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Bienal de Berlim terá liderança de “mulheres radicais”

Pela segunda vez, Lisette Lagnado conquista a curadoria de uma bienal após apresentar um projeto e ser avaliada por uma comissão independente. Agora, ela será a curadoria da 11a. Bienal de Berlim, em 2020, junto com a chilena María Berríos, a argentina Renata Cervetto e o espanhol Agustín Pérez Rubio.

Em 2005, Lagnado foi escolhida para organizar a 27ª. Bienal de São Paulo, realizada em 2006 com o título Como viver junto, a partir de seminários do filósofo Roland Barthes, nos anos 1970, tendo por inspiração as obras de Hélio Oiticica.

É a segunda vez que a América Latina lidera a mostra alemã já que, em 2014, ela foi organizada pelo curador colombiano Juan Gaitán. O time escolhido agora é um grupo que nunca trabalhou junto, mas gravita tem torno da América Latina com práticas transgressoras. Rubio dirigiu o Malba (Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires) nos últimos quatro anos, onde teve uma programação que reforçou a presença de artistas mulheres,como Claudia Andujar, além de um radical programa educativo na instituição. Ele organizou em São Paulo a mostra Memórias inapagáveis, a partir do acervo da Associação Cultural Videobrasil, no Sesc Pompéia, em 2014. Antes, Rubio dirigiu o Musac (Museu de Arte Contemporânea de Castilla e Leon), onde dedicou boa parte de seu trabalho a artistas latino-americanos. A curadora argentina Cervetto trabalhou com Rubio no Malba nos programas públicos.

Já Lagnado é reconhecida como das curadoras mais experimentais no Brasil. A bienal Como viver junto inspirava-se na obra de Oiticica, mas não apresentou obras do artista, apenas de contemporâneos que produziam trabalhos com princípios semelhantes. Em 2010, ela organizou Desvios de la Deriva, Experiencias, Travesías, y Morfologias, junto com Berrios, no museu Reina Sofia, em Madri, mostra que tinha como um dos eixos centrais a obra de Flavio de Carvalho (1899 – 1973) e suas ações provocadoras.

Ela dirigiu ainda a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, entre 2014 e 2017, dedicando-se à educação em artes, o que já tinha iniciado em São Paulo, no programa de mestrado da Faculdade Santa Marcelina.

Já Berrios, além de curadora também participou da 31ª. Bienal de São Paulo, Como …. coisas que não existem, em 2014, no projeto artístico A revolução deve ser uma escola de pensamento irrestrito, organizada junto com o dinamarquês Jakob Jakobsen, baseada na mostra Del Tercer mundo, que aconteceu em 1968, em Cuba, centro de uma série de eventos que buscavam debater o papel da arte e da linguagem no contexto de luta contra o imperialismo.

O grupo passa a viver em Berlim já no início de 2019 e irá suceder uma Bienal com uma repercussão altamente positiva, We don´t need another hero, liderada pela sul-africana Gabi Nboco com outros quatro curadores, entre eles o brasileiro Thiago de Paula Souza.

Enquanto a Fundação Bienal de São Paulo segue com indicações imperiais, tanto o curador da Bienal como do representante brasileiro em Veneza são escolhidos pelo presidente da instituição, Berlim é um exemplo de processo democrático.

A comissão deste ano foi formada pelos curadores Doryun Chong (M+, Hong Kong), Adrienne Edwards (Whitney Museum, Nova York), Reem Fadda, Solange O. Farkas (Associação Cultural Videobrasil, São Paulo), Krist Gruijthuijsen (KW, Berlim), Miguel A. López (TEOR/éTica, San José) e o artista Omer Fast (Berlim). O grupo reuniu-se três vezes: uma para conhecer as regras e começar a indicação de nomes, outra para selecionar os projetos a serem avaliadas de forma presencial, e a última para entrevistas e seleção final.

A Bienal de Berlim foi criada em 1997 pelo KunstWerke (KW) e tem como principal patrocinador a Fundação de Cultural Federal da Alemanha, com cerca de 3 milhões de euros (R$ 13 milhões), o orçamento da 33ª Bienal de São Paulo é o dobro, R$ 26 milhões, a maior parte vinda por meio de leis de incentivo, ou seja, verba pública.

Uma sociologia popular e vasta

Givagomes, Florida Paulista, SP, reside em Guarantã do Norte, MT, Salve o Verde I, 2017, acrílica sobre tela.

