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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO





































 Gustavo Caboco Wapichana, Meu avô em mim, nosso avô em nós, 2022























 dos Pretos (Itapecuru Mirim, no Maranhão) e o Savvy   e a semana modernista, o trio de efemérides que sus-  responder ao desafio de “recuperar noções de espaço   racismo, natureza, imigração e resistência. Uma das
 Contemporary – the Laboratory of Form-Ideas (Berlim).  tenta o evento). Mas Lina também está presente por   público, destruídas em nome da modernidade”. Apesar  primeiras obras da exposição, uma fotografia da série
 Um sexto polo irradiador é o próprio Sesc Pompeia,  meio de uma série de projetos, trabalhos, desenhos   de pontuar que “não se trata aqui de buscar moderni- Sobre a Terra, de Daniele Rodrigues, parece sinteti-
 que celebra agora seu 40º aniversário. Tanto o espa- e reflexões que ajudam a iluminar múltiplas ques-  dades alternativas, ou subalternizadas, ou de regiões   zar a força do levante popular, com uma mão que se
 ço – símbolo de transformação e geração de cultura   tões, como a conexão entre África e Brasil, com seus   periféricas”, Lisette reitera que vivemos momentos de   ergue do solo portando uma espada-de-São-Jorge
 desde os anos 1980 –, como sua autora, Lina Bo Bardi,  projetos de casas de cultura no Benim e na Bahia; o   questionamento de noções amplamente disseminadas   (ou espada-de-Ogum), tendo ao fundo uma paisa-
 exercem na exposição um papel fundamental.   resgate pioneiro das tradições artesanais e culturais   como a do “homem cordial” brasileiro. “A trajetória   gem branca na qual apenas se antevê uma igrejinha.
 A arquiteta constitui uma das linhas de força da   na antológica mostra A mão do povo brasileiro (res-  pós-colonial do Brasil evidencia a permanência das   A espada, no caso, é a planta, que possui uma série
 mostra, que concilia no mesmo espaço mais de 600  significada por meio do trabalho de artistas como   estruturas oligárquicas sobre um tecido multiétnico   de conotações simbólicas para as religiões de matriz
 itens, produzidos por uma centena de artistas, e dis- Mestre Dicinho); a luta contra uma visão retrógrada e   disfarçado de ‘democracia racial’”, enfatiza.   africana. Essa imagem, que pertence à potente sele-
 postos de forma bastante fluída, graças ao projeto   elitizada da arte ou ainda a presença significativa do   Há, no amplo conjunto de trabalhos, uma série de   ção de trabalhos enviados pelo Acervo da Laje, ecoa
 expográfico concebido por Tiago Guimarães. Ela está   tema da imigração na exposição.  FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX  obras de grande potência e intensa sintonia com as   com o núcleo maranhense, situado lá na outra ponta
 representada em primeiro lugar pelo próprio espaço   A curadora Lisette Lagnado, responsável pelo pro-  questões centrais identificadas pela curadoria, em suas   do espaço de convivência. Pelas lentes de Márcio
 que abriga a exposição e que completa agora 40 anos   jeto da 27ª Bienal sob o tema Como viver junto, retoma   várias instâncias de ação, como assuntos fundamen- Vasconcelos vemos um conjunto de cinco retratos
 de existência (formando, junto com a independência   essa estrutura dialógica para tentar coletivamente   tais da contemporaneidade, tais como colonialismo,  de mulheres fortes, na lida, cujo drama só se torna

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