Page 57 - ARTE!Brasileiros #61
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CRÍTICA HISTÓRIAS BRASILEIRAS







 “HISTÓRIAS BRASILEIRAS”


 REVELA ‘SISTEMA


 COLONIAL’ NO CIRCUITO


 DAS ARTES





 Masp traz mostra que critica falta de representatividade na
 história da arte, mas seus próprios centros de poder são
 brancos e patriarcais; instituição ainda exibe obras de seu
 presidente, ignorando existência de conflito de interesses


 por fabio Cypriano







 histórias brasileiras, mostra   para usar termos utilizados    mst, até então proibidas. Primeiro,
 que ficou em cartaz no Museu de   no próprio catálogo da mostra.  garantiram a distribuição gratuita
 Arte de São Paulo, o Masp, entre   De certa forma, essa tensão   de pôsteres daquelas imagens,
 agosto e outubro passados,   entre inclusão e privilégio foi   como Marcha Nacional pela
 retratou um dilema das   bastante explicitada pelas   Reforma Agrária, de João Zinclar,
 instituições de arte de uma forma   curadoras Clarissa Diniz e Sandra   quando a primeira sugestão do
 bastante explícita: enquanto   Benites, em maio passado, quando   museu foi adquirir as imagens
 exposições buscam criar   abandonaram o módulo Retomadas,  para o seu acervo. Com isso,
 narrativas inclusivas e de revisão   de Histórias Brasileiras, acusando    a curadoria reverteu a lógica
 da própria história da arte, essas   o museu de censura a imagens   mercadológica de propriedade
 temáticas revelam-se um tanto   selecionadas do Movimento Sem   e garantiu que as obras se
 incongruentes, já que os centros   Terra, o mst. A polêmica   multiplicassem para fora do Masp.
 de decisão do museu seguem   desdobrou-se em várias camadas,   A segunda conquista foi a
 patriarcais, brancos e elitistas.  levando Benites, meses antes   ampliação dos dias gratuitos do  FOTO: MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO ASSIS CHATEAUBRIAND (MASP), DOAÇÃO ELISA LARKIN NASCIMENTO / IPEAFRO
 De que serve denunciar no   festejada como a primeira curadora   museu. Essa vitória se deve a uma
 catálogo que “a disciplina da   indígena de um museu brasileiro,   atitude rara no sistema das artes:
 história da arte (...) é o aparato   a apontar que sua nomeação não   denunciar abusos de poder nas
 mais poderoso e duradouro do   refletiu inclusão de fato, e que    instituições, o que muitos artistas
 imperialismo e da colonização”,    o Masp reproduzia um “sistema   e curadores não fazem para não
 se os centros de poder do Masp   colonial”, como afirmou à revista   se “queimarem” no circuito.
 seguem com uma imensa maioria   Brasil de Fato.    Afinal, dirigem as instituições,
 que não inclui “os chamados   Depois de várias negociações,   como o Masp e a Bienal,
 povos nativos, indígenas,   Diniz e Benites retornaram à   colecionadores poderosos, que
 inferiores, subordinados,   mostra conquistando mais do que   podem de fato prejudicar
 subalternos e não branco”,    a exposição das próprias fotos do   carreiras, se assim quiserem.  Abdias Nascimento, Okê Oxóssi, 1970

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