina somente quando o capuz e a túnica vestidos estão completamente tingidos de rubro.
De forma geral, a penitência é praticada durante a Quaresma e a Semana Santa, com homens e mulheres realizando desfiles noturnos começando à meia noite: “Eles num momento morrem; e até à meia-noite os povos são perturbados, e passam, e os poderosos serão tomados não por mão humana” (Jó, 34:20). Os rituais, embora vestidos de teatralidade e mistério, são reservados, por vezes até sigilosos, algo justificado pelo preconceito sofrido pelos Recomendadores de Almas (como também são chamados) por parte da população local, além da discriminação da igreja e das perseguições policiais. Nesse sentido, o trabalho de Veloso funciona para validar esses ritos que fazem parte da nossa cultura imaterial. Como afirma Guilherme Ghisoni da Silva no epílogo do livro: “Não devemos negar a cultura que temos, mas olhá-la nos olhos, como faz o fotógrafo, e compreender que o que lá é visível somos nós mesmos.”
Nas influências europeia e africana, Veloso procura o sincretismo brasileiro que o leva a aprofundar a questão da penitência. Ela é inserida no Brasil pela colonização e passa por transformações à medida que entra em contato com um país multicultural, multiétnico, com fé diversa – demonstrada em múltiplas religiões como espiritismo, umbanda, pajelança -, e costumes, superstições e crenças locais coexistentes. Tanto que são organizações de base familiar que possuem autoridade; não existem lideranças centrais, nem dogmas, a penitência em si não se trata de uma religião, embora a maioria de seus praticantes se mostre católico, segundo Veloso. O sincretismo, que molda essas diferentes práticas, também acaba por fundir a cultura contemporânea regional brasileira ao culto de origem medieval europeia de maneira única. Algumas das imagens contidas no livro – como uma penitente com um celular na mão e a presença de carros e motocicletas – parecem um lembrete da contemporaneidade das imagens, nos tirando de uma paisagem que invoca tempos medievais e encarando algo que subsiste nos rincões do Brasil atual.
De nada pedem
De nada pedem os Encomendadores de Almas, pelo menos não para si mesmos. As cerimônias da penitência são imbuídas por forte altruísmo: são solicitados favores para as almas necessitadas, em outro plano; no nosso, as famílias que se encontram em luto são consoladas enquanto assistem seus entes queridos serem recordados. Quando saem noite adentro, os penitentes estão cobertos por vestuário incomum, não raro escondendo todo o corpo em tecidos brancos com cruzes bordadas. Sua chegada é anunciada pelo som soturno dos benditos, jaculatórias e ladainhas. Nunca devem eles olhar para trás, as comitivas marcham em fila indiana justamente por conta disso, pois a pena de quem se voltar para o caminho já andado é vislumbrar as almas que os acompanham nas procissões, pelo menos é o que reside na crença dos Irmãos de Almas. Uma regra com um núcleo quase filosófico.
Documentando os Encomendadores de Almas
Várias dessas confrarias jamais tinham sido documentadas antes desse projeto. Veloso começou a pensá-lo ainda em 1998, quando viu na romaria de Juazeiro do Norte (CE) 15 pessoas com mantos azuis e cruzes bordadas nas costas. Aquele foi o primeiro grupo penitente que o fotógrafo teve contato, os chamados Aves de Jesus, embora tenha sido apenas em 2002 que esse “penitente iniciado” estruturou seu projeto de pesquisa e buscou organizações similares em outros estados do nordeste, expandindo para o território nacional a partir de 2009.
Uma das ordens visitadas por ele, a dos penitentes de Juazeiro, na Bahia, o reconheceu como um de seus membros, permitindo sua participação nos cultos fechados. No livro, Veloso se refere a eles como “o meu grupo”, e é à líder dos De Trás da Banca, Dona Nenezinha, que ele dedica seu trabalho. Ao ser aceito e chegar mais perto em sua fotografia, física e metaforicamente, o belenense salvaguarda uma parte dessa tradição com a proeza de registrar tanto de algo tão escondido e tão passageiro.
Junto com a arte e a religiosidade, há em sua obra um forte valor antropológico. Para Ghisoni da Silva: “A descoberta do fotógrafo, de que há Recomendadores das Almas nas cinco regiões do país, é uma prova de importante valor acadêmico”. Uma fascinante parcela desse mundo teria sido levada pelo vento caso Veloso não tivesse abordado a questão de tal maneira, colecionando entrevistas em vídeo e registros sonoros, peças originais dos votos, matracas e mantos – talvez o maior acervo do tema no Brasil. Esse aspecto é encontrado nos registros visuais pelo caráter documental que se firma em sua obra e coexiste com a forte expressão artística da qual as imagens são dotadas. Há a intimidade e o comprometimento com os fotografados, e o olhar de um pesquisador que se dedica há anos a documentar suas histórias. Um observador disposto a nos ceder o benefício de não ser despossuído de julgamento diante da imagem, mas de estender o convite a uma reflexão mais aprofundada.
Dupla religiosidade
Em certo ponto do livro, Ghisoni da Silva questiona: “É a ascese espiritual do indivíduo retratado que dá força expressiva às imagens ou é a ascese espiritual do próprio fotógrafo?”. Ao que ele mesmo responde, afirmando que “é na união dessa dupla religiosidade, do que é visto e de que vê, que a documentação dos rituais religiosos alcança o estatuto de arte em Guy Veloso. É por vermos o mundo através de um olhar genuinamente espiritual que vultos na noite, encobertos em tecidos translúcidos, se tornam a porta de entrada para a dimensão inefável do divino”. Desde criança, quando assistia à passagem do Círio de Nazaré em frente à casa de sua avó, Veloso tem a busca pelo sagrado como parte de sua vida.
