Page 42 - ARTE!Brasileiros #61
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
que seus jogos de linguagem estão sempre presentes. se comunicam por meio da centralização do corpo
A consciência do corpo como percepção poéti- e do eu. A série Procuro-me (2003) surgiu natural-
ca chega mais forte para Lenora quando participa da mente quando ela passava diante de um quiosque
exposição Mulheres radicais (2016), na Pinacoteca, instalado em frente a um cabelereiro, no Shopping
com curadoria de Andrea Giunta e Cecilia Fajardo-Hill. Iguatemi, onde as pessoas podiam ser fotografadas
A coletiva reunia cerca de 100 artistas com obras pro- com cabeleiras. “Eu achei aquela situação insóli-
duzidas entre 1975 e 1985. “Todas se manifestavam a ta, engraçada, curiosa e resolvi fazer”. A fotoper-
partir do corpo, corpo suporte de expressão, corpo formance foi publicada no caderno Mais!, da Folha
ideal a partir do corpo”, como define a artista, que se de S.Paulo, e evoluiu para outros desdobramentos.
identificou fortemente com elas. Quando acontece o ataque às Torres Gêmeas, ela
A ludicidade envolve a série A máscara de mão (2017), assiste pela tv pessoas desesperadas procurando
composta por objetos nascidos quando ela frequenta, umas às outras. Com isso, inventa diferentes autor-
por acaso, um estúdio nos Estados Unidos. “Eu não retratos que lembram cartazes de pessoas desapa-
tinha a menor intenção de trabalhar com argila, porque recidas, colados em lugares públicos. As fotos são
até aquele momento eu pensei, não tenho nada a ver diferentes entre si e não revelam a verdadeira Lenora.
com isso”. No entanto, um dia, ao pegar um bloco de Essas imagens incomodam. Em 2002, alguns carta-
barro, foi trabalhando pelo avesso, por trás. Chega zes de Procuro-me, colocados na fachada do Centro
aos movimentos de criar orifícios que foram repetidos Universitário Maria Antônia, foram vandalizados pelo
e fizeram surgir A máscara de mão, para ser calçada grupo Art-Attack, que confessou o estrago. Agora, essa
como luvas, supostamente individual, mas que, ao se obra assume um protagonismo positivo no processo
FOTOS: ROMULO FIALDINI | REPRODUÇÃO ora real ora imaginário, traz um repertório de indaga- pretar a obra de Lenora de Barros, que em cada mostra
de implantação da nova montagem do acervo da
sociabilizar performaticamente, ganha chancela liber-
exposta permanentemente em alguns locais do museu.
de que qualquer objeto pode falar uma língua secreta.
Acima, Lenora de Barros, Procuro-me, 2002; na pãgina ao lado, tadora. Com esse trabalho Lenora reafirma a máxima Pinacoteca. Procuro-me, entre outros trabalhos, está
videoperformance A Cara. A Língua. O Ventre, 2022 O conceito que compõe o inventário de Lenora, Para além da expressividade e do desafio de inter-
ções que perpassam de uma obra a outra e coloca o
provoca novas interpretações de acordo com a situação
temporal, a exposição se abre para reflexões atualizadas
olhar atento em outros registros cognitivos. A artista
42 altera a percepção da arte com questionamentos que sobre um novo começar. 43