Page 49 - ARTE!Brasileiros #61
P. 49

EXPOSIÇÃO SÃO PAULO














































 Emilia Estrada, El Interior es un invento de las orillas [O interior é uma invenção das margens], 2022  Daniele Rodrigues, Ribeira (da série Sobre a terra), 2020














 evidente quando se lê a legenda da imagem, que traz   imagético. Ali, uma ampla seleção interage com dez   Em tempos de ameaça à precária democracia bra- do mar repleto de caveiras e que parece não apenas
 seus nomes (Dona Bia, Rosa, Dijé, Glorinha e Antonia)   obras icônicas do modernismo, de ídolos como Tarsila   sileira e de retrocesso político evidente, destacam-se   mostrar que não somos o país do futuro, como pro-
 e a informação de que que fazem parte de um trágico   do Amaral e Lasar Segall. Estes trabalhos considera-  em toda a exposição aqueles trabalhos que tocam   metia a mística modernista, como temos ainda muitos
 grupo, o das Juradas de morte.  dos fundamentais para a história da arte brasileira são   mais cirurgicamente na ferida do autoritarismo, como   acertos de contas com o passado a fazer.
 Esses encontros, que permeiam quase toda a expo- mostrados virtualmente, por meio de reproduções   o núcleo de correspondências de Ariel Ferrari, filho
 sição, adquirem uma potência ainda mais radiante no   em caixas de luz, sublinhando seu caráter espectral.   de León Ferrari, às vésperas de seu assassinato pela   homenagem
 núcleo que funciona como uma espinha dorsal de todo   Como conta André Pitol, curador-adjunto da exposição,   repressão argentina. Mas as violências surdas, ligadas   Além da mostra, que fica em cartaz até abril de 2023,
 o esquema, uma espécie de “tradução do conceito   juntamente com Yudi Rafael, o processo de escolha   a temas incontornáveis como colonização e diáspora   o projeto Parábola do progresso contará ainda com
 no espaço físico”, como explica Lisette. Trata-se de   desses trabalhos icônicos ocorreu em função da sele-  são praticamente onipresentes. Manifestam-se em   a publicação de um livro com ensaios escritos pela
 uma trama de obras de tempos históricos, instala- ção das obras mais contemporâneas, algumas delas   telas impactantes, como Invasão do Alemão, de Márcia   curadoria e um rol de convidados. A edição previa a
 das na longa parede ao fundo do espaço expositivo.  comissionadas especialmente para o evento, como   Falcão, no gesto crespo e figuração potente de Elson   publicação de uma série de registros fotográficos da
 Esse entrecruzamento de temas e períodos recebeu o   se o presente interpelasse o passado em função das   Junior, ou em obras de caráter mais alegórico, como   exposição, realizadas por Rochelle Costi, que morreu
 nome de Parábola, em referência ao título geral e que   questões pertinentes na atualidade. “Procuramos dar   Odoyá, de Ani Ganzala, que figura Iemanjá e suas   precocemente, vítima de um atropelamento no final
 remete tanto à representação geométrica da curva   uma resposta ao modernismo de maneira ampliada”,   devotas. A orixá nada em meio a belo mar repleto de   de novembro, que deve ser mantida e transformada
 como à força simbólica da narrativa e do símbolo   explica ele.   peixes, que se soltam de seus cabelos, sobre um fundo   em um tributo à artista.

 48                                                                                                      49
   44   45   46   47   48   49   50   51   52   53   54