O olhar espiritual referido acima é notável nas fotografias através dos borrões – vindos da baixa velocidade do diafragma para fotografar à noite sem flash e pouquíssima iluminação -, das distorções nas cores, nos fotogramas expostos mais de uma vez, pelas luzes “vazadas” no dispositivo e até pelos problemas na revelação, mantidos por Veloso da mesma forma como uma de sua fotos “resolvidas”. Tal estética foi tomando corpo no projeto e criou uma assinatura para Veloso. Afinal, a sua obra também é fotografia-expressão em que a maneira, o estilo, produz sentido, há o elogio da forma e a necessidade de um formato assumido pelo autor, como conceitua o teórico André Rouillé. Há muitos níveis de percepção nas imagens de Veloso, de um lado o da informação explícita e de outro lado o que é implícito, o indizível que toma forma e é subscrito na atmosfera criada pelo fotógrafo dentro de sua narrativa junto aos penitentes. Elas, as imagens, fascinam seja pelo desconforto que nos causam, pelo medo, excitação, curiosidade ou aflição, cumprindo a função da fotografia como um detonador de emoções.

No começo do epílogo, o observador é indagado com algo que é cerne desse projeto e lhe é respondido ao ponto em que os registros se findam e começam as palavras: “Qual sentido a religiosidade pode ainda ter em um mundo no qual os filósofos já declararam a superação de Deus como o fundamento da realidade e os psicólogos, as patologias que acometem as superstições?”.
Guy Veloso: Penitentes
Grátis
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025. Com curadoria de Nadine Hounkpatin
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025.
Com curadoria de Nadine Hounkpatin e Jamile Coelho, a mostra reúne 20 artistas negras da diáspora africana e do continente africano, que se apropriam das artes visuais como campo de elaboração da memória e de reconstrução simbólica do mundo. Suas produções instauram um pensamento decolonial, no qual a arte atua como forma de escuta, reescrita e reexistência.
Participam: Amélia Sampaio, Barbara Asei Dantoni, Barbara Portailler, Beya Gille Gacha, Charlotte Yonga, Dalila Dalléas Bouzar, Enam Gbewonyo, Fabiana Ex-Souza, Gosette Lubondo, Josèfa Ntjam, Luana Vitra, Luisa Magaly, Luma Nascimento, Madalena dos Santos Reinbolt, Maria Lídia dos Santos Magliani, Myriam Mihindou, Na Chainkua Reindorf, Selly Raby Kane, Tuli Mekondjo e YêdaMaria.
Após itinerar por Bordeaux, Abidjan, Yaoundé e Antananarivo, a exposição chega a Salvador — cidade em que a herança africana se manifesta como fundamento estético e artístico — para instaurar um novo capítulo do projeto. No MUNCAB, essas artistas constroem um território de enunciação e reparação, no qual imagem, corpo e gesto tornam-se instrumentos de reconfiguração das narrativas históricas e de afirmação das subjetividades negras.
A exposição é uma realização do Ministério da Cultura, Petrobras e Embaixada da França no Brasil, em parceria com o MUNCAB, sob gestão da Amafro.
Serviço
Exposição | Memória: relatos de uma outra História
04 de novembro a 1º de março de 2026
Terça a domingo, das 10h às 16h30, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira: MUNCAB
R. das Vassouras, 25 - Centro Histórico, Salvador - BA
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá de Min, Heitor dos Prazeres, Juarez Paraíso, Lita Cerqueira, Maria Apparecida Urbano, Rafa Bqueer e Rosa Magalhães.
A mostra no edifício Pina Contemporânea expõe 200 obras dentre adereços, projetos de decoração e documentação histórica em fotografia e vídeo, além de comissionamentos de projetos inéditos dos artistas Adonai, Ana Lira e Ray Vianna.
Dividida em quatro temas – Fantasia, Trabalho, Poder e Cidade, “Trabalho de Carnaval” apresenta a maior festa popular do país como uma cadeia produtiva que envolve o trabalho das muitas mãos desde antes mesmo da festa acontecer, ao mesmo tempo em que alude à precariedade e invisibilidade desses profissionais.
NÚCLEOS TEMÁTICOS
O núcleo Fantasia faz referência a dois elementos característicos do carnaval: o ato de se fantasiar e a força da imaginação. Projetos e croquis integram a parte central da Grande Galeria, como os estudos de J. Cunha para o carnaval de Salvador e Joana Lira para as decorações de rua do Recife.
Discussões sobre as condições de trabalho da festa são apresentadas no núcleo Trabalho, no qual são apresentadas obras que trazem à tona a representatividade dos trabalhadores.
A relação entre carnaval e espaço urbano ou rural aparece no núcleo Cidade por meio de representações de blocos, cordões, afoxés e outras formas de cortejos. O núcleo reúne obras como as fotografias realizadas por Diego Nigro no bloco de carnaval Galo da Madrugada (2025).
Por fim, o núcleo Poder celebra os encontros de trabalhadores dos canaviais em Pernambuco transformando-se em reis e rainhas do maracatu, assim como mulheres negras e grupos periféricos marginalizados se tornando, por alguns dias, as figuras de comando durante a festa na Bahia: Deusas de Ébano, Reis Momos, Rainhas do Carnaval.
Serviço
Exposição | Trabalho de Carnaval
De 8 de novembro de 2025 a 12 de abril de 2026
Quarta a segunda, das 10h às 18h
Período
Local
Pinacoteca Contemporânea
Av. Tiradentes, 273, Luz, São Paulo - SP
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas.
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas. Os trabalhos, desenvolvidos com técnicas distintas como pintura, desenho, instalação e filme, dão continuidade à investigação do artista sobre a construção da identidade nacional, e suas contradições e influências, por meio de ícones e símbolos presentes na cultura brasileira.
