Page 46 - ARTE!Brasileiros #61
P. 46
EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
Gustavo Caboco Wapichana, Meu avô em mim, nosso avô em nós, 2022
dos Pretos (Itapecuru Mirim, no Maranhão) e o Savvy e a semana modernista, o trio de efemérides que sus- responder ao desafio de “recuperar noções de espaço racismo, natureza, imigração e resistência. Uma das
Contemporary – the Laboratory of Form-Ideas (Berlim). tenta o evento). Mas Lina também está presente por público, destruídas em nome da modernidade”. Apesar primeiras obras da exposição, uma fotografia da série
Um sexto polo irradiador é o próprio Sesc Pompeia, meio de uma série de projetos, trabalhos, desenhos de pontuar que “não se trata aqui de buscar moderni- Sobre a Terra, de Daniele Rodrigues, parece sinteti-
que celebra agora seu 40º aniversário. Tanto o espa- e reflexões que ajudam a iluminar múltiplas ques- dades alternativas, ou subalternizadas, ou de regiões zar a força do levante popular, com uma mão que se
ço – símbolo de transformação e geração de cultura tões, como a conexão entre África e Brasil, com seus periféricas”, Lisette reitera que vivemos momentos de ergue do solo portando uma espada-de-São-Jorge
desde os anos 1980 –, como sua autora, Lina Bo Bardi, projetos de casas de cultura no Benim e na Bahia; o questionamento de noções amplamente disseminadas (ou espada-de-Ogum), tendo ao fundo uma paisa-
exercem na exposição um papel fundamental. resgate pioneiro das tradições artesanais e culturais como a do “homem cordial” brasileiro. “A trajetória gem branca na qual apenas se antevê uma igrejinha.
A arquiteta constitui uma das linhas de força da na antológica mostra A mão do povo brasileiro (res- pós-colonial do Brasil evidencia a permanência das A espada, no caso, é a planta, que possui uma série
mostra, que concilia no mesmo espaço mais de 600 significada por meio do trabalho de artistas como estruturas oligárquicas sobre um tecido multiétnico de conotações simbólicas para as religiões de matriz
itens, produzidos por uma centena de artistas, e dis- Mestre Dicinho); a luta contra uma visão retrógrada e disfarçado de ‘democracia racial’”, enfatiza. africana. Essa imagem, que pertence à potente sele-
postos de forma bastante fluída, graças ao projeto elitizada da arte ou ainda a presença significativa do Há, no amplo conjunto de trabalhos, uma série de ção de trabalhos enviados pelo Acervo da Laje, ecoa
expográfico concebido por Tiago Guimarães. Ela está tema da imigração na exposição. FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX obras de grande potência e intensa sintonia com as com o núcleo maranhense, situado lá na outra ponta
representada em primeiro lugar pelo próprio espaço A curadora Lisette Lagnado, responsável pelo pro- questões centrais identificadas pela curadoria, em suas do espaço de convivência. Pelas lentes de Márcio
que abriga a exposição e que completa agora 40 anos jeto da 27ª Bienal sob o tema Como viver junto, retoma várias instâncias de ação, como assuntos fundamen- Vasconcelos vemos um conjunto de cinco retratos
de existência (formando, junto com a independência essa estrutura dialógica para tentar coletivamente tais da contemporaneidade, tais como colonialismo, de mulheres fortes, na lida, cujo drama só se torna
46 47