“Popular sim, ingênuo jamais”. A frase do artista baiano Nilson Pimenta colocada na orelha esquerda do catálogo da 14ª Bienal Naïfs do Brasil denota muito bem o panorama da exposição, que foi apresentada no Sesc Piracicaba até o último dia 25 de novembro. Sob o tema “Daquilo que escapa”, a curadoria teve a intenção de refletir sobre o que poderia fugir aos seus olhos durantes as visitas aos ateliês dos artistas, que foram chamados por eles de “casas-ateliês”. Afinal, é dentro do próprio lar que os artistas Naïfs do Brasil produzem suas obras.

Esta edição da Bienal Naïfs também mostra que há muitas questões que podem escapar de quem observa a obra de um artista popular olhando-o a partir da concepção do primitivismo, que reduz esses artistas a um rótulo que pode significar um julgamento pelo contexto sócio-cultural em que vivem. Talvez o ponto mais latente disso na mostra seja o fato de que muitas obras abordam discussões sociais e políticas, muitas vezes identitárias, que podem muitas vezes se fecham apenas à ambientes acadêmicos e seriam reproduzidas apenas por artistas que tenham acesso a isso. Os naïfs se mostram muito à frente nesse ponto, assinalando nitidamente o seu posicionamento sobre algumas dessas questões.

Quem visitou a exposição já se deparou logo na entrada com as obras sem título de Arlindo de Oliveira que fazem menção à ocupação das favelas cariocas pelo BOPE. Ao lado delas, a peça intitulada Não corra que eu vim buscar sua alma, também de Arlindo e também fazendo alusão ao grupo da polícia, expressa com veemência a opinião do artista e sua contribuição para a discussão sobre o genocídio do povo pobre causado por essa ocupação nos morros, devido aos abusos cometidos pelos militares, também das UPPs e também das forças armadas, que participam da intervenção militar na Cidade Maravilhosa.

Há uma série de obras, de diferentes artistas, que remetem a temas levantados pelo feminismo. A mais impactante foi feita por Alex dos Santos, artista de Jaboticabal/SP e é intitulada A violência contra a mulher, de 2018. Nela, o artista aborda uma série de brutalidades cometidas contra mulheres, desde as fogueiras da Inquisição até a Lei Maria da Penha, traçando uma linha do tempo. A artista Ana Zamaro se faz presente com a obra Absolutas, também deste ano, na qual pinta vários rostos de mulheres, cada uma com suas características que fogem a um padrão. O título dela diz muito sobre como Zamaro vê a questão da estética feminina no âmbito das discussões dos feminismos.

Duas obras de Gildo Xavier trazem a temática LGBT à tona, tratando dela por meio de uma visão sobre configurações familiares. Em Retratos de Família (2017), ele pinta uma série de núcleos parentais de diferentes composições, inclusive LGBTs, passando também por indígenas, negros e de religiões diversas, contrariando um padrão do que é rotulado como “família tradicional brasileira”. A obra Conquista (2017) também entra nesse aspecto ao mostrar um casal de mulheres que realiza o sonho de ter um filho.

Esses são só alguns exemplos de como as discussões da contemporaneidade se fazem presentes no repertório dos artistas Naïfs que passaram por esta edição da Bienal realizada pelo Sesc, que teve curadoria de Ricardo Resende, Juliana O. Campaneli e Armando Queiroz, além da curadoria educativa de Alexandre Araujo Bispo, e que não foi nada ingênua.

A 12ª Bienal do Mercosul vai explorar encontros possíveis

Andrea Giunta

Desde o momento em que o curador de arte atingiu o protagonismo de um diretor de cinema, saber quem comandará uma mostra internacional tornou-se primordial. Ao escolher Andrea Giunta para a curadoria geral da 12ª Bienal do Mercosul, que ocorrerá de 9 de abril a 5 de julho de 2020, a exposição volta às suas origens. Fortemente ligada à produção latino-americana, a crítica e pesquisadora argentina vai explorar as relações entre arte, feminismo e emancipação. Eu pergunto como ela fará isso. “A bienal já deu início, na semana passada, com um seminário onde colocamos em pauta os temas que nos interessa explorar. Um dos sentidos em que eu entendo o termo emancipação, além da emancipação no sentido político, é o ligado ao conhecimento”. Para Giunta, o conhecimento contribui para a transformação de estruturas do pensamento. “Trabalharemos a partir do feminismo, do conceito de um sujeito ampliado que contempla não apenas a mulher, mas inclui os corpos e os afetos demarcados e tudo aquilo que o discurso monolítico marginaliza”. Como parte do projeto da Bienal está sendo organizado um Seminário para debater estes temas. Trabalhar em uma bienal é algo complexo e esta é a primeira experiência de Giunta em uma exposição desta natureza, nesse sentido, ela pretende utilizar sua experiência e suas metodologias de pesquisa. Pesquisar intensamente, explorar o potencial de uma cidade como Porto Alegre, com recursos que não estiveram presentes em nenhuma outra bienal.