O título da exposição surge da ideia de nascimento como marco de um momento, de uma nova existência sobre a Terra. Este evento milagroso também carrega a contrapartida da fortuna e da sorte, que nos acompanha desde a concepção. Para Obá, “Estar sujeito a isso não diz a respeito de uma escolha. Estar sujeito a isso diz a respeito de uma irreverência ao inevitável. Então, o que podemos fazer é demarcar essas várias sortes através do rito, da celebração, do símbolo, da linguagem.”
Cada obra que compõe a exposição confere a essa tentativa de situar a ideia de sorte, fortuna, ora como uma prece, ora com um ritual que celebra isso.
Uma instalação inédita, localizada em um espaço fechado, no fundo da galeria, se refere diretamente a ideia de jogo e de sorte. Nela, colunas de búzios se derramam sobre peneiras de bronze douradas, carregando ovos de cerâmica pintados de vermelho. Os búzios representam elementos de tentativa de leitura da sorte, do destino e da sina, e simbolizam a moeda de troca, que também se transforma em oferenda. Na disposição que se encontram no espaço, os búzios formam colunas que estão ascendendo, como um território de elevação espiritual e de ressignificação da vida ante ao que ela propõe de fatal.
Na entrada do espaço expositivo, um caminho de espadas de São Jorge e Iansã, conduzem até um novo objeto instalativo: um altar com dois troncos que simbolizam o pelourinho. Os troncos estão inteiramente cravejados de pregos — em um deles, os pregos estão voltados para fora; no outro, para dentro — simbolizando proteção e punição e a dificuldade de harmonizar tensões. Entre os pelourinhos, cabos suspendem uma cabeça de bronze com um prumo na ponta. Esta instalação é uma oferenda ao senhor do caminho, portanto, tem uma relação com Exu.
A instalação Ka’a porá (2024), apresentada pela primeira vez na mostra itinerante Finca-Pé: Estórias da terra no CCBB Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, ocupa lugar de destaque na exposição. Esculturas de pés, representando tanto o pé humano quanto o de uma árvore, enfatizam a conexão com o solo. A configuração da obra lembra um pequeno jardim, com troncos dispostos de forma aparentemente aleatória, cada um sugerindo uma direção diferente dentro de um labirinto. O título da instalação deriva do termo tupi ka’a porá, que se refere a um indivíduo que se estabelece e se ancora à terra. A expressão também remete à figura mítica da Caipora, protetora das florestas na mitologia indígena brasileira. Outro elemento simbólico da instalação revisita o conceito de poda, entendido aqui como um ato de violência que rompe com a vida e a natureza.
Telas de diferentes tamanhos e técnicas compõem a narrativa visual da mostra. Um conjunto de 22 pinturas de pequeno formato apresenta a leitura de Obá sobre o Tarô. Nas obras, o artista utiliza de uma mistura de técnicas junto a folhas de ouro, conferindo um tom mágico e fantasioso único às cartas do oráculo. Além dessas, a exposição reúne novas pinturas de grandes dimensões, bem como uma obra pintada diretamente sobre uma das paredes do espaço expositivo. Nessas peças, figuras e símbolos que compõem a identidade brasileira sugerem novas interpretações. A mostra também inclui desenhos inéditos feitos com carvão, nanquim, lápis e têmpera e sobre tela.
O filme Encantado (2024) apresenta uma performance do artista que propõe reflexões sobre sistemas simbólicos — especialmente os religiosos. A ação performática evoca uma perspectiva ritualística, centrada na figura do peregrino, que, em seu gesto, sintetiza elementos de crença, cultura e tradição associados ao imaginário do romeiro.
Com esse conjunto de obras, que atravessa diferentes mídias e simbologias, a exposição reafirma a potência da produção de Antonio Obá na construção de uma poética que investiga identidade, território e espiritualidade.
Serviço
Exposição | Nascimento
De 8 de novembro a 14 de março de 2026
Terça a sexta, das 11h às 19h, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Mendes Wood DM
Rua Barra Funda, 216, São Paulo – SP
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia tátil de emaranhamentos, na qual a matéria se torna sinal das energias que permeiam o solo.
As obras da individual mapeiam essas teias vivas em que sistemas naturais, não humanos e sonoros convergem, revelando as vibrações e ressonâncias invisíveis que atravessam o domínio subterrâneo.
Cada bordado da série Roots Systems é construído em torno de uma linha do horizonte, uma fronteira entre o que vemos e o que permanece oculto, onde estruturas se expandem pelo solo formando redes que ultrapassam a escala da planta visível. O bordado à máquina carrega o som e a vibração dessas redes em constante movimento.
A mesma série se desdobra em dois conjuntos de desenhos, um em tinta spray e outro em nanquim. No primeiro, raízes de diferentes indivíduos da mesma espécie são gravadas em papel de algodão. São dípticos em que cada indivíduo ocupa uma moldura, mas ambos parecem à beira do toque, expandindo-se a partir de um centro comum. O sopro do spray sugere difusão e indefinição, criação e dissolução. O encontro entre os indivíduos se torna uma zona de passagem e de criação, um espaço intermediário onde algo se comunica, se transforma ou nasce. Candiani fala desses desenhos como expressões de uma comunicação celular, emaranhada, que se aproxima das nebulosas, como sinapses cósmicas.
Os desenhos a nanquim se baseiam em raízes superficiais, que são sistemas radiculares que se espalham próximos à superfície do solo, em vez de se desenvolverem em profundidade. São raízes que se expandem horizontalmente em busca de água e nutrientes em ambientes áridos e solos rasos, são redes que buscam sustento na escassez.
Diferentes campos do conhecimento, como a biologia, a filosofia e as artes, aproximam a arquitetura das raízes superficiais das redes neurais. Estruturalmente, essas raízes se expandem em múltiplas direções, formando tramas conectadas semelhantes às sinapses da malha cognitiva.
