Page 56 - ARTE!Brasileiros #61
P. 56
CRÍTICA HISTÓRIAS BRASILEIRAS
“HISTÓRIAS BRASILEIRAS”
REVELA ‘SISTEMA
COLONIAL’ NO CIRCUITO
DAS ARTES
Masp traz mostra que critica falta de representatividade na
história da arte, mas seus próprios centros de poder são
brancos e patriarcais; instituição ainda exibe obras de seu
presidente, ignorando existência de conflito de interesses
por fabio Cypriano
histórias brasileiras, mostra para usar termos utilizados mst, até então proibidas. Primeiro,
que ficou em cartaz no Museu de no próprio catálogo da mostra. garantiram a distribuição gratuita
Arte de São Paulo, o Masp, entre De certa forma, essa tensão de pôsteres daquelas imagens,
agosto e outubro passados, entre inclusão e privilégio foi como Marcha Nacional pela
retratou um dilema das bastante explicitada pelas Reforma Agrária, de João Zinclar,
instituições de arte de uma forma curadoras Clarissa Diniz e Sandra quando a primeira sugestão do
bastante explícita: enquanto Benites, em maio passado, quando museu foi adquirir as imagens
exposições buscam criar abandonaram o módulo Retomadas, para o seu acervo. Com isso,
narrativas inclusivas e de revisão de Histórias Brasileiras, acusando a curadoria reverteu a lógica
da própria história da arte, essas o museu de censura a imagens mercadológica de propriedade
temáticas revelam-se um tanto selecionadas do Movimento Sem e garantiu que as obras se
incongruentes, já que os centros Terra, o mst. A polêmica multiplicassem para fora do Masp.
de decisão do museu seguem desdobrou-se em várias camadas, A segunda conquista foi a
patriarcais, brancos e elitistas. levando Benites, meses antes ampliação dos dias gratuitos do FOTO: MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO ASSIS CHATEAUBRIAND (MASP), DOAÇÃO ELISA LARKIN NASCIMENTO / IPEAFRO
De que serve denunciar no festejada como a primeira curadora museu. Essa vitória se deve a uma
catálogo que “a disciplina da indígena de um museu brasileiro, atitude rara no sistema das artes:
história da arte (...) é o aparato a apontar que sua nomeação não denunciar abusos de poder nas
mais poderoso e duradouro do refletiu inclusão de fato, e que instituições, o que muitos artistas
imperialismo e da colonização”, o Masp reproduzia um “sistema e curadores não fazem para não
se os centros de poder do Masp colonial”, como afirmou à revista se “queimarem” no circuito.
seguem com uma imensa maioria Brasil de Fato. Afinal, dirigem as instituições,
que não inclui “os chamados Depois de várias negociações, como o Masp e a Bienal,
povos nativos, indígenas, Diniz e Benites retornaram à colecionadores poderosos, que
inferiores, subordinados, mostra conquistando mais do que podem de fato prejudicar
subalternos e não branco”, a exposição das próprias fotos do carreiras, se assim quiserem. Abdias Nascimento, Okê Oxóssi, 1970
56 57