Giunta faz um comentário clássico de alguns curadores internacionais que passaram pelas nossas três Bienais, a de São Paulo, Curitiba e a de Porto Alegre. “ Não quero que a bienal aterrisse como um Óvni na cidade, mas que se integre no cenário criativo e institucional onde está locada. Já demos alguns passos nesse sentido”. A curadora fala do envolvimento de coleções institucionais “deslumbrantes”, que nunca estiveram em uma bienal ou nas universidades. Por experiência, ela vai levar em conta a importância da relação entre a curadoria, as exposições, a pesquisa e também entre as escolas. A curadora acredita que pode levar à bienal experiências que somam, como a recente curadoria, de Mulheres Radicais “que teve a dimensão de uma bienal em relação ao número que artistas envolvidos”. Além disso, Giunta diz contar com a equipe experiente da Bienal do Mercosul, que formou muitos jovens.  Diante da situação política atual, pergunto como a crítica argentina pretende abordar os temas e as obras impregnadas de carga ideológica. “Não posso dizer que não me preocupa o cenário em que este projeto se desenvolverá. Mas também creio que é uma oportunidade para manter ativa a cultura e o pensamento. Seguramente teremos que buscar comunidades de interlocução que compreendam o sentido do que apontamos. É um momento para trabalhar sobre a cultura do diálogo, não a da confrontação”. Giunta diz que o tema invoca, sem dúvida, um sentido pedagógico. E, para ela o desafio será encontrar formas de diálogo que transformem o estado de beligerância em que estamos submersos. “Não somente no Brasil, como em muitos outros países, a arte também é um espaço de reflexão da comunidade. Espero alcançar esse clima poético, que é também político”.

Depois que os armazéns do porto não foram mais cedidos à Bienal, a exposição foi reduzida em quase 60%, em relação aos espaços expositivos, e tornou-se mais enxuta e hoje se resume, praticamente ao Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Memorial do Rio Grande do Sul e  Santander Cultural.

AI-5: ainda não terminou de acabar

Carlos Pasquetti
Carlos Pasquetti, Trabalho sobre máscara de gás, 1972, Foto 24 X 18 cm

Há cinquenta anos era publicado o Ato Institucional no 5. O decreto, que suspendeu as garantias constitucionais no país, simboliza o momento de consolidação do regime militar e deixa profundas marcas na sociedade brasileira. O estado de exceção atinge não apenas as vítimas diretas do regime, que vivenciaram a tortura, a morte e o exílio, mas a sociedade como um todo. A ruptura da legalidade democrática leva à perda do direito de expressão, à autocensura, à instabilidade institucional, dentre outras consequências, cujos tentáculos se estendem até nossos dias. Para investigar os efeitos deste trauma no campo artístico, o Instituto Tomie Ohtake deu espaço à mostra “AI-5: Ainda não terminou de acabar”.

Tratou-se de uma exposição ao mesmo tempo arquivística e artística, histórica e contemporânea. A espinha dorsal do evento foram documentos, depoimentos, registros e obras reunidas ao longo de um ano de intensa pesquisa. Foram consultados cerca de 40 artistas, não apenas visuais mas de outros campos da cultura como a música e o cinema, na tentativa de criar um panorama mais amplo dos efeitos e respostas dados no período
pela sociedade. “É uma espécie de ensaio sobre relação de força entre campo criativo e forças autoritárias da época”, sintetiza Paulo Miyada, idealizador e curador da mostra. Abrangendo um período amplo, que vai desde 1964, ano em que se deu o golpe, até 1980, quando se inicia o processo de abertura, a mostra se divide em diferentes núcleos temporais.

