Page 48 - ARTE!Brasileiros #61
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
Emilia Estrada, El Interior es un invento de las orillas [O interior é uma invenção das margens], 2022 Daniele Rodrigues, Ribeira (da série Sobre a terra), 2020
evidente quando se lê a legenda da imagem, que traz imagético. Ali, uma ampla seleção interage com dez Em tempos de ameaça à precária democracia bra- do mar repleto de caveiras e que parece não apenas
seus nomes (Dona Bia, Rosa, Dijé, Glorinha e Antonia) obras icônicas do modernismo, de ídolos como Tarsila sileira e de retrocesso político evidente, destacam-se mostrar que não somos o país do futuro, como pro-
e a informação de que que fazem parte de um trágico do Amaral e Lasar Segall. Estes trabalhos considera- em toda a exposição aqueles trabalhos que tocam metia a mística modernista, como temos ainda muitos
grupo, o das Juradas de morte. dos fundamentais para a história da arte brasileira são mais cirurgicamente na ferida do autoritarismo, como acertos de contas com o passado a fazer.
Esses encontros, que permeiam quase toda a expo- mostrados virtualmente, por meio de reproduções o núcleo de correspondências de Ariel Ferrari, filho
sição, adquirem uma potência ainda mais radiante no em caixas de luz, sublinhando seu caráter espectral. de León Ferrari, às vésperas de seu assassinato pela homenagem
núcleo que funciona como uma espinha dorsal de todo Como conta André Pitol, curador-adjunto da exposição, repressão argentina. Mas as violências surdas, ligadas Além da mostra, que fica em cartaz até abril de 2023,
o esquema, uma espécie de “tradução do conceito juntamente com Yudi Rafael, o processo de escolha a temas incontornáveis como colonização e diáspora o projeto Parábola do progresso contará ainda com
no espaço físico”, como explica Lisette. Trata-se de desses trabalhos icônicos ocorreu em função da sele- são praticamente onipresentes. Manifestam-se em a publicação de um livro com ensaios escritos pela
uma trama de obras de tempos históricos, instala- ção das obras mais contemporâneas, algumas delas telas impactantes, como Invasão do Alemão, de Márcia curadoria e um rol de convidados. A edição previa a
das na longa parede ao fundo do espaço expositivo. comissionadas especialmente para o evento, como Falcão, no gesto crespo e figuração potente de Elson publicação de uma série de registros fotográficos da
Esse entrecruzamento de temas e períodos recebeu o se o presente interpelasse o passado em função das Junior, ou em obras de caráter mais alegórico, como exposição, realizadas por Rochelle Costi, que morreu
nome de Parábola, em referência ao título geral e que questões pertinentes na atualidade. “Procuramos dar Odoyá, de Ani Ganzala, que figura Iemanjá e suas precocemente, vítima de um atropelamento no final
remete tanto à representação geométrica da curva uma resposta ao modernismo de maneira ampliada”, devotas. A orixá nada em meio a belo mar repleto de de novembro, que deve ser mantida e transformada
como à força simbólica da narrativa e do símbolo explica ele. peixes, que se soltam de seus cabelos, sobre um fundo em um tributo à artista.
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