Assim como os neurônios trocam impulsos elétricos, as raízes comunicam-se por sinais químicos e bioelétricos entre si, e com fungos e bactérias do solo. Essa rede subterrânea atua como um “cérebro ecológico”, que percebe e adapta o organismo vegetal ao ambiente. Tanto a rede neural quanto o sistema radicular superficial configuram formas de vida rizomáticas, baseadas no emaranhamento: expansões laterais que constroem sentido e continuidade por meio da conexão.
A comunicação subterrânea também é o eixo das obras Subterra: Roots, um vídeo circular e uma paisagem sonora multicanal que ampliam a percepção dessa rede viva. O vídeo, circular como uma escotilha, apresenta um fluxo contínuo de raízes, fungos e microrganismos em movimento, em um mergulho gradual pelas camadas do solo. A paisagem sonora, composta por vibrações subsonoras de baixa frequência, cria uma atmosfera imersiva que evoca o zumbido inaudível das redes subterrâneas em movimento, como um campo de ressonância onde as diferentes matérias se comunicam.
Também integra Subterra: Roots um grande rizotron duplo, construído especialmente para a exposição, no qual crescem plantas de milho. O dispositivo — uma caixa com amplas janelas de vidro onde se desenvolvem as plantas — é utilizado em pesquisas científicas para observar o crescimento radicular e permite acompanhar, em tempo contínuo, o que normalmente permanece oculto no solo.
Nesse trabalho, o sistema radicular deixa de ser apenas representação e se apresenta como corpo vivo em transformação. Ao integrar o processo de crescimento vegetal à experiência expositiva, Candiani aproxima ciência e sensibilidade, incorporando o tempo do movimento subterrâneo que atravessa toda a mostra. Com o longo período de duração da exposição, o rizotron transformará a paisagem da montagem a cada visita a Subterrânea.
A exposição fica em cartaz até o dia 19 de dezembro de 2025 e entre 12 de janeiro e 13 de fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Tania Candiani: Subterrânea
De 13 de novembro a 13 de fevereiro de 2026
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 17h
Período
Local
Galeria Vermelho
Rua Minas Gerais, 350, São Paulo - SP
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral,
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Victor Brecheret, Cândido Portinari, Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti e outros, a coletiva traça um panorama da arte moderna no país e destaca o papel do movimento que, a partir da década de 1920, redefiniu a linguagem artística nacional e acrescentou ao imaginário coletivo visões atualizadas do imaginário popular brasileiro.
O Brasil dos modernistas toma como ponto de partida das transformações que marcaram o surgimento da modernidade artística no Brasil, um movimento que se consolidou no confronto entre o conservadorismo cultural e o impulso de renovação de um país em transição. A Semana de Arte Moderna de 1922, é retomada aqui como marco simbólico desse embate: vaiada pelo público, expôs a resistência às novas linguagens e à ruptura com os padrões tradicionais, inaugurando uma produção voltada à atualização estética e à construção de uma identidade artística brasileira.
O percurso curatorial retrata como os primeiros modernistas, em busca de formação e reconhecimento, voltaram-se aos grandes centros artísticos da Europa. Foi a partir dessa experiência que muitos passaram a perceber a força e a originalidade da diversidade cultural brasileira para construção de suas próprias identidades artísticas. “Os nossos modernos não precisaram buscar em lugares exóticos os conteúdos populares ou étnicos que tanto encantavam os europeus. Encontraram em nossas paisagens e costumes os ingredientes para a constituição de uma visualidade de caráter nacional”, afirma a curadora Maria Alice Milliet.
Embora influenciada pelas vanguardas europeias, a arte moderna no Brasil manteve-se fiel à figuração. O contato com o movimento de “retorno à ordem”, no período entre guerras, levou os artistas a explorar linguagens expressionistas, cubistas e, mais tarde, surrealistas, em um processo que definiu as bases estéticas do primeiro modernismo brasileiro.
Dentre os destaques da mostra, está o Retrato de Judite (1944), de Alfredo Volpi. Pintado no ano em que o artista se casou com Benedita da Conceição, conhecida como Judite, o trabalho retrata sua esposa nua entre cortinas, de braços abertos, como se apresentasse as pinturas que a cercam. Volpi, que iniciou a carreira decorando fachadas paulistanas, desenvolveu uma linguagem própria, marcada pela geometrização e pelo uso refinado da cor. Seu trabalho simboliza a passagem da pintura figurativa para uma modernidade madura, iluminada e de forte identidade brasileira.
“É inegável que Tarsila, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Rego Monteiro, Brecheret, Portinari, Guignard constituíram um corpus iconográfico identificado com o Brasil. Mais que isso, o modernismo acrescentou ao imaginário nacional visões atualizadas da nossa realidade sociocultural. Ou seja, quando pensamos na mulher brasileira, vem à nossa cabeça a sensualidade das morenas pintadas por Di Cavalcanti; a história da conquista do nosso território realiza-se no Monumento às Bandeiras, de Brecheret; nossos mitos são os de Tarsila; nossas praias são as de Pancetti; e as festas populares têm no colorido das bandeirinhas de Volpi sua melhor expressão”, completa Maria Alice Milliet sobre o eixo expositivo.
Ao reunir obras fundamentais do período, a mostra O Brasil dos modernistas destaca a relevância histórica e cultural do movimento que redefiniu os rumos da arte no país. A coletiva reforça o papel dessa geração de artistas na construção de uma identidade visual e reafirma a atualidade de seu legado na formação do que se entende por brasilidade.
Artistas presentes
Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Candido Portinari, Cícero Dias, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto De Fiori, Ismael Nery, José Pancetti, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.