Os quatro anos que antecedem o endurecimento provocado pelo AI-5 são vistos por Miyada sob a égide do conceito de “opinião”, que permeia uma série de iniciativas (exposições, show, teatro…) e sintetiza o caminho viável. Num período em que a ação político-partidária não era mais possível, restava a expressão das ideias e a noção de contracultura, de fortalecimento diante dos interditos, como forma de resistência. “Com o decreto a opinião foi criminalizada”, afirma Miyada, para quem essa geração ativa em meados dos anos 1960 representa o ponto de ápice e quebra de um projeto estético  ltamente engajado. Dentre as obras deste período estão a obra “Che Guevara Vivo ou Morto”, de Claudio Tozzi, que foi destruída por militantes de extrema direita no Salão de Brasília de 1967 (e posteriormente reconstruída pelo artista).

A partir do fortalecimento da censura, em 1968, algumas estratégias de escamoteamento foram sendo adotadas. Artistas como Cildo Meireles, Artur Barrio e Antonio Manuel passaram a incorporar estratégias de guerrilha, como a infiltração em outros sistemas, a clandestinidade, e uso da  ideia de morte como símbolo do momento político. Um dos destaques do núcleo foram os desenhos feitos na prisão por Carlos Zílio, que o artista concordou em mostrar apenas em 1996 e raramente foram exibidos.

Paulo Bruscky, Título de Eleitor Cancelado, 1976

Outras formas de dar continuidade à produção artística em ambiente tão hostil foram a adoção de uma certa marginalidade experimental, desafiando os códigos moralistas em vigor; o uso de um autonível de codificação como forma de autoproteção ou a utilização de circuitos alternativos como cineclubes e a arte postal. Artistas como Paulo Bruscky, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino (que comparece com um projeto, nunca realizado, de obra sobre os desaparecidos), Wlademir Dias Pino, Claudio Tozzi e Antonio Dias são alguns dos nomes contemplados. Falecido recentemente, Dias esteve presente com duas obras bastantes emblemáticas do período final da Nova Figuração: um caderno inédito que inicia ao chegar em Paris em 1968, no qual escreve, em referência à antológica série de pinturas negras: “Arte negativa, para um país negativo: pinturas inteiramente negras com apenas uma palavra em branco”, num claro processo de enlutamento, e a obra “Cabeças”, formada por urnas vedadas e pintadas de preto, dispostas como se fossem cabeças decepadas.

Encerrando a exposição, Miyada relembrou dois movimentos importantes de reafirmação da arte e da cultura brasileiras e latino-americanas, representadas por duas figuras centrais nesse processo de reflexão e sistematização da arte brasileira: o projeto elaborado por Mario Pedrosa para a reconstrução do MAM-RJ após sua destruição em um incêndio em 1978 e o Encontro de Críticos de Arte da América Latina, organizado por Aracy Amaral na Bienal, em 1981. E, para mostrar que trata-se de um problema mais amplo, com reflexos
evidentes nos dias atuais, incorporou um pequeno porém potente núcleo de arte contemporânea, no qual artistas como Paulo Nazareth, Matheus Rocha Pitta e Bruno Dunley, entre outros, lidam com essa cicatriz ainda aberta.

Carlos Zilio, Lute (Marmita), 1967

Nem a ideia da produção deste período como algo monolítico nem a possível crítica de que
o engajamento político é feito em detrimento de uma qualidade formal das obras sustenta-se diante de uma pesquisa detalhada como esta. A diversidade e a fertilidade se impõem e compõem uma trama bastante diversificada e rica. É como “um quebra-cabeças histórico”, diz Miyada que no ano passado já havia organizado “Osso”, uma exposição-apelo pelo direito de defesa de Rafael Braga. Inicialmente, sua ideia era tentar realizar uma ação em rede, envolvendo outras instituições, como forma de resposta ao discurso conservador e às ameaças crescentes a liberdade artística, como os movimentos capitaneados por uma certa “nostalgia do autoritarismo” exigindo o fechamento e à censura de exposições e peças de teatro, por exemplo. No lugar dessas parcerias institucionais, se fortaleceram os laços com a comunidade de pesquisadores – fundamentais no levantamento de dados – e artistas.

José Olympio será o Presidente da Fundação Bienal de São Paulo

Foto: Pedro Ivo Trasferetti / Divulgação Fundação Bienalde São Paulo

A Bienal de São Paulo está sob novo comando. Seu novo presidente, eleito na noite de terça-feira, 11,  pelo Conselho da instituição, será José Olympio da Veiga Pereira. Diretor do Credit Suisse do Brasil, dono de uma das coleções de arte mais renomadas do país e atuante nos conselhos de diversas instituições de arte no Brasil e no exterior, Pereira deverá tomar posse no próximo dia 2 de janeiro, assumindo o lugar de João Carlos Figueiredo Ferraz, que havia se afastado no mês de setembro por questões de saúde.

