"Queimada", 2021. Mariannita Luzzati. Cortesia do Instituto Figueiredo Ferraz.

Além de gravadora e desenhista, Mariannita Luzzati é uma das pintoras mais emblemáticas da geração 90. Ela, que hoje vive e trabalha entre São Paulo e Londres, iniciou seus aprendizados no começo da década de 1980, no Instituto per L’Arte e il Restauro, em Florença, Itália. Depois, chegou a estudar com Carlos Fajardo, Carmela Gross e Evandro Carlos Jardim. No final da mesma década, Luzzati começou a expor seu trabalho, participando de importantes salões em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro.

Nos últimos 20 anos de carreira, a pintora tem se dedicado à paisagem, em específico a brasileira. Sobre a pintura de Luzzati, Gabriel Pérez Barreiro, curador da última Bienal de São Paulo, escreveu: “Se a ambiguidade é o elemento central na tradição do paisagismo, Luzzati a explora amplamente por meio de seu tema e sua técnica. No nível da técnica, suas muitas e finas camadas de tinta à óleo criam uma difração ótica que torna as imagens e as bordas ligeiramente turvas e indefinidas, como se observadas através de um leve vapor ou ainda lusco-fusco”.

Um pouco desse extenso trabalho pode ser visto agora, em Ribeirão Preto, no Instituto Figueiredo Ferraz (IFF), fundado em 2011 por João Carlos Figueiredo Ferraz, entusiasta da arte e fomentador cultural falecido este ano.

Vista da exposição no Instituto Figueiredo Ferraz. Foto: Cortesia do IFF.
Vista da exposição no Instituto Figueiredo Ferraz. Foto: Cortesia do IFF.

Em Paisagens Possíveis, Mariannita Luzzati apresenta 18 pinturas em grandes dimensões e cinco em pequenos tamanhos. Elas datam de 1990 a 2021, sendo seis das obras expostas pertencentes à coleção Figueiredo Ferraz. “Esses trabalhos nunca foram expostos juntos e isso me trouxe a oportunidade de analisar este percurso”, conta. Além da paisagem, como elemento uníssono na exposição Luzzati diz perceber “uma vontade de preservar um  momento ‘imagem’ em cada um dos trabalhos”, o que a fez vivenciar a experiência em cada um deles novamente.

Nas palavras da própria artista, “uma paisagem carrega com ela aquele momento onde o ar está quente ou frio, úmido ou seco, e tudo isso influencia a busca da cor”. Para ela, essa exposição tem uma relação cromática delicada com contrastes mais ou menos pontuados; “percebo que a busca das cores hoje é muito específica e menos casual do que no passado”.

"Praia Vermelha", 2020. Mariannita Luzzati. Cortesia do Instituto Figueiredo Ferraz.
“Praia Vermelha”, 2020. Mariannita Luzzati. Cortesia do Instituto Figueiredo Ferraz.

Nota-se nesse acervo que os elementos humanos relacionados ao progresso são inexistentes na paisagem. “Em 2010, durante uma visita minha ao Estado do Espírito Santo, especialmente às cidades de Vitória e Vila Velha, comecei a sentir a necessidade de ‘remover’, em minhas anotações de desenhos e estudos para as pinturas, os elementos urbanos que para mim ‘incomodavam’ as paisagens, para que as mesmas voltassem ao seu estado natural, sem nenhuma interferência do homem”, afirmou uma vez. “São imagens que sugerem ao expectador contemplar e refletir sobre o vazio e o silêncio, o que hoje para mim, é a nossa maior necessidade”. Luzzati reforça a última afirmação ao lembrar que “a pandemia nos fez olhar para dentro de nos mesmos. Tivemos que reavaliar nossas prioridades e nos fez pensar sobre a brevidade da vida”.

Além de Paisagens Possíveis, o IFF recebe mais duas mostras neste momento: a temporária Fotografo o que não vejo e a de longa duração Em branco. As três exposições foram abertas em comemoração ao aniversário de dez anos de atividade da instituição. O IFF abriga mais de 1.000 obras da coleção do casal Figueiredo Ferraz e, desde sua criação, em outubro de 2011, já recebeu mais de 50 mil visitantes nas mostras, cursos e projetos educativos que promove na região.

 

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