Serviço
Exposição | O Brasil dos modernistas
De 19 de novembro a 19 de janeiro
De segunda a sexta, das 10h às 19h, aos sábados, das 10h às 13h
Período
Local
DAN Galeria
Rua Estados Unidos, 1638 01427-002 São Paulo - SP
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao longo dos anos, consolidou-se como cineasta, mas a fotografia continuou presente em sua trajetória, seja em seus filmes, seja nas instalações artísticas que produziu no século 21. Essa faceta de sua obra, ainda menos conhecida pelo público, é apresentada na mostra Fotografia AGNÈS VARDA Cinema, que abre no IMS Paulista, com entrada gratuita.
A exposição Fotografia AGNÈS VARDA Cinema reúne cerca de 200 fotografias tiradas por Varda, principalmente, entre as décadas de 1950 e 1960. O conjunto traz imagens clicadas em viagens, incluindo registros inéditos na China, em 1957, fotos em Cuba, no contexto pós-revolução, e nos EUA, onde a artista documentou os Panteras Negras. Há ainda fotos feitas em Paris, como as de uma peça encenada pelos Griôs, primeira companhia de teatro negro na cidade. Em diálogo, a mostra apresenta trechos de filmes da autora, enfatizando como o comprometimento social, o olhar afetuoso e o humor caracterizam a sua produção.
Serviço
Exposição | Fotografia AGNÈS VARDA Cinema
De 29 de novembro a 12 de abril de 2026
Terça a domingo e feriados das 10h às 20h (fechado às segundas)
Período
Local
IMS - Instituto Moreira Salles
Avenida Paulista, 2424 São Paulo - SP
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres obras e documentos, incluindo pinturas, manuscritos inéditos, maquetes, desenhos e os célebres brinquedos de madeira produzidos pela família do artista uruguaio.
É a primeira vez que esse conjunto tão amplo e diversificado do artista é apresentado no Brasil, com peças que deixarão pela primeira vez as reservas técnicas do museu uruguaio, revelando ao público aspectos pouco conhecidos da produção do artista.
Com curadoria de Saulo di Tarso em colaboração com o Museo Torres García, a mostra aprofunda o entendimento sobre o “universalismo construtivo” e apresenta Torres García como um pensador de alcance global. A pedagogia do Taller Torres García, que defendia que os artistas da América Latina desenvolvessem uma arte própria sem depender das influências europeias e norte-americanas, também é explicada na exposição. A proposta era incentivar cada artista a buscar suas raízes, símbolos e referências locais, criando uma produção mais autêntica e conectada com a cultura do continente — algo que dialoga diretamente com a seleção presente na exposição.
Instituições como o Museo Torres García (Uruguai), o Museu d’Art Contemporani de Barcelona (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), o Institut Valencià d’Art Modern [Instituto de Arte Moderna de Valência], o Museo de la Solidaridad Salvador Allende (Chile), além de coleções brasileiras como o MASP e a Pinacoteca de São Paulo, contribuem com empréstimos essenciais.
Este projeto conta com incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e patrocínio da BB Asset.
Serviço
Exposição | Joaquín Torres García – 150 anos
De 10 de dezembro a 09 de março de 2026
Aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças
Período
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025. Com curadoria de Nadine Hounkpatin
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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) inaugura a exposição “Memória: relatos de uma outra História”, um dos acontecimentos centrais da Temporada França-Brasil 2025.
Com curadoria de Nadine Hounkpatin e Jamile Coelho, a mostra reúne 20 artistas negras da diáspora africana e do continente africano, que se apropriam das artes visuais como campo de elaboração da memória e de reconstrução simbólica do mundo. Suas produções instauram um pensamento decolonial, no qual a arte atua como forma de escuta, reescrita e reexistência.
Participam: Amélia Sampaio, Barbara Asei Dantoni, Barbara Portailler, Beya Gille Gacha, Charlotte Yonga, Dalila Dalléas Bouzar, Enam Gbewonyo, Fabiana Ex-Souza, Gosette Lubondo, Josèfa Ntjam, Luana Vitra, Luisa Magaly, Luma Nascimento, Madalena dos Santos Reinbolt, Maria Lídia dos Santos Magliani, Myriam Mihindou, Na Chainkua Reindorf, Selly Raby Kane, Tuli Mekondjo e YêdaMaria.
Após itinerar por Bordeaux, Abidjan, Yaoundé e Antananarivo, a exposição chega a Salvador — cidade em que a herança africana se manifesta como fundamento estético e artístico — para instaurar um novo capítulo do projeto. No MUNCAB, essas artistas constroem um território de enunciação e reparação, no qual imagem, corpo e gesto tornam-se instrumentos de reconfiguração das narrativas históricas e de afirmação das subjetividades negras.
A exposição é uma realização do Ministério da Cultura, Petrobras e Embaixada da França no Brasil, em parceria com o MUNCAB, sob gestão da Amafro.
Serviço
Exposição | Memória: relatos de uma outra História
04 de novembro a 1º de março de 2026
Terça a domingo, das 10h às 16h30, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira: MUNCAB
R. das Vassouras, 25 - Centro Histórico, Salvador - BA
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá
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A última exposição de 2025 da Pinacoteca, “Trabalho de Carnaval”, é uma coletiva com obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá de Min, Heitor dos Prazeres, Juarez Paraíso, Lita Cerqueira, Maria Apparecida Urbano, Rafa Bqueer e Rosa Magalhães.
A mostra no edifício Pina Contemporânea expõe 200 obras dentre adereços, projetos de decoração e documentação histórica em fotografia e vídeo, além de comissionamentos de projetos inéditos dos artistas Adonai, Ana Lira e Ray Vianna.
Dividida em quatro temas – Fantasia, Trabalho, Poder e Cidade, “Trabalho de Carnaval” apresenta a maior festa popular do país como uma cadeia produtiva que envolve o trabalho das muitas mãos desde antes mesmo da festa acontecer, ao mesmo tempo em que alude à precariedade e invisibilidade desses profissionais.