A indicação de José Olympio acompanha uma renovação completa da Diretoria da Bienal e da nomeação para a vice-presidência de Marcelo Araújo, que tem ampla experiência na gestão museológica, amplo trânsito no circuito artístico nacional e era, até o último mês de agosto, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Além de Araújo, a nova Diretoria Executiva conta com nomes como Andrea Pinheiro, Ana Paula Martinez, José Francisco Pinheiro Guimarães e Fernando Schuler.

Na reunião de terça-feira também foi referendado o nome de Julio Landmann para a presidência do Conselho de Administração da Bienal. Com presença ativa na instituição, Landmann foi responsável – como presidente da instituição – de uma das mais elogiadas edições do evento, a 24ª Bienal,realizada em 1998 sob curadoria de Paulo Herkenhoff e explorando o tema da antropofagia, o que amplia a expectativa em relação a uma possível abertura da Bienal a projetos curatoriais mais ousados ou com maior liberdade de experimentação. A nova equipe promete dar continuidade ao processo de profissionalização e saneamento de gastos iniciado há dez anos na instituição e apresenta como metas prioritárias estimular uma maior integração com acidade de São Paulo, por um lado, e com a cena internacional, por outro. A conexão com instituições estrangeiras têm sido o foco do trabalho de José Olympio como membro da direção atual. Foi ele quem propôs, em 2016, a
criação de um Conselho Consultivo Internacional para a Fundação, que ficou sob seu comando.

O mandado da nova direção e do novo Conselho será de dois anos, com
possibilidade de uma reeleição. Dentre as missões que terão adiante estão a
organização da itinerância nacional e internacional da 33ª Bienal de São Paulo,
a definição de como será a representação oficial do Brasil na 58ª Bienal de
Veneza – que tradicionalmente ficaria a cargo do atual curador geral, Gabriel
Pérez-Barreiro – e a preparação da 34ª Bienal de São Paulo, a ser realizada
daqui há dois anos.

A 33ª edição da mostra, que foi encerrada no último domingo, teve como
foco principal a descentralização do poder curatorial. Ao invés de um único
projeto centralizador, a exposição foi subdividida em diferentes núcleos,
concebidos por sete artistas curadores convidados por Perez-Barreiro. O
curador geral organizou ainda exposições complementares, contemplando a
obra de 12 artistas selecionados por ele. O resultado foi uma mostra bastante
heterogênea, mais vazia, menos voltada para questões politico-ideológicas do
que as edições anteriores e propositalmente voltada para uma relação mais
direta e tranquila entre o público e as obras expostas.

Projeto leva arte urbana para escolas públicas de São Paulo

Instituto Choque Cultural / Divulgação

Como transformar a escola em uma extensão da cidade, tornando-a um espaço pulsante e dinâmico, atraente aos olhos dos alunos que hoje ocupam as carteiras escolares, ainda tão semelhantes às ocupadas por seus avós e bisavós ao longo do século passado? Este foi um dos questionamentos que levaram à criação do Choque Educultural (Escola Criativa), projeto do Instituto Choque Cultural que tem como principal objetivo transformar os ambientes de ensino formal da cidade e, quem sabe do País, em locais inspiradores e agradáveis, onde estudantes e professores se conectem uns aos outros e se sintam permanentemente instigados a criar e inovar.

O projeto, que surgiu em 2011, convidou uma série de artistas – grande parte deles ligados à cena urbana da capital – para ministraram workshops a educadores, intervindo diretamente em escolas públicas da cidade em grandes mutirões, com a participação dos agentes locais. A ação aconteceu chamada Choque Educultural aconteceu no dia 8/12, na Etec das Artes, no Parque da Juventude.

De modo abrangente, o programa visa a melhoria do ambiente escolar pela integração educação-cultura e concebe a escola como microcosmos da cidade, agora encarada como campo de experimentação educativa. O projeto Escola Criativa é realizado através da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal com patrocínio da Pirelli e da Machado Meyer Advogados. Ele foi concebido sob as diretrizes da tecnologia social desenvolvida pelo Instituto Choque Cultural, A Escola é Cidade e a Cidade é Escola, premiada pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais em 2015.

