Page 64 - ARTE!Brasileiros #61

REPORTAGEM JOVENS ARTISTAS

“Tudo o que eu produzo vem da crítica social que está Fernanda, Érica Burini, Khadig Fares e Thais Rivitti,
ligada ao projeto Segregação social geograficamen- que resultou na exposição Vivemos pra isso, integrante
te escancarada (Ssge)”. As imagens são justapostas, da chamada pública VoA 2022-2023, para artistas
misturadas, interligadas e captam cenas de enchentes mulheres e pessoas não binárias, que ocorreu no
na periferia, moradias precárias, além de edifícios de Ateliê397 e no galpão da Galeria Vermelho, ambos na
classe média poupados das tragédias, com influência Barra Funda, em São Paulo. A exposição reuniu artistas
de Livio Abramo. Já as pinturas trazem um abstra- de todo o Brasil e levantou questões pertinentes à
cionismo geométrico desenvolvido com pinceladas causa. Recentemente também passou pelo crivo de
rápidas, executadas com verniz acrílico e pigmento um edital no Canadá. Estudante de artes visuais na
em pó. R.Trompaz é formado em artes visuais pelas Universidade Federal de Pernambuco ufpE, um dos
Belas Artes e tem a expectativa de iniciar um novo ciclo. seus focos é pesquisar as interseções entre corpo,
A maturidade com que Geoneide Brandão aborda o gênero e sexualidade ligadas às questões de afeto,
universo lGBtQia+ não condiz com seus 22 anos. O reper- alteridade e política.
tório traz cenas íntimas de corpos queer pintados a partir Quanto ao mercado ela se diz insegura, porque não
da fotografia que aprendeu usando celular quando tinha sabe até que ponto uma jovem como ela, que aborda tema
14 anos e vivia em Ouro Branco, no sertão de Alagoas. dessa natureza, vai conseguir se firmar. “A cena artística do
“Com 16 anos já me dedicava à pintura dentro desse Recife é aberta, me comunico com artistas incríveis com
processo e há um ano moro no Recife onde frequento os quais aprendo muito. Já o mercado é conservador, as
o ateliê coletivo Escadaria, com um grupo de jovens”. pessoas que têm grana não querem investir nesse tema”.
Geoneide trabalha a partir do corpo e suas simbologias. Com muitos desafios, o talento de Geoneide vai abrindo
“Meu interesse foca a sexualidade, a questão de gênero portas em outras esferas, ela é uma das artistas da coleção
e as relações humanas como um todo”. Novas Aquisições, do Banco do Nordeste.
Sua pintura executada com pinceladas largas Finalizando, Regina Boni deixa a mensagem. “Se
e contínuas vai ganhando espaço. Atualmente ela em um jornal importante, no qual, entre outros nomes
expõe na coletiva Reflorestar, na Christal Galeria, brasileiros famosos, surgiam obras de Emanoel Araújo,
novo espaço cultural do Recife, onde tem uma obra artista baiano, recém-falecido e nunca reconhecido em
comissionada. Foi escolhida por meio de um edital vida como o grande criador que sempre foi, [é porque]
e mostra dois trabalhos da série Amor ardor, que o reconhecimento póstumo é mais comum em nosso FOTO: GABI LISBOA
reflete questões sobre afeto e intimidade do corpo. país, capitalista e injusto. Daí a importância do marchand
Em setembro, ela foi selecionada na chamada do abrir seu olhar para novos nomes. Novas pessoas. Novas
Coletivo Vozes Agudas, com curadoria de Bruna ideias. O acreditar em novos futuros”. Geoneide Brandão, Óleo sobre a necessidade de materializar o impossível, 2022

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