NÚCLEOS TEMÁTICOS
O núcleo Fantasia faz referência a dois elementos característicos do carnaval: o ato de se fantasiar e a força da imaginação. Projetos e croquis integram a parte central da Grande Galeria, como os estudos de J. Cunha para o carnaval de Salvador e Joana Lira para as decorações de rua do Recife.
Discussões sobre as condições de trabalho da festa são apresentadas no núcleo Trabalho, no qual são apresentadas obras que trazem à tona a representatividade dos trabalhadores.
A relação entre carnaval e espaço urbano ou rural aparece no núcleo Cidade por meio de representações de blocos, cordões, afoxés e outras formas de cortejos. O núcleo reúne obras como as fotografias realizadas por Diego Nigro no bloco de carnaval Galo da Madrugada (2025).
Por fim, o núcleo Poder celebra os encontros de trabalhadores dos canaviais em Pernambuco transformando-se em reis e rainhas do maracatu, assim como mulheres negras e grupos periféricos marginalizados se tornando, por alguns dias, as figuras de comando durante a festa na Bahia: Deusas de Ébano, Reis Momos, Rainhas do Carnaval.
Serviço
Exposição | Trabalho de Carnaval
De 8 de novembro de 2025 a 12 de abril de 2026
Quarta a segunda, das 10h às 18h
Período
Local
Pinacoteca Contemporânea
Av. Tiradentes, 273, Luz, São Paulo - SP
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas.
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A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição Nascimento de Antonio Obá, que ocupa todo o espaço da galeria na Barra Funda com obras inéditas e emblemáticas. Os trabalhos, desenvolvidos com técnicas distintas como pintura, desenho, instalação e filme, dão continuidade à investigação do artista sobre a construção da identidade nacional, e suas contradições e influências, por meio de ícones e símbolos presentes na cultura brasileira.
O título da exposição surge da ideia de nascimento como marco de um momento, de uma nova existência sobre a Terra. Este evento milagroso também carrega a contrapartida da fortuna e da sorte, que nos acompanha desde a concepção. Para Obá, “Estar sujeito a isso não diz a respeito de uma escolha. Estar sujeito a isso diz a respeito de uma irreverência ao inevitável. Então, o que podemos fazer é demarcar essas várias sortes através do rito, da celebração, do símbolo, da linguagem.”
Cada obra que compõe a exposição confere a essa tentativa de situar a ideia de sorte, fortuna, ora como uma prece, ora com um ritual que celebra isso.
Uma instalação inédita, localizada em um espaço fechado, no fundo da galeria, se refere diretamente a ideia de jogo e de sorte. Nela, colunas de búzios se derramam sobre peneiras de bronze douradas, carregando ovos de cerâmica pintados de vermelho. Os búzios representam elementos de tentativa de leitura da sorte, do destino e da sina, e simbolizam a moeda de troca, que também se transforma em oferenda. Na disposição que se encontram no espaço, os búzios formam colunas que estão ascendendo, como um território de elevação espiritual e de ressignificação da vida ante ao que ela propõe de fatal.
Na entrada do espaço expositivo, um caminho de espadas de São Jorge e Iansã, conduzem até um novo objeto instalativo: um altar com dois troncos que simbolizam o pelourinho. Os troncos estão inteiramente cravejados de pregos — em um deles, os pregos estão voltados para fora; no outro, para dentro — simbolizando proteção e punição e a dificuldade de harmonizar tensões. Entre os pelourinhos, cabos suspendem uma cabeça de bronze com um prumo na ponta. Esta instalação é uma oferenda ao senhor do caminho, portanto, tem uma relação com Exu.
A instalação Ka’a porá (2024), apresentada pela primeira vez na mostra itinerante Finca-Pé: Estórias da terra no CCBB Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, ocupa lugar de destaque na exposição. Esculturas de pés, representando tanto o pé humano quanto o de uma árvore, enfatizam a conexão com o solo. A configuração da obra lembra um pequeno jardim, com troncos dispostos de forma aparentemente aleatória, cada um sugerindo uma direção diferente dentro de um labirinto. O título da instalação deriva do termo tupi ka’a porá, que se refere a um indivíduo que se estabelece e se ancora à terra. A expressão também remete à figura mítica da Caipora, protetora das florestas na mitologia indígena brasileira. Outro elemento simbólico da instalação revisita o conceito de poda, entendido aqui como um ato de violência que rompe com a vida e a natureza.
Telas de diferentes tamanhos e técnicas compõem a narrativa visual da mostra. Um conjunto de 22 pinturas de pequeno formato apresenta a leitura de Obá sobre o Tarô. Nas obras, o artista utiliza de uma mistura de técnicas junto a folhas de ouro, conferindo um tom mágico e fantasioso único às cartas do oráculo. Além dessas, a exposição reúne novas pinturas de grandes dimensões, bem como uma obra pintada diretamente sobre uma das paredes do espaço expositivo. Nessas peças, figuras e símbolos que compõem a identidade brasileira sugerem novas interpretações. A mostra também inclui desenhos inéditos feitos com carvão, nanquim, lápis e têmpera e sobre tela.
O filme Encantado (2024) apresenta uma performance do artista que propõe reflexões sobre sistemas simbólicos — especialmente os religiosos. A ação performática evoca uma perspectiva ritualística, centrada na figura do peregrino, que, em seu gesto, sintetiza elementos de crença, cultura e tradição associados ao imaginário do romeiro.
Com esse conjunto de obras, que atravessa diferentes mídias e simbologias, a exposição reafirma a potência da produção de Antonio Obá na construção de uma poética que investiga identidade, território e espiritualidade.
