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GUERRA CULTURAL RELIGIÃO



            desde a chegada dos europeus, dos portugueses e dos   Roma e as cartas de então eram dirigidas a ele e ao
            franceses, principalmente. Porque os franceses também   Papa, centenas de cartas que estão todas reunidas em
            chegaram aqui com os capuchinhos, os padres capuchi- correspondências avulsas dos jesuítas no século 16. Eu
            nhos, ao Rio de Janeiro e no Maranhão, e fizeram o mesmo   leio, li não todas, mas uma parte considerável delas, são
            trabalho de evangelização extremamente violenta que os   três ou quatro volumes gigantes editados em italiano e
            jesuítas faziam no processo de colonização portuguesa.  português, dos quais eu tenho as duas edições.
            E há os relatos de ambos para atestar isso. A gente tem   São relatos impressionantes do processo de evange-
            relatos da atuação dos capuchinhos no Maranhão, tem   lização, nos quais eles descrevem com extrema violência
            relato da atuação dos capuchinhos ali na Ilha do Gover- o quanto o grande inimigo da evangelização eram os
            nador, na Baía da Guanabara, com os missionários Jean   xamãs. Que eles conseguem vários “avanços”, mas que
            de Léry (1536-1613) e o André Thevet (1516-1590), e lá no   a resistência dos pajés era um negócio impressionante
            Maranhão, Claude D’Abbeville (m. 1632).         contra eles, e que portanto precisavam ser eliminados.
               Na descrição que fizeram do processo de evangeli- Então, desde o século 16, na conquista da América, o
            zação no Maranhão, eles relatam que queimaram pajés   foco consistiu em destruir a identidade cultural dos
            e xamãs. E a gente tem relatos dos jesuítas escrevendo   povos locais. E eles entendiam muito rapidamente a
            pro papa, escrevendo também para o Inácio de Loyola   guerra. Os jesuítas eram estrategistas. Não podemos
            (1491-1556), que era o chefe da congregação jesuíta.  esquecer que os jesuítas eles têm uma origem militar
            Loyola ficou um tempo na Espanha, depois esteve em   porque o Inácio de Loyola, esse padre (e eu acho que























































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