Marcia Pastore e Nazareth Pacheco são os novos nomes da Emmathomas Galeria

nazareth pacheco e marcia pastore
Marcia Pastore, Peso-contrapeso, 2011/2012

Márcia Pastore e Nazareth Pacheco passam a integrar corpo de artistas representados pela Emmathomas Galeria. A escolha pelas artistas está de acordo com a proposta da galeria, que busca apresentar ao público a diversidade da arte brasileira. A ideia é captar a essência de diversos artistas, em diferentes regiões do País e também no exterior.

A arte de Marcia Pastore e Nazareth Pacheco

“As duas são artistas de uma mesma geração, mas com vertentes distintas. Trazem a multidisciplinaridade típica do que é a arte contemporânea”, diz Ricardo Resende, diretor artístico da Emmathomas.

Enquanto Marcia Pastore se dedica a explorar a relação entre o espaço e a escultura, Nazareth Pacheco transita especialmente pelo campo tridimensional.

Pastore experimenta variadas situações de duplicação de sua própria imagem e do universo em que está inserida, trazendo esculturas e instalações enquanto desdobramentos. Pacheco, por sua vez, trabalha esculturas e instalações que exploram questões autobiográficas e o corpo feminino.

A Emmathomas Galeria

Fundada em 2006, a galeria Emma Thomas nasceu como um espaço experimental e alternativo, focado em arte contemporânea. Em sua primeira década, mais de 200 artistas e projetos passaram pela galeria, que conquistou o posto entre as mais ousadas do cenário brasileiro.

Em agosto de 2017, o artista, colecionador e empresário Marcos Amaro a comprou e rebatizou como Emmathomas. Como proprietário da galeria, Marcos soma sua experiência enquanto empresário visionário e bem-sucedido à sua sensibilidade artística. A nova direção busca estabelecer laços afetivos e criativos entre as pessoas.

Para respirar liberdade, 70 anos da declaração dos direitos humanos

Otávio Roth, instalação "Peninhas", atividade colaborativa
Otávio Roth, instalação “Peninhas”, atividade colaborativa

A imensa árvore, que toma todo o saguão do Sesc Bom Retiro, cria no espectador um frenesi visual com a repetição exaustiva das pequenas folhas em papel, com um colorido e transparência que reverberam diferentes jogos luminosos no espaço, dependendo do andar em que o espectador estiver. Essa instalação monumental, de 400 metros quadrados, que atinge os quatro andares do prédio, abre a mostra Para Respirar Liberdade-70 Anos da Declaração dos Direitos Humanos, do artista Otávio Roth.

Artista de muitos recursos, desenho, gravura, fotografia, ele mudou completamente seu trabalho a partir do assassinato de Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-Codi, em outubro de 1975, em São Paulo. Depois desse episódio deixou de fazer cinema e desenhos animados para se dedicar à arte de conteúdo social. Tudo o que buscava em sua obra estava na epígrafe do jornalista morto, sintetizado na frase: “defesa dos direitos humanos”.

A árvore concebida no Sesc, com inusitada montagem tridimensional, reconstruída no formato de um grande móbile, foi especialmente desenhada para o átrio interno, pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha. Em outros formatos bidimensionais, a obra já foi realizada em alguns países, de acordo com a arquitetura do espaço. A execução coletiva em São Paulo contou com a participação de 70 mil jovens de várias escolas públicas e particulares, ao longo de dois meses de oficina. Concebida por Roth, que participou das montagens iniciais, a obra continua viva mesmo depois de sua morte, ao se multiplicar pelas mãos de milhares de estudantes. Nomes, idades, país de origem, de todos eles, estão em fichas que podem ser consultadas durante o período expositivo.

Otávio Roth, “A Árvore”, instalação participativa in progress

Em São Paulo, o crítico Fábio Magalhães, e a filha do artista Isabel Roth, assinam a curadoria, enquanto o projeto é de Pedro Mendes da Rocha. Ativo e engajado, o artista colocou toda sua experiência gráfica a serviço da luta pelos direitos humanos. O trabalho colaborativo, uma de suas marcas, deu vida a uma obra horizontal pulsante. Muitos artistas brasileiros se engajaram em questões políticas. “Desde os anos de 1930 Di Cavalcanti já produzia para a imprensa ilustrações com críticas contra o fascismo. Portinari mostrava o drama da miséria e exaltava a força do trabalhador e suas qualidades humanas”, lembra Magalhães. Durante o período da ditadura surgiram algumas obras seminais, como o trabalho/performance Quem Matou Herzog? De Cildo Meirelles. Trata-se de “um carimbo em que a pergunta era aplicada nas notas de dinheiro, denunciando a mentira e a violência do aparato repressivo da ditadura”. Ainda sobre o mesmo tema Magalhães fala do pintor Antonio Henrique Amaral com a tela Morte no Sábado, feita no calor da luta.

