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a violência evangélica, jesuíta, capuchinha e a agora por um processo ideológico-religioso, um processo de
neopentecostal protestante, que tem base nessa igreja queimar mesmo, uma inquisição contra as religiosidades
protestante evangélica que vem dos Estados Unidos locais em que pajés foram queimados. Há relatos, nas
e que invade a América Latina a partir dos anos 1960 cartas jesuíticas, de pegarem um pajé, em São Vicente
– começa, na verdade, nos anos 1950, mas é nos anos (SP), botarem na boca de um canhão e darem um tiro de
1960 que ela invade –, que toma conta daqui, é um canhão na frente de todo mundo. Chamaram todos os
processo ideológico de dominação do capital. Esses tupiniquins daqui e disseram: “Ah, esse aqui é o fodão
neopentecostais também estão atacando as aldeias de vocês? Tá”. Amarraram o cara, botaram na boca do
indígenas, os locais de religiosidade africana, os can- canhão e explodiram o canhão. Para todos verem aquilo,
domblés e as umbandas, e destruindo tudo, mas é um o corpo do cara estraçalhado, e aí falaram: “É assim que
processo que começa no século 16, então a gente tem a gente faz com pajé de vocês”. 200, 300 tupiniquins
que ter essa visão histórica, retrospectiva. viram aquilo. “Então, venham para nossa religião”. E
Eu entendo que é um processo de extrema violência. era assim, um processo de dominação extremamente
Ao lado da violência de gênero, é o processo mais violento violento. E isso não acabou, continua.
da América, dos mais violentos do Planeta da história O Ex-Pajé é um documentário em que a gente acom-
do homo sapiens, porque o holocausto desses povos panha a vida de um pajé que está sendo trucidado pela
originários que eu tô relatando em meus filmes, e que chegada da igreja evangélica, e o filme é todo sobre isso,
começou com uma guerra biológica, foi consolidado mas ele repercute, na verdade, o que vem acontecendo
Cenas dos filmes A última floresta e Ex-pajé, do cineasta Luiz Bolognesi
FOTO: DIVULGAÇÃO
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