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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO








































            que seus jogos de linguagem estão sempre presentes.  se comunicam por meio da centralização do corpo
               A consciência do corpo como percepção poéti-  e do eu. A série Procuro-me (2003) surgiu natural-
            ca chega mais forte para Lenora quando participa da   mente quando ela passava diante de um quiosque
            exposição Mulheres radicais (2016), na Pinacoteca,   instalado em frente a um cabelereiro, no Shopping
            com curadoria de Andrea Giunta e Cecilia Fajardo-Hill.   Iguatemi, onde as pessoas podiam ser fotografadas
            A coletiva reunia cerca de 100 artistas com obras pro-  com cabeleiras. “Eu achei aquela situação insóli-
            duzidas entre 1975 e 1985. “Todas se manifestavam a   ta, engraçada, curiosa e resolvi fazer”. A fotoper-
            partir do corpo, corpo suporte de expressão, corpo   formance foi publicada no caderno Mais!, da Folha
            ideal a partir do corpo”, como define a artista, que se   de S.Paulo, e evoluiu para outros desdobramentos.
            identificou fortemente com elas.                   Quando acontece o ataque às Torres Gêmeas, ela
               A ludicidade envolve a série A máscara de mão (2017),   assiste pela tv pessoas desesperadas procurando
            composta por objetos nascidos quando ela frequenta,   umas às outras. Com isso, inventa diferentes autor-
            por acaso, um estúdio nos Estados Unidos. “Eu não   retratos que lembram cartazes de pessoas desapa-
            tinha a menor intenção de trabalhar com argila, porque   recidas, colados em lugares públicos. As fotos são
            até aquele momento eu pensei, não tenho nada a ver   diferentes entre si e não revelam a verdadeira Lenora.
            com isso”. No entanto, um dia, ao pegar um bloco de   Essas imagens incomodam. Em 2002, alguns carta-
            barro, foi trabalhando pelo avesso, por trás. Chega   zes de Procuro-me, colocados na fachada do Centro
            aos movimentos de criar orifícios que foram repetidos   Universitário Maria Antônia, foram vandalizados pelo
            e fizeram surgir A máscara de mão, para ser calçada   grupo Art-Attack, que confessou o estrago. Agora, essa
            como luvas, supostamente individual, mas que, ao se   obra assume um protagonismo positivo no processo
 FOTOS: ROMULO FIALDINI | REPRODUÇÃO  ora real ora imaginário, traz um repertório de indaga-  pretar a obra de Lenora de Barros, que em cada mostra
            sociabilizar performaticamente, ganha chancela liber-
                                                             de implantação da nova montagem do acervo da
                                                             exposta permanentemente em alguns locais do museu.
            de que qualquer objeto pode falar uma língua secreta.
 Acima, Lenora de Barros, Procuro-me, 2002; na pãgina ao lado,   tadora. Com esse trabalho Lenora reafirma a máxima   Pinacoteca. Procuro-me, entre outros trabalhos, está
 videoperformance A Cara. A Língua. O Ventre, 2022  O conceito que compõe o inventário de Lenora,   Para além da expressividade e do desafio de inter-
                                                             provoca novas interpretações de acordo com a situação
            ções que perpassam de uma obra a outra e coloca o
                                                             temporal, a exposição se abre para reflexões atualizadas
            olhar atento em outros registros cognitivos. A artista


 42         altera a percepção da arte com questionamentos que   sobre um novo começar.                  43
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