Roth morreu prematuramente aos 42 anos, morou em Israel, Inglaterra, Noruega, Estados Unidos e, nesses países, desenvolveu sua técnica como gravador e seu interesse por temas políticos. Em Oslo, onde residiu por três anos, criou em xilogravura a primeira série ilustrada da Declaração dos Direitos Humanos, em norueguês e posteriormente feita em inglês, composta por 30 peças e que também compõe a exposição. Em 1981 a versão em inglês foi adotada pela ONU e, desde então permanece em exposição nas sedes de Genebra, Viena e Nova York.

Além da ativa contribuição política, Otavio Roth cria em 1979 a Handmade, a primeira oficina de papel artesanal do País, com o objetivo de produzir papel para o uso artístico com qualidade. Na procura de novas descobertas chega a trabalhar no IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica), em 1982, no mesmo ano em que expõe no Masp e no MAM, do Rio, a primeira mostra sobre a natureza do papel. Roth se interessou pela obra de Ben Shan, mestre da gravura norte-americana e a de Robert Rauschenberg, ligado à pop art. Com concepção gráfica diferenciada, executa para o Comitê Brasileiro de Anistia um calendário feito em gravura com pensamento de Charles Chaplin, Che Guevara, Santo Agostino, Carlos Marighela entre outros.

Como artista plástico produziu “peninhas” e as instalações com esse material sintetizam, segundo sua filha e curadora, “o encontro entre dois grandes eixos da obra de Roth: estudo do papel artesanal e o papel do indivíduo na sociedade”.

Com essa forma executada com a menor folha de papel que conseguiu produzir, o artista dá início a uma obra participativa e experimental construindo instalações de grandes proporções, expostas em museus da Alemanha Dinamarca, Japão e Estados Unidos e do Brasil. A árvore que “floresceu” no saguão do Sesc é o projeto mais ambicioso já criado por ele. Em tempos de escuridão político-ideológica que nos invade hoje, essa instalação itinerante, política, alegre, festiva, composta de milhares de folhas adesivas pintadas, com mensagens das crianças, nos faz lembrar que, apesar de tudo, estamos na primavera.

Basel Miami a todo vapor

Rubem Valentim, Emblema logotipo-poético 1974

Do dia 6 ao dia 9 de dezembro de 2018, o público poderá conferir uma das maiores e mais importantes feiras de arte dos Estados Unidos, que ocorrerá no Miami Beach Convention Center. Muito agitada, a feira Art Basel de Miami é uma aposta forte de várias galerias brasileiras, especialmente por ser um evento que valoriza muito a arte latino-americana. O preview ocorre no dia 5.

Nesta edição, a feira terá a participação de 14 galerias brasileiras, entre as 268 que estão envolvidas. São elas: A Gentil Carioca, Bergamin & Gomide, Casa Triângulo, DAN Galeria, Fortes D’Aloia & Gabriel, Mendes Wood DM, Galeria Nara Roesler, Simões de Assis Galeria de Arte, Galeria Luisa Strina e Galeria Vermelho estarão no setor Galleries; a SIM Galeria é a única brasileira presente no setor Positions; as cariocas Silvia Cintra + Box 4 e Anita
Schwartz Galeria de Arte estarão na seção Nova. Para completar, a Galeria Jaqueline Martins terá seu espaço no setor Survey.