Serviço
Exposição | Nascimento
De 8 de novembro a 14 de março de 2026
Terça a sexta, das 11h às 19h, sábado das 10h às 17h
Período
Local
Mendes Wood DM
Rua Barra Funda, 216, São Paulo – SP
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia
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Na exposição Tania Candiani: Subterrânea, na Vermelho, Tania Candiani, por meio de bordados, desenhos, vídeos, obra sonora e instalação, transforma as redes subterrâneas das raízes em uma cartografia tátil de emaranhamentos, na qual a matéria se torna sinal das energias que permeiam o solo.
As obras da individual mapeiam essas teias vivas em que sistemas naturais, não humanos e sonoros convergem, revelando as vibrações e ressonâncias invisíveis que atravessam o domínio subterrâneo.
Cada bordado da série Roots Systems é construído em torno de uma linha do horizonte, uma fronteira entre o que vemos e o que permanece oculto, onde estruturas se expandem pelo solo formando redes que ultrapassam a escala da planta visível. O bordado à máquina carrega o som e a vibração dessas redes em constante movimento.
A mesma série se desdobra em dois conjuntos de desenhos, um em tinta spray e outro em nanquim. No primeiro, raízes de diferentes indivíduos da mesma espécie são gravadas em papel de algodão. São dípticos em que cada indivíduo ocupa uma moldura, mas ambos parecem à beira do toque, expandindo-se a partir de um centro comum. O sopro do spray sugere difusão e indefinição, criação e dissolução. O encontro entre os indivíduos se torna uma zona de passagem e de criação, um espaço intermediário onde algo se comunica, se transforma ou nasce. Candiani fala desses desenhos como expressões de uma comunicação celular, emaranhada, que se aproxima das nebulosas, como sinapses cósmicas.
Os desenhos a nanquim se baseiam em raízes superficiais, que são sistemas radiculares que se espalham próximos à superfície do solo, em vez de se desenvolverem em profundidade. São raízes que se expandem horizontalmente em busca de água e nutrientes em ambientes áridos e solos rasos, são redes que buscam sustento na escassez.
Diferentes campos do conhecimento, como a biologia, a filosofia e as artes, aproximam a arquitetura das raízes superficiais das redes neurais. Estruturalmente, essas raízes se expandem em múltiplas direções, formando tramas conectadas semelhantes às sinapses da malha cognitiva.
Assim como os neurônios trocam impulsos elétricos, as raízes comunicam-se por sinais químicos e bioelétricos entre si, e com fungos e bactérias do solo. Essa rede subterrânea atua como um “cérebro ecológico”, que percebe e adapta o organismo vegetal ao ambiente. Tanto a rede neural quanto o sistema radicular superficial configuram formas de vida rizomáticas, baseadas no emaranhamento: expansões laterais que constroem sentido e continuidade por meio da conexão.
A comunicação subterrânea também é o eixo das obras Subterra: Roots, um vídeo circular e uma paisagem sonora multicanal que ampliam a percepção dessa rede viva. O vídeo, circular como uma escotilha, apresenta um fluxo contínuo de raízes, fungos e microrganismos em movimento, em um mergulho gradual pelas camadas do solo. A paisagem sonora, composta por vibrações subsonoras de baixa frequência, cria uma atmosfera imersiva que evoca o zumbido inaudível das redes subterrâneas em movimento, como um campo de ressonância onde as diferentes matérias se comunicam.
Também integra Subterra: Roots um grande rizotron duplo, construído especialmente para a exposição, no qual crescem plantas de milho. O dispositivo — uma caixa com amplas janelas de vidro onde se desenvolvem as plantas — é utilizado em pesquisas científicas para observar o crescimento radicular e permite acompanhar, em tempo contínuo, o que normalmente permanece oculto no solo.
Nesse trabalho, o sistema radicular deixa de ser apenas representação e se apresenta como corpo vivo em transformação. Ao integrar o processo de crescimento vegetal à experiência expositiva, Candiani aproxima ciência e sensibilidade, incorporando o tempo do movimento subterrâneo que atravessa toda a mostra. Com o longo período de duração da exposição, o rizotron transformará a paisagem da montagem a cada visita a Subterrânea.
A exposição fica em cartaz até o dia 19 de dezembro de 2025 e entre 12 de janeiro e 13 de fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Tania Candiani: Subterrânea
De 13 de novembro a 13 de fevereiro de 2026
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 17h
Período
Local
Galeria Vermelho
Rua Minas Gerais, 350, São Paulo - SP
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral,
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A DAN Galeria apresenta a exposição O Brasil dos modernistas, com curadoria de Maria Alice Milliet. Reunindo cerca de 50 obras de emblemáticas de nomes fundamentais como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Victor Brecheret, Cândido Portinari, Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti e outros, a coletiva traça um panorama da arte moderna no país e destaca o papel do movimento que, a partir da década de 1920, redefiniu a linguagem artística nacional e acrescentou ao imaginário coletivo visões atualizadas do imaginário popular brasileiro.
O Brasil dos modernistas toma como ponto de partida das transformações que marcaram o surgimento da modernidade artística no Brasil, um movimento que se consolidou no confronto entre o conservadorismo cultural e o impulso de renovação de um país em transição. A Semana de Arte Moderna de 1922, é retomada aqui como marco simbólico desse embate: vaiada pelo público, expôs a resistência às novas linguagens e à ruptura com os padrões tradicionais, inaugurando uma produção voltada à atualização estética e à construção de uma identidade artística brasileira.
O percurso curatorial retrata como os primeiros modernistas, em busca de formação e reconhecimento, voltaram-se aos grandes centros artísticos da Europa. Foi a partir dessa experiência que muitos passaram a perceber a força e a originalidade da diversidade cultural brasileira para construção de suas próprias identidades artísticas. “Os nossos modernos não precisaram buscar em lugares exóticos os conteúdos populares ou étnicos que tanto encantavam os europeus. Encontraram em nossas paisagens e costumes os ingredientes para a constituição de uma visualidade de caráter nacional”, afirma a curadora Maria Alice Milliet.