É o quinto ano que a galeria Bergamin & Gomide partici pará do evento, tendo um estante no setor Galleries, no qual a curadoria escolheu levar obras de arte brasileira moderna de nomes consagrados dos anos 70 aos anos 90, colocando as obras para conversar com artistas internacionais. Estão inclusos nomes como Mira Schendel, Lygia Pape, Ivan Serpa e Fabio Mauri. A diretora da galeria, Antonia Bergamin, comenta que a Art Basel Miami Beach foi a primeira feira de grande importância que participaram: “Foi o que impulsionou a internacionalização da galeria. É importante para a manutenção de contatos e de clientes”, conta. Ela explica que a maioria de seus clientes hoje vivem nos EUA. Também participa
da seção Kabinett, comtrabalhos de Paulo Roberto Leal. Maxwell Alexandre deve ser o artista principal d`A Gentil Carioca na feira. A diretora da galeria, Elsa Ravazzolo, conta que tem trabalhado para queo artista seja conhecido internacionalmente e para inseri-lo em grandescoleções de instituições. É o décimo ano que a galeria está no evento: “É com certeza a feira mais importante na América. Ela cria um ponto de junção entre a América
Latina e a América do Norte”, diz Elsa. Capa desta edição da ARTE!Brasileiros, Rubem Valentim terá três trabalhos na feira, levados pela Mendes Wood DM e cedidos pela galeria Almeida e Dale. As obras são: Emblema (1971), Emblema 79 (1979) e Emblema
logotipo-poético (1974). O artista tem grandes mostras individuais em três lugares em São Paulo: Masp, Caixa Cultural e galeria Mendes Wood DM. A Galeria Nara Roesler entra em seu 11o ano de feira e levará obras de Abraham Palatnik, Antonio Dias, Artur Lescher, Daniel Buren, Daniel Senise, Eduardo Navarro, José Patrício, Julio Le Parc e Vik Muniz.

A DAN Galeria também tem uma mostra na seção Kabinett, apresentando pinturas de Alfredo Volpi. Para seu estande no Galleries, levará obras nomes como Macaparana, Wyllys de Castro, François Morellet e Ferreira Gullar. A curadoria, segundo o diretor Flávio Cohn, busca seguir o histórico da galeria e tem como objetivo: “Apresentar uma ponte entre arte construtivista e concreta brasileira e internacional”.

NOVOS ARES

Murilo Castro, diretor da galeria homônima de Belo Horizonte, pensou por dois anos em para onde levaria uma outra sede. Percebeu Miami como um importante polo de propagação da arte latino-americana, carro chefe da galeria, e não teve dúvidas em abrir um espaço na cidade: “É o melhor lugar em termos de feiras nos EUA e facilita nossa logística para participar das feiras no país”, ele pontua. A galeria ainda não participará da Art Basel Miami Beach, mas confirmou presença em outras feiras. O novo espaço
foi inaugurado no dia 17 de novembro, com a exposição This is Brazil, uma coletiva com obras de Anna Bella Geiger, Amélia Toledo, Luiz Hermano, Vítor Mizael, dentre outros.

O AI-5 e a Pré-Bienal de Paris

A queda do motociclista da Força Aérea – Foto: Evandro Teixeira/Reprodução

Horas antes da abertura da exposição dos artistas selecionados para a Bienal de Paris de 1969, militares chegaram ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Era uma sexta-feira, 30 de maio. Não demoraram para fechar a mostra que incluía obras de Antônio Manuel, Humberto Espíndola, Carlos Vergara e Evandro Teixeira.

O motivo: consideraram como “provocação” selecionar para Paris o flagrante registrado por Evandro Teixeira da queda de um motociclista da Força Aérea Brasileira. “O Departamento Cultural (do Ministério de Relações Exteriores) não tomou nenhuma outra providência no sentido de explicar como ficará a questão da representação brasileira na Bienal que será aberta, em setembro, com a participação de artistas do mundo inteiro”, registrou no dia seguinte o jornal Correio da Manhã. As obras deveriam ser enviadas para a França até 1º de julho, mas isso jamais aconteceu. Afinal, estava em vigor o AI-5, que acabou com os direitos individuais e oficializou a censura prévia.

Aconteceu há 50 anos, a censura e o cerco à liberdade de expressão se estabeleceram por décadas, mas os artistas selecionados não se deixaram destruir pela mão pesada do regime. Naquele ano, no entanto, o Brasil participou da Bienal de Paris de 1969 com apenas com duas maquetes (dos arquitetos Abrão Assad, Roberto Gandolfi, Jaime Lerner, Luiz Forte Netto e José Sanchotene) e três composições musicais (de Almeida Prado,
Cardoso Lidembergue e Marlos Nobre).

Por outro lado, a X Bienal de São Paulo, também de 1969, aconteceu com convidados de última hora. Artistas de diferentes países assinaram o manifesto Non à La Biennale, que circulara na Europa e nos Estados Unidos, e desistiram de exibir suas obras no Brasil. Entre eles estava Pierre Restany, que organizaria uma sala especial sobre Arte e Tecnologia, junto com Pol Bury. Espaços vazios nos salões refletiram o impacto do movimento na mostra que acabou conhecida como a Bienal do Boicote. Tristes tempos. Ainda mais tristes no momento em que o fantasma da censura volta a pairar sobre o país.