Embora influenciada pelas vanguardas europeias, a arte moderna no Brasil manteve-se fiel à figuração. O contato com o movimento de “retorno à ordem”, no período entre guerras, levou os artistas a explorar linguagens expressionistas, cubistas e, mais tarde, surrealistas, em um processo que definiu as bases estéticas do primeiro modernismo brasileiro.
Dentre os destaques da mostra, está o Retrato de Judite (1944), de Alfredo Volpi. Pintado no ano em que o artista se casou com Benedita da Conceição, conhecida como Judite, o trabalho retrata sua esposa nua entre cortinas, de braços abertos, como se apresentasse as pinturas que a cercam. Volpi, que iniciou a carreira decorando fachadas paulistanas, desenvolveu uma linguagem própria, marcada pela geometrização e pelo uso refinado da cor. Seu trabalho simboliza a passagem da pintura figurativa para uma modernidade madura, iluminada e de forte identidade brasileira.
“É inegável que Tarsila, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Rego Monteiro, Brecheret, Portinari, Guignard constituíram um corpus iconográfico identificado com o Brasil. Mais que isso, o modernismo acrescentou ao imaginário nacional visões atualizadas da nossa realidade sociocultural. Ou seja, quando pensamos na mulher brasileira, vem à nossa cabeça a sensualidade das morenas pintadas por Di Cavalcanti; a história da conquista do nosso território realiza-se no Monumento às Bandeiras, de Brecheret; nossos mitos são os de Tarsila; nossas praias são as de Pancetti; e as festas populares têm no colorido das bandeirinhas de Volpi sua melhor expressão”, completa Maria Alice Milliet sobre o eixo expositivo.
Ao reunir obras fundamentais do período, a mostra O Brasil dos modernistas destaca a relevância histórica e cultural do movimento que redefiniu os rumos da arte no país. A coletiva reforça o papel dessa geração de artistas na construção de uma identidade visual e reafirma a atualidade de seu legado na formação do que se entende por brasilidade.
Artistas presentes
Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Candido Portinari, Cícero Dias, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto De Fiori, Ismael Nery, José Pancetti, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.
Serviço
Exposição | O Brasil dos modernistas
De 19 de novembro a 19 de janeiro
De segunda a sexta, das 10h às 19h, aos sábados, das 10h às 13h
Período
Local
DAN Galeria
Rua Estados Unidos, 1638 01427-002 São Paulo - SP
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao
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Nome central da história do cinema, com filmes que marcaram gerações, Agnès Varda (1928–2019) também é autora de uma extensa produção fotográfica, tendo inclusive começado sua carreira como fotógrafa. Ao longo dos anos, consolidou-se como cineasta, mas a fotografia continuou presente em sua trajetória, seja em seus filmes, seja nas instalações artísticas que produziu no século 21. Essa faceta de sua obra, ainda menos conhecida pelo público, é apresentada na mostra Fotografia AGNÈS VARDA Cinema, que abre no IMS Paulista, com entrada gratuita.
A exposição Fotografia AGNÈS VARDA Cinema reúne cerca de 200 fotografias tiradas por Varda, principalmente, entre as décadas de 1950 e 1960. O conjunto traz imagens clicadas em viagens, incluindo registros inéditos na China, em 1957, fotos em Cuba, no contexto pós-revolução, e nos EUA, onde a artista documentou os Panteras Negras. Há ainda fotos feitas em Paris, como as de uma peça encenada pelos Griôs, primeira companhia de teatro negro na cidade. Em diálogo, a mostra apresenta trechos de filmes da autora, enfatizando como o comprometimento social, o olhar afetuoso e o humor caracterizam a sua produção.
Serviço
Exposição | Fotografia AGNÈS VARDA Cinema
De 29 de novembro a 12 de abril de 2026
Terça a domingo e feriados das 10h às 20h (fechado às segundas)
Período
Local
IMS - Instituto Moreira Salles
Avenida Paulista, 2424 São Paulo - SP
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres
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A exposição internacional Joaquín Torres García – 150 anos, inédita no país, celebra a trajetória de um dos pilares da arte moderna na América Latina, com cerca de 500 itens, entres obras e documentos, incluindo pinturas, manuscritos inéditos, maquetes, desenhos e os célebres brinquedos de madeira produzidos pela família do artista uruguaio.
É a primeira vez que esse conjunto tão amplo e diversificado do artista é apresentado no Brasil, com peças que deixarão pela primeira vez as reservas técnicas do museu uruguaio, revelando ao público aspectos pouco conhecidos da produção do artista.
Com curadoria de Saulo di Tarso em colaboração com o Museo Torres García, a mostra aprofunda o entendimento sobre o “universalismo construtivo” e apresenta Torres García como um pensador de alcance global. A pedagogia do Taller Torres García, que defendia que os artistas da América Latina desenvolvessem uma arte própria sem depender das influências europeias e norte-americanas, também é explicada na exposição. A proposta era incentivar cada artista a buscar suas raízes, símbolos e referências locais, criando uma produção mais autêntica e conectada com a cultura do continente — algo que dialoga diretamente com a seleção presente na exposição.
Instituições como o Museo Torres García (Uruguai), o Museu d’Art Contemporani de Barcelona (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), o Institut Valencià d’Art Modern [Instituto de Arte Moderna de Valência], o Museo de la Solidaridad Salvador Allende (Chile), além de coleções brasileiras como o MASP e a Pinacoteca de São Paulo, contribuem com empréstimos essenciais.
Este projeto conta com incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e patrocínio da BB Asset.
Serviço
Exposição | Joaquín Torres García – 150 anos
De 10 de dezembro a 09 de março de